Lounge 2016


Por Júlia Pessôa

31/12/2016 às 07h00

Bowie foi chegando meio deslocado. Ainda ia demorar para que os portões fossem abertos e ele, enfim, pudesse se juntar a velhos parças. Lennon, Freddie Mercury e George Harrison… e já queria há uns tempos fazer um som com BB King de novo. Avistou George Martin, de repente ele toparia produzir. Àquela altura, tinha pouca gente no Lounge 2016. Bowie  acendeu um cigarro e ficou vendo o movimento, rindo de uma figura peculiar recém-chegada, tal de Shaolin. Não demorou muito e a atenção se desviou: entrou Alan Rickman, a quem o camaleão do rock confessou ser um tanto potterhead, fã absoluto de Snape.

Era bom ver o salão cheio de vida – perdão pela ironia da palavra. Lá pelas tantas, Ettore Scola e Hector Babenco batiam boca sobre suas “versões do diretor” do registro do badalo. Babenco ficou pau da vida e saiu, Scola não deu a mínima: “Segue o baile”, pensou. Abbas Kiarostami, expert em abordar conflitos e tolerância, gravou o momento e já pensava em um roteiro. Do Brasil, chegaram preocupados os atores Umberto Magnani e Domingos Montagner. Ambos haviam saído da novela “Velho Chico” antes do previsto e ficaram com medo de deixar a Globo na mão. Pescoçando a conversa, Fidel Castro deu uma baforada no charuto e bradou: “Fuera, Globo Golpista!”.

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Prince chegou causando de motoca e dizem até que contratou um efeito pra chover roxo durante sua entrada. A cena deu o que falar a noite toda, para a tristeza de George Michael, que pensou que ia chegar chegando. Foi papear com Leonard Cohen, que quase saiu no tapa com Cauby Peixoto pelo cover tosco de “Hallelujah” no palco do lounge. Felizmente, Muhammed Ali apartou. Guilherme Karan estava meio baixo astral, mas resolveu curtir o momento depois de topar com Ferreira Gullar, que sempre soube que a vida não basta. Nem precisava dizer, mas o salão parou quando Elke Maravilha o adentrou, ô mulher pra saber fazer entrada!

Do nada, a festa encheu. Chegou um povo bonito ainda no pique de uma noitada de Orlando, e uma galera de uniformes verdes começou a bater uma bolinha, com imprensa cobrindo e tudo. Daminhão Experiença estava meio atordoado, achou que estava no Planeta Lamma, só depois caiu a ficha. Gene Wilder veio abanando seu bilhete dourado, mas logo descobriu que não precisaria dele para onde ia. Diz a lenda que Orival Perisseni espalhou que estava com um punhal na barriga. Umberto Eco chegando, viu que há muitos mais mundos possíveis do que a semiótica poderia conceber. Carrie Fisher foi ovacionada pelos fãs da saga Star Wars, e se emocionou quando a mãe, Debbie Reynolds, veio tentando alcançá-la: “Não aguentei de saudades”.

Foi chegando muita gente, dizem até que foi um dos anos mais cheios. Quando os portões se abriram e os convidados de 2016 puderam se juntar aos outros, Dercy Gonçalves, quando viu a tropa, disse algo que nem eu nem você temos ouvido:”2016 foi bom pra cara….” e emendou-se uma sonora queima de fogos.

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