Laboratório #03
– Alô?
– Oi, Tiago. É a Aline.
– O quê que você quer?
– Você trocou a senha da Netflix, Tiago?
– Troquei.
– Nossa, que mesquinharia. Acho que não era pra tanto.
– Eu acho até pouco. Mas é bom bater onde dói mais.
– Credo, Tiago, que ruindade! E o tempo todo que a gente passou junto, não vale nada não?
– Deixou de valer no momento em que você me mandou embora da sua casa aquele dia.
– É que nossa relação estava ficando muito séria…
– Tanto que eu compartilhei com você minha senha da Netflix.
– … e eu ainda sou muito jovem para…
– Nem tão jovem assim, né, Aline? 29 nas costas…
– … e eu pensei que a gente pudesse ao menos ser amigo.
– Mané amigo o quê. Agora só sou amigo de quem joga bola. E você não se enquadra. Além do mais, não é confiável.
– Oh! Quê isso!? Agora você me ofendeu! De onde você tirou essa ideia?!
– Tirei… vou te contar. Lembra quando a gente tava na casa do Bruno em Ibitipoca? Em janeiro?
– Sim.
– Você assistindo “Vikings” no tablet? E eu fui tentar ver “Orange is the new black” no celular? E eu tentei conectar e não consegui?
– O quê que tem?
– Eu descobri que você passou minha senha pra sua irmã, Aline. Você compartilhou a minha senha, a nossa senha, com uma terceira pessoa.
– Mas Tiago, a Andreia estava…
– Não importa, Aline. Não importa. Não se compartilha algo tão íntimo como a senha da Netflix, dada a você em ato de boa fé e amor, com outra pessoa. Nem se fosse o Papa. Nem se fosse sua mãe em chamas. Nem se fosse a Gal Gadot pedindo de joelhos vestida de Mulher Maravilha. Não pode. Não dá.
– Tiago, não é…
– Foi um golpe tremendo na nossa relação, Aline. Eu não falei nada na época, mas ali eu descobri que a gente não teria futuro mesmo não.
– Mas, Tiago…
– Não há mais o que conversar, Aline.
– Mas…
– Adeus.
– Tiago…
– …
– Só até eu acabar “House of Cards”?