Byte coração
Na última quarta, o Brasil todinho foi dormir sem WhatsApp e ficou boa parte de quinta também sem ele. Ainda que eu seja aficionada por tecnologia, confesso que fiquei aliviada e animada com a possibilidade de um “detox”, mas admito também: assim que o sistema voltou, lá estava eu, com fogo nos dedos, digitando como se não houvesse amanhã. No meio tempo em que o bichinho agonizava, foi interessante observar a reação das pessoas, e ver, como, de fato, o iconezinho verde no celular afeta mais nossa vida do que imaginamos.
Muito se falou em sistemas pra burlar o bloqueio e manter o app funcionando, em aplicativos alternativos e teve muito chororô sobre o ocorrido. De outro lado, tinha gente meio que “comemorando” a queda do sistema, dizendo que era a chance para termos um contato mais “real” com as pessoas, de “olharmos nos olhos”, e por aí vai. Achei exagero, das duas partes.
Concordo que é um saco viver em tempos em que os olhares estão para baixo, de olho na tela, não coincidentemente na direção do próprio umbigo. Mas acho também que a gente não pode demonizar a tecnologia, isentando nós mesmos de culpa. Temos livre-arbítrio para escolhermos se o toque que queremos é no touch screen ou o que vem de um abraço. Existe absolutamente nada que nos force ou hipnotize em direção aos pixels e bytes, rendemo-nos a eles por vontade própria. Não adianta culpar o WhatsApp (nem xingá-lo de “Zapzap”).
Digo mais: não é porque as peles não se encontram e os olhares não se cruzam que o encontro é menos significativo. Vivemos tão longe e tão cheios de barreiras entre nós que, muitas vezes, uma mensagem no WhatsApp pode nos confortar, alegrar, divertir e tocar muito mais do que abraços insossos e conversas de elevador. E convenhamos: mesmo entre quem está logo ali ao lado, não é com todo mundo que queremos uma conversa “olho no olho”, não sejamos hipórcritas.
Quando esta coluna voltar a ser publicada, já teremos dado “Feliz Natal” a várias pessoas, ou para os poucos chegados, ao pé do ouvido, por um gif ou texto, tanto faz. O que eu desejo a todos nós é que a gente ganhe um embrulho farto das coisas que nos fazem sorrir sozinhos na rua quando nos invadem o pensamento, seja uma mensagem ou um afago das pessoas que amamos. Como brinde, espero que a gente saiba reconhecer e transmitir o amor em todas as suas formas, dos bytes aos beijos. Não importa como chega o que só nos faz felizes.