Um chamado à luta

A camisa com a faixa em arco-íris em vez de negra já seria uma exclamação por si só, mas o manifesto é uma convocação, um grito


Por Gabriel Ferreira Borges

29/06/2021 às 07h00

O Vasco da Gama até pode ser um clube de regatas, mas é mesmo um patrimônio histórico imaterial do Brasil. Qualquer ato normativo para reconhecê-lo como tal seria mera burocracia. Não há como narrar a história do futebol brasileiro sem contar a história do Vasco da Gama, porque seria um esboço mal-acabado. Um borrão em uma folha de papel desgastada em busca de qualquer croqui que negasse a própria realidade. O Vasco é a própria história a contrapelo, é o subúrbio, é a rua, é a gente. Afinal de contas, a história é disputada, não dada. E o clube faz questão de disputá-la. O manifesto “Respeito e diversidade” apenas reforça a grandeza do Cruz-maltino.

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Artilheiro frígido, Cano (à direita) é ardente o suficiente para entender a grandeza da instituição cujas cores leva no peito(Foto: Rafael Ribeiro/Vasco da Gama/Divulgação)

Embora mensurar episódios seja um convite traiçoeiro da história, não há como escapar à urgência. Assim como foi a Resposta Histórica em 1924, o manifesto é o registro mais importante do futebol brasileiro nos últimos anos. A camisa com a faixa em arco-íris em vez de negra já seria uma exclamação por si só, mas o manifesto é uma convocação, um chamado, um grito. O Vasco propõe o confronto à naturalização, à comodidade. O combate à LGBTfobia era, até o momento, apenas uma questão de agenda de comunicação. Mas, ainda que publicações ou números nas cores do movimento sejam relevantes, a realidade impõe atitudes que superem a publicidade. E o manifesto vascaíno é um ponto de inflexão.

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O coro foi endossado por Germán Cano. Paolo Guerrero certa vez foi chamado por Douglas Ceconello de artilheiro triste. Pois Cano é o artilheiro frígido. Mas ardente o suficiente para entender a grandeza da instituição cujas cores leva no peito. O argentino de Lomas de Zamora em tão pouco tempo parece compreender a grandeza do Vasco da Gama melhor do que outros tantos conseguiram nos últimos cem anos. Melhor do que o capitão Leandro Castán, certamente. Quando Cano ergue a bandeira de escanteio nas cores da bandeira LGBTQIA+, dá um recado para Castán, mas não apenas para o zagueiro. O recado é para uma categoria que foge a qualquer luta que não seja o árduo calendário brasileiro.

O Vasco tem a obrigação de encabeçar qualquer movimento por respeito e diversidade. Mas não pelos Camisas Negras, não por São Januário. Pelo tamanho da instituição. O dever é o mesmo de Flamengo, Fluminense e Botafogo. De São Paulo, Corinthians, São Paulo e Santos. De Atlético e Cruzeiro. Bahia e Vitória. A luta é pelos milhões de torcedores que arrastam por todo o país, pelos jogadores que deixaram ou deixam de respaldar. A briga é por compreender que as lutas da vida se dão também e, sobretudo, no futebol.

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