A banalização do Clássico da Amizade

Botafogo e Vasco da Gama entraram em campo no último domingo, mas nem Marcelo Chamusca nem Marcelo Cabo sabe por quê


Por Gabriel Ferreira Borges

18/05/2021 às 07h00

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Botafogo e Vasco, inclusive, inauguram a fórceps um novo capítulo do sóbrio romance, já que o clássico será disputado pela primeira vez na segunda divisão (Foto: Vítor Silva/Botafogo/Divulgação)

Um clássico é um clássico porque é irracional. Basta por si só, independentemente das circunstâncias envolvidas. O contexto já está posto pela história. Mas a eventualidade é uma condição inegociável. O clássico é excepcional, extraordinário. Não pode ser banal embora qualquer hábito tenha a própria magnitude. Botafogo e Vasco da Gama entraram em campo no último domingo (16) no Estádio Nilton Santos. Voltarão a se enfrentar no próximo, mas em São Januário. Porém, nem Marcelo Chamusca nem Marcelo Cabo sabe por quê. Rubens Lopes dirá que se trata da finalíssima da Taça Rio do Carioca caso seja perguntado. Mas não há qualquer glamour em uma copa de consolação.

O Vasco, veja bem, encerrou a fase classificatória do estadual na quinta colocação. O Botafogo, na sétima. O Cruz-maltino pode confirmar a vantagem no confronto com apenas um empate ou qualquer vitória mínima. Mas não é que enfrentará Flamengo ou Fluminense para brigar pelo título. Tampouco o Pouso Alegre pelo distinto Troféu Inconfidência-Carioca. Caso confirme o favoritismo, o Vasco ganhará a taça da quinta colocação do Campeonato Carioca. A mesma posição confirmada já na fase classificatória do regional. Aliás, serão quatro jogos a mais para confirmar o que já estava atestado – foram outros briosos 180 minutos diante do Madureira. As taças Guanabara e Rio são mera burocracia, resquícios de uma identidade em vias de ser perdida.

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Não é necessário que Heleno de Freitas e Mané Garrincha ou Ademir de Menezes e Roberto Dinamite estejam em campo para que haja um Clássico da Amizade. Assim como guerras não precisam de muitos motivos. Simplesmente acontecem. Ambos, inclusive, inauguram a fórceps um novo capítulo do sóbrio romance, já que o clássico será disputado pela primeira vez na segunda divisão do Campeonato Brasileiro. É lá, naqueles eternos 180 minutos, que a luta por dignidade será travada. O mais desavisado dos alvinegros e cruz-maltinos pode até alimentar fé nenhuma no acesso, mas desde que a desgraça do rival seja servida ao fim da temporada.

Até lá, qualquer edição do confronto é artigo de secos e molhados. Morato e Sousa até podem subir o tom, mas a Taça Rio pouco lhes interessa. A Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro, em busca de acomodar em uma falsa hierarquia duas instituições tradicionais, apenas banaliza um clássico às vésperas do centenário. E não há como escapar à resignação diante do Clássico da Amizade. O futebol carioca enxerga no espelho o reflexo do próprio Rio de Janeiro. Vasco e Botafogo denunciam a calamidade das ruas. Qualquer breve honraria será mesmo mera consolação.

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