Jean Pyerre é 8, não 10


Por Gabriel Ferreira Borges

06/04/2021 às 07h00

Desde que Thiago Neves deixou o Grêmio, Jean Pyerre veste a camisa 10. Mas Jean Pyerre não é um camisa 10, como era Tita naquele Grêmio campeão da Libertadores da América de 1983. Grêmio de Renato Portaluppi, aliás, que, dizem em Porto Alegre, quer Jean Pyerre mais próximo à área adversária. O meio-campista até tem finalização precisa de média distância, o que lhe credenciaria para atuar mais próximo ao gol. No entanto, Jean Pyerre é um 8. Um 8 elegante, refinado, que precisa conduzir a bola de frente como um latifundiário que conhece cada palmo de terra, não um 10 que deva recebê-la entre travas alheias.

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Jean Pyerre (centro) recebeu a 10 por sugestão de Renato Portaluppi, que poderia buscar acomodá-lo como 8, na verdade (Foto: Lucas Uebel/Grêmio FBPA)

Jean Pyerre, inclusive, dispensa a linhagem dos meio-campistas recentemente revelados pelo Grêmio. Walace, aquele campeão olímpico, é o tradicional cabeça de área, um 5, embora técnico, longe de ser um açougueiro, como Dinho – desde já peço desculpas aos gremistas. Há Arthur, que fora vendido ao Barcelona como um meio-campista da escola espanhola por acaso encontrado em Goiânia. Na primeira oportunidade, o Barcelona se livrou de Arthur. Ainda na Juventus a pecha do meio-campista é ser pouco objetivo, dar passes apenas para os lados. Matheus Henrique é parecido a Arthur, mas a sua titularidade ao lado de Maicon é indiscutível no Olímpico.

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Mas Jean Pyerre, ao contrário de Arthur e Matheus Henrique, não se furta de arriscar um passe objetivo, que tirará ao menos dois jogadores do lance – sendo um afrontosamente ao alcançar nada após esticar a perna para interceptar a bola. No último nacional, Jean Pyerre só não deu mais passes decisivos por jogo do que Claudinho, Vinícius e Arrascaeta. O meio-campista de Alvorada é um 8 raro de se achar por essas bandas, desses esguios, de pernas longas, passadas largas, que carregam a tacha de preguiçosos ou indolentes quando emergem entre uma década e outra. Gerson, à época de Fluminense, recebia a mesma crítica.

As críticas a Jean Pyerre ganharam coro desde que Renato renunciou ao estilo consagrado pela Libertadores da América de 2017 que rompeu o dogma aguerrido do Grêmio – há mais tempo do que o próprio treinador canta nas entrevistas. Jean Pyerre é um desperdício em um time cujo arrimo são Kannemann e Geromel, além de perseguições longas. O problema do Grêmio não é Jean Pyerre, mas, sim, Renato Portaluppi preteri-lo por César Pinares e até Thaciano, um crime hediondo seja em Farrapos ou em Água Branca.

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