Um maquiavélico

Sem nenhuma testemunha, Diego Alves apontou para Danilo como quem questionasse a integridade do jovem volante, um neófito, um imberbe


Por Gabriel Ferreira Borges

13/04/2021 às 07h00

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O maquiavélico Diego Alves recolocou o Flamengo na disputa de pênaltis quando o time caminhava para repetir a derrota contra o Racing de Avellaneda (Foto: Alexandre Vidal/Flamengo)

Weverton estava fincado de pé, na divisória da grande área, enquanto Luan se encaminhava para a marca da cal. Acabara de defender a penalidade cobrada por Matheuzinho, até então um dos réus em um tribunal do júri no qual 40 milhões de pessoas condenariam uma carreira precoce. Não que Luan estivesse livre de qualquer acusação. Apenas as respondia em outra comarca. Afinal, carrega nas pernas há quase três anos, dia sim, outro também, toneladas de ressentimento pela negligência diante de Darío Benedetto em La Boca. Ali, o beque estava a segundos da absolvição. Se marcasse, encerraria uma disputa de pênaltis que, salvo um erro seu, talvez nem tivesse sido deflagrada.

Mas Luan trazia desde a intermediária três Palestras Itália sobre os ombros. Quando chutou, Weverton, que esquecera a situação hedionda do companheiro, já se projetava para erguer os braços e comemorar o título alviverde. Entretanto, Diego Alves, cuja ficha corrida é a distância entre Almeria e o Rio de Janeiro, adiou pela eternidade de poucos minutos a comemoração palestrina. Weverton, então, incrédulo, apenas puxou parte da camisa para tapar o rosto. Seria precipitado dizer que, naquela altura, o arqueiro sucumbira, porque Weverton tem a frieza de um militar de infantaria. Se defendesse a cobrança de Vitinho, o próximo a fiar a agonia de milhões de rubro-negros, fazia valer a vantagem construída, como também salvaria Luan da prisão perpétua.

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No entanto, Vitinho contrariou a expectativa irrevogável, absoluta de uma nação inteira para dar sobrevida ao Flamengo. Mas a peregrinação rubro-negra era tamanha que o Palmeiras ainda dependia apenas de si para erguer a Supercopa. Danilo, um colosso impávido, que botara o Alviverde novamente no jogo na segunda etapa, tinha nos pés o fardo de outros milhões, a explosão arrebatadora de um consórcio de desesperados. Segundos lhe separava do êxtase, quando, sorrateiramente, ao se lançar para o descarrego, Diego Alves saltou em sua direção para lhe conter o ímpeto, interromper o gozo, trazê-lo para a realidade em que a apoteose era apenas uma pequena miragem.

Sem nenhuma testemunha, o arqueiro rubro-negro apontava para Danilo como quem questionasse a integridade do jovem volante, um neófito, um imberbe. Leandro Vuaden, sem saber ao certo o teor da queixa, se por demora ou pela posição da bola na marca da cal, até se aproximou de Danilo para entender o que se passava, mas já era tarde. Nada de errado havia. Mas é que Danilo perdeu completamente o esteio e a urgência lhe furtara o tempo para recuperá-lo. Ele, então, desconcertado, atirou na trave a última tentativa alviverde de evitar as alternadas. Ali, irremediavelmente, estava posto: cedo ou tarde a Supercopa escorreria pelos dedos palmeirenses.

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