Até quando a negligência?


Por Gabriel Ferreira Borges

01/10/2019 às 07h11- Atualizada 01/10/2019 às 07h12

Diante de seis mil pessoas, bicampeonato brasileiro da Ferroviária, sobre o Corinthians, nas penalidades máximas, neste domingo (29), em pleno Parque São Jorge, seria, naturalmente, o evento mais expressivo do futebol feminino no fim de semana último. Entretanto, a 3ª rodada do Campeonato Carioca, às sombras do nacional, fora como um lembrete azedo. No sábado (28), o Flamengo – Marinha, na verdade – derrotou o Greminho por atordoantes 56 a 0. Embora semifinalista do Campeonato Brasileiro e principal agremiação fluminense, a Marinha está longe de ser o suprassumo da modalidade. Verdade seja dita, a goleada é um eufemismo do Carioca.

São 29 associações divididas em seis chaves na competição. Como parâmetro, em 2017, eram apenas sete; em 2018, 11. O aumento repentino deve-se à opção da Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro (Ferj) em organizar um campeonato sem critério algum. Desde clubes profissionais a times de ligas regionais amadoras participam. Tão óbvio quanto cruel, o desequilíbrio é exposto sumariamente nos marcadores: na 2ª rodada, o Vasco derrotou o Bela Vista por 19 a 0; o Fluminense, por sua vez, ganhou de 23 a 0 do Rogi Mirim. Além de minar a competitividade do certame, a Ferj interrompe o desenvolvimento da modalidade, desestimula o interesse de jogadoras e despreza patrocinadores.

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Na passada A Palo Seco, em Éramos Sete, discutimos a imposição do custeio de taxas de arbitragem e de quadros móveis da Federação Mineira de Futebol (FMF) às agremiações participantes do estadual. A profissionalização da modalidade não pode ser mera exigência; deve ser planejada e implementada. A maioria dos clubes é amadora, deveras, pois a modalidade carece de fomento. Entretanto, apenas separar o joio do trigo é insuficiente. O mínimo a ser feito pelas federações é dar subsídios à profissionalização das agremiações.

As conquistas do futebol feminino brasileiro têm sido alcançadas na marra; por insistência, sobretudo. Tanto as federações quanto a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) são morosos. Reagem apenas quando estão com as calças nas mãos diante da opinião pública. E as concessões são oferecidas com relutância. O inchaço do Carioca é uma contrapartida aos votos para a reeleição à presidência, diga-se; o Mineiro é organizado, mas as taxas de arbitragem fogem à conta; e a demissão de Vadão é acatada, mas a permanência de Marco Aurélio Cunha, inegociável. Até quando a indolência?

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