Landim não é Chepot do Flamengo


Por Gabriel Ferreira Borges

26/05/2020 às 07h11

“Quando voltou de Harvard, no final de 1994, Landim tornou-se o Chepot da área nobre da produção da Petrobras – a Bacia de Campos (…). No dialeto petroleiro de lá, Chepot significa ‘Chefe da Porra Toda’. Era a primeira vez que a região de Campos tinha um gerente-geral de Exploração e Produção. Antes, eram três. ‘O primeiro Chepot fui eu, porra’, disse Landim, orgulhoso. (…). Foi o cargo de que mais gostou, até hoje.” Landim é Rodolfo, atual presidente do Flamengo. E o trecho é da reportagem “A baleia branca de Rodolfo Landim”, da “piauí”, assinada pelo saudoso Luiz Maklouf Carvalho, de janeiro de 2011. Mas, Landim, o Flamengo não é a Bacia de Campos. E ser seu presidente não é ser Chefe da Porra Toda. O clube tem símbolos inerentes à própria história.

Landim mal era conhecido antes de assumir a vice-presidência de Patrimônio do Flamengo em 2013, quando Bandeira de Mello iniciou o primeiro mandato à frente do clube. Pouco conhecido continuou por conta da “irrelevância” da pasta se comparada ao futebol. Mesmo quando se lançou ao pleito de 2018 ainda era estranho aos rubro-negros. Porém, entre executivos da Zona Sul carioca, era bastante conhecido. Após 26 anos de carreira na Petrobras, Landim fora, por alguns anos, braço direito de Eike Batista na MMX Mineração e Metálicos, com quem entrou em litígio judicial posteriormente. Antes, o posto mais alto de Landim havia sido a presidência da Petrobras Distribuidora. Ironicamente, no governo Luiz Inácio Lula da Silva, endossado pela então ministra das Minas e Energia, Dilma Rousseff. O presidente do Flamengo era próximo de Delcídio Amaral, quem o apresentou a Eike, aliás.

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Landim não era conhecido no funcionalismo público e, posteriormente, no mercado, por sua empatia. Como também não o é como presidente do Flamengo. “Numa greve que entrou para a história, em maio de 1995, Landim tratou os grevistas sem muito jogo de cintura. Até plataforma marítima ocupada, no Campo de Enchova, ele retomou. Para os dirigentes sindicais, entre eles o geólogo Henyo Barreto (…), o apelido de Chepot ganhou mais três letras: FDP”, detalhou Maklouf. Landim parece não ter melindre algum em transitar pelos corredores do Palácio do Planalto. Pelo contrário, aliás. Antes cotado para a presidência da Petrobras por Lula, agora é o fiador do bolsonarismo no equivocado plano de retomar as atividades esportivas a qualquer custo.

Não há críticas a Landim por manter, enquanto presidente do Flamengo, uma interlocução com a presidência da República, mas, sim, por ser o avalista de Bolsonaro, cuja única plataforma é a necropolítica, em retomar as atividades em meio a mil mortes diárias por coronavírus. O Flamengo perdeu o massagista Jorge Luiz Domingos, o Jorginho, de 40 anos de casa, para a Covid-19; Mário Veríssimo, amigo de Jorge Jesus, foi a primeira vítima fatal em Portugal. No entanto, desde que não seja a sua, a morte parece não assustar Landim. E nem a empatia lhe apetece. O Flamengo nunca esteve tão associado à ideia de morte como agora, pois a mesmíssima gestão foi deflagrada com a morte de dez adolescentes em um incêndio. Landim entrará para a história como o presidente mais obscurantista da centenária história do clube.

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