Bem-vindos os embriagados


Por Wendell Guiducci

17/07/2018 às 07h00

Acabou a Copa. E se uma coisa os engravatados da Fifa souberam fazer ao desenvolver o sistema de disputas, foi tirar o Mundial da gente aos poucos. Assim, sem muito trauma. Desmamando. Como quem trata um viciado.

Porque a Copa começa com uma intensidade feroz, vertiginosa, dias e mais dias de jogos, estádios lindos, públicos lindos, gramados lindos, futebol lindo, tudo brilha, e mesmo aqueles que não ligam muito para o esporte bretão, nesses tempos, pegam-se comentando os três gols de Cristiano e o tento salvador de Toni Kroos.

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Os tibungos gramáticos de Neymar.

Então, de repente, depois de duas semanas de louca euforia, ocorre um dia sem jogos na Copa. Trememos. E depois, dois dias sem Copa. E então mais dois dias. Assim vamos sendo tratados, por obra e graça dos doutores da Fifa.

Controla-se a abstinência. Diminuem os calafrios. Já começamos a pensar novamente em bolsominions. Cirão da Massa. Segue o Líder e adjacências.

França campeã, alguns esquecerão de vez aqueles dias de temulência e retomarão suas rotinas. Os apaixonados continuarão torcendo por seus clubes, mais uma dose, é claro que eu tô a fim. Os indiferentes seguirão alheios ao Brasileirão, à Libertadores, à Copa do Brasil, ao Tupi, ao Baeta, à apresentação de Vinícius Junior no Real Madrid. Limpos há não sei quantos dias.

Seguem caretões.

Outros, todavia, antes abstêmios, foram fisgados. Não deveriam ter experimentado. Agora, chumbados por aquela aleatória paixão disparada em roleta russa, verão no futebol, qualquer futebol, a oportunidade do êxtase.

E engrossarão as fileiras, as nossas fileiras, dos ébrios que encontram no ludopédio pequenas e constantes explosões de prazer.

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Que sejam bem-vindos em nossa embriaguez.

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