Ele, O TREM, passa devagar e despercebido quando cruza a Avenida Barão do Rio Branco.

Possíveis alternativas ao projeto de transposição da linha férrea em Juiz de Fora. A importância da relação custo/benefício para a população de Juiz de Fora. Uma contribuição ao debate.


Por André Zuchi

18/08/2017 às 00h01- Atualizada 18/08/2017 às 12h26

Foto do arquivo de Eduardo Tipotti, da inauguração em 1982 do “Mergulhão”

Mas não foi sempre assim. A foto(1) da inauguração do “mergulhão” há quase 35 anos sempre me provocou reflexões. Primeiro, pela ousadia e foco no futuro do Prefeito Mello Reis, inaugurando uma intervenção urbana muito contestada à época de sua construção, mas fundamental. Segundo, por passar pelo local frequentemente e não perceber que o trem está cruzando a principal avenida da cidade sem maiores transtornos.

Fico pensando se realmente devemos retirar a linha férrea da nossa convivência, obra conhecida como “transposição da linha férrea”, ou continuar insistindo nas intervenções de forma a promover o “confinamento” do leito ferroviário, preservando-o para usos alternativos no futuro e aumentando a segurança para a população. Intervenções conhecidas como “Obras Viárias” já em execução, apesar da enorme lentidão. Problema que atinge a gestão dos investimentos públicos.

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Observo que o debate neste sentido, muitas vezes acalorado e recorrente, foge à racionalidade econômica que o tema requer. Ou seja, a necessidade de uma eficiente alocação dos recursos públicos, que são escassos, buscando a maior relação custo/benefício possível para a população. Assunto de compêndio de economia, mas relevante. Me pergunto. Não existiriam alternativas para os recursos da transposição da linha férrea e posterior ocupação do leito?

Considero, também, que a ocupação do leito da ferrovia é relevante na discussão. A história apontou o erro. O encerramento das atividades da Estrada de Ferro Leopoldina não foi seguido de uso alternativo e racional do leito, principalmente nas cidades. O que restou? Ocupação desordenada e invasões. Portanto, o debate sem a ocupação do leito é parcial. Atende mais aos anseios políticos imediatos do que a racionalidade econômica combinada com as necessidades da população e a definição de prioridades, num ambiente de recursos públicos escassos para investimentos.

Vou ousar e sugerir, no intuito de contribuir, possíveis alternativas de projetos visando a melhor alocação destes recursos escassos. Todas resultariam em melhorias na qualidade de vida da população e qualificariam a cidade, tornando-a mais competitiva. Projetos existem, foram elaborados, porém necessitam ser revistos, adequados e, alguns, refeitos.  Acredito que a soma dos recursos necessários, mesmo sem colocar na ponta do lápis – coisa de economista -, é menor do que os custos da transposição e ocupação do leito. Buscar alocar os recursos da transposição nestas possíveis alternativas deve estar presente no debate. Vamos a elas.

A primeira seria a implantação do “transporte público troncalizado”. Apesar da experiência malsucedida e abortada no passado, não só por erros de concepção e implantação que poderiam ser facilmente corrigidos, mas também por oportunismo político explícito, deve ser retomada, sempre na direção da constante necessidade de melhoria da qualidade do transporte público para a população.

A segunda seria a urbanização das margens do Rio Paraibuna, complementar ao projeto “Eixo Paraibuna” de despoluição e tratamento do esgoto. Através da criação de ciclovias, áreas de lazer, projetos de ocupação urbana inteligente das margens, um diferencial para recreação e mobilidade urbana, ligando várias regiões da cidade.

A terceira seria a implantação do anel rodoviário, ligando as estradas que cortam o município e região, reduzindo o fluxo de veículos, principalmente os pesados, que circulam dentro da cidade. Como exemplo a ligação da BR040 ao aeroporto regional em fase final de construção e a ligação da BR272 a BR040 na região do bairro Retiro. Esta última apenas uma concepção.

Cidades mundo afora convivem, muitas das vezes de forma harmoniosa, com o trem no seu cotidiano e se desenvolvem com base neste modal.  A linha férrea transporta riqueza, gera empregos, desenvolve regiões, assim como os aeroportos. Não pode nem deve ser o “bode expiatório”, ser responsabilizada pelos graves problemas oriundos da ocupação do solo urbano de forma desordenada. Me pergunto muitas vezes, foi o trem que invadiu a cidade ou a cidade que invadiu o seu leito? Todos sabemos por onde o trem passa, não há surpresas.

Um exemplo recente da importância da linha férrea para o desenvolvimento foi a escolha por um grande grupo empresarial do setor de alimentos da nossa cidade para a instalação de seu parque fabril. Digo isso porque a logística do modal ferroviário foi fator relevante na tomada de decisão dos investidores, surgindo uma parceria entre a empresa e a concessionária da linha férrea.

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A preservação da linha férrea significa uma aposta no futuro, no aumento dos investimentos da concessionária, principalmente em segurança, treinamento, inovação, tecnologia, no crescimento do transporte das riquezas, em mais arrecadação de impostos e na criação de oportunidades de emprego e renda para as novas gerações. O saldo será sempre positivo para a cidade e região.

Vamos em frente, sempre.

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