Quem falou que o sapo é feio? (Paradigmas empresariais de nossa região)

Certas verdades não podem durar para sempre. O simples fato de sermos questionadores já implica em uma mudança, mesmo que essa seja apenas comportamental


Por Carlos Frederico Corrêa Ferreira, analista do Sebrae Minas

06/08/2019 às 08h00

O meio empresarial é rico em propagar certas crenças e mitos que, a longo prazo, acabam se tornando uma neurose coletiva ou uma verdade perigosa.

Em um mundo competitivo e veloz em suas mudanças, acreditar em uma proposta por muito tempo é a mesma coisa que não acreditar em nada. Não que algumas crenças e valores possam se perpetuar ao longo do tempo (ainda mais se forem benéficas), mas, em algum momento, elas terão que ser revistas ou atualizadas. Algumas verdades do século passado ainda fazem parte do cotidiano do empreendedor de nossa região de uma maneira muito presente. Quem nunca ouviu esta frase de alguém? – “Em nossa região nada dá certo”; ou a minha predileta: “Em nossa região não rola dinheiro”.  Pergunto: Será verdade? Será que isso já não está velho demais para servir como uma crença? Será que isso prejudica o esforço contínuo de pessoas que buscam novas ideias e soluções? Será?

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O simples fato de sermos questionadores já implica em uma mudança, mesmo que essa seja apenas comportamental. Na minha visão, o que mais precisamos é rejuvenescer nossos conceitos. Quem disse que a economia da nossa região movimenta poucos recursos? Quem falou que o sapo é feio? Pessoas visionárias não ficam presas a certos paradigmas que pretendem ser eternos. Empreendedores verdadeiros, além de trabalhar duro, também valorizam rupturas. Mas, apesar de todo o espírito empreendedor, muitos ainda se perguntam como podem alcançar resultados em uma região onde o jogo é partilhado por jogadores viciados em uma forte crença negativa. Aqueles que estão contaminados não param de repetir seus mantras prediletos (citados acima), contaminando assim toda uma região. E aqueles que não se deixam contaminar sofrem por não terem forças suficientes para quebrar estes paradigmas.

Afinal, em quem e em que acreditar? Prefiro crer que certas verdades não podem durar para sempre. Também, que nossa região tem tudo o que precisa para ser uma das mais promissoras do estado. Temos aqui grandes empreendedores do passado, do presente e do futuro. Uma massa de jovens dispostos a mudar qualquer situação, um nível educacional elevado, proximidade com grandes centros, comércio e prestação de serviços diversificados, indústrias interessadas em se instalar, empreendimentos e investimentos na área da saúde superiores à média brasileira, iniciativas e programas de incentivo à inovação e tecnologia, riqueza cultural e muitas outras variáveis que podem se transformar em vantagens competitivas em qualquer tempo. Mas, é claro, também existem dificuldades.

A questão é: Por que acreditar para sempre que o sapo é feio? Não seria melhor para todos propagar casos de sucesso e meios de vencer as dificuldades? Para ser mais direto, não podemos aceitar como verdade algo que não é necessariamente uma verdade para todos. Várias pesquisas publicadas em mídias de circulação nacional apontam nossa região como excelente para se fazer negócio. As pessoas de fora já propagam isso e começam a ter resultados por aqui, enquanto os locais repetem a mesma ladainha de sempre, sem sair do lugar. O risco está aí!

Eu, pelo menos, faço a minha parte. Não caio mais nessa armadilha. Acredito de verdade que independentemente de crises, cultura e crenças locais, existem grandes oportunidades de sucesso. O empreendedor é um “ser transformador”, capaz de lutar por seus sonhos, ao mesmo tempo em que aprende com seus erros e dificuldades. Nada, portanto, em sua visão é definitivo. O que é ruim hoje pode ser bom amanhã e vice e versa. Tudo vai depender de como encaramos os obstáculos e barreiras mercadológicas, sociais, econômicas e culturais. Visto isso, você acredita mesmo que o sapo é feio?

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