Essas delícias


Por Wendell Guiducci

03/04/2018 às 07h01- Atualizada 03/04/2018 às 07h32

Eu me lembro de um pão com mortadela e Q-Suco de uva no Bar do Dinho, Praça Getúlio Vargas, Ubá, Minas Gerais. Depois da pelada, descalço, na quadra escaldante do ginásio.
Churrasquinho ao largo do Maracanã, Rio de Janeiro.
Pastel da Mexicana na esquina da Rio Branco com Independência, sempre Independência, Juiz de Fora, Minas Gerais. “Valeu, artista.”
Costelinha com angu e couve em Bichinho, distrito de Prados, Minas, sempre Minas.
Lembro de um capuccino em uma praça ensolarada cujo nome nunca soube, em San Remo, Itália. Quase atropelado por uma vespa. “Aqui não é Paris.”
E um pão com maionese e salaminho e Fanta laranja num quarto de pensão em São Paulo, capital. Muitos pães com maionese e salaminho e Fanta.
O porco gritando e virando chouriço e linguiça e costelinha e pernil de natal em Miragaia, distrito de Ubá, Minas Gerais. Ali, ao lado do chiqueiro, era Jesus, peão agregado, quem bebia o sangue. Não em cálice, mas em caneca de esmalte. Hóstia não havia, graças a Deus.
Fish and chips com um copão de cerveja escura no The White Horse Pub, em Heathrow, Inglaterra. “There are bugs in my room”, gritava uma dona na recepção do hostel.
Caldinho de camarão na orla de Recife, Pernambuco.
Robalo ao molho de mostarda em Ubatuba, litoral norte de São Paulo. Na brasa. Em casa.
Arroz, feijão, farinha, carne seca e coentro às margens da BR-367, Araçuaí, Minas Gerais. (à medida que se ruma para o Norte, diminuem os vidros de azeite e aumentam os de pimenta)
Uma cachaça, várias cachaças em Salinas, Minas Gerais.
Um café dentro de um quadro de Van Gogh, Arles, França.
Cachorro-quente no Loallapalooza Brasil 2013. Uma Heineken, várias Heinekens.
O primeiro prato mexicano da vida, num finado Tex Mex, Curitiba, Paraná.
Um copão de feijão com chili na falsa e animada Bourbon Street de Orlando, Estados Unidos. (o chef, olho mais azul que Sinatra, convidou para comer na cozinha e ensinou a receita. nunca acertei a mão)
Bobó de camarão sobre o canal de Cabo Frio, Rio. E em Salvador e Porto Seguro, Bahia.
Rocambole em São João del-Rei, Minas Gerais.
Cerveja de vinho em Blumenau, Santa Catarina.
E uma colher de azeite puro em Garzón, Uruguai.
Suco de inhame com limão galego em Belmiro Braga, Minas.
Pizza assada no forno a lenha socado em um trailer na praça central de Saint-Maximin-la-Sainte-Baume, França, num domingo frio e vazio de estranhos após a última missa da noite.
Yakult sentado no chão de terra batida da calçada enquanto o torvelinho fazia subir o poeirão das ruas não-pavimentadas de Suzano, São Paulo. (lembro ou imagino)
O primeiro hambúrguer após servir mesas à beira do Rio Ubá, Minas de novo.
Mariscos em Madri, Espanha.
Tapioca com Pau do Índio em Olinda, Pernambuco.
Caranguejo na orla de Jaboatão dos Guararapes, Pernambuco.
Ostras vivas em algum lugar da Paraíba.
E o insuspeitamente saboroso misto-quente do Cemitério Municipal, Juiz de Fora, Minas Gerais.
(até dali há alguma boa memória pra se arrancar a dentadas)

Os comentários nas postagens e os conteúdos dos colunistas não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é exclusiva dos autores das mensagens. A Tribuna reserva-se o direito de excluir comentários que contenham insultos e ameaças a seus jornalistas, bem como xingamentos, injúrias e agressões a terceiros. Mensagens de conteúdo homofóbico, racista, xenofóbico e que propaguem discursos de ódio e/ou informações falsas também não serão toleradas. A infração reiterada da política de comunicação da Tribuna levará à exclusão permanente do responsável pelos comentários.