China: enxergando longe e acreditando no Brasil, mas sem almoço grátis

Por Conjuntura e Mercados Consultoria Jr.

02/06/2015 às 07h00 - Atualizada 01/06/2015 às 19h22

Em um contexto de restrições orçamentárias, o Governo brasileiro vem cortando investimentos em setores considerados ‘estratégicos’. Além dos cortes governamentais, setores como construção civil, óleo e gás passam por um cenário de grandes incertezas, com as investigações da operação “Lava jato”. Nesse momento delicado, onde ninguém parece poder nos ajudar, eis que surge a China. Com uma taxa média de investimento em torno de apenas 16% do PIB, nível muito abaixo dos países emergentes mais dinâmicos, o Brasil acena e agradece o capital chinês voltado à infraestrutura.

O financiamento recente de US$ 3,5 bilhões, feito pelo Banco de Desenvolvimento Chinês à Petrobras no início de abril, chega num momento em que a empresa enfrenta um endividamento elevadíssimo e muitas dificuldades para obter recursos emitindo títulos e ações.Mas a ajuda chinesa não para por aí. A presidente Dilma Rousseff já anunciou a criação de um fundo administrado pela CEF com US$ 50 bilhões vindos do Banco Industrial e Comercial da China (ICBC) para investimento em infraestrutura.

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Segundo a Apex-Brasil (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos), entre 2004 e 2014, a China investiu US$ 50 bilhões no Brasil. Um levantamento realizado pelo Conselho Empresarial Brasil-China (CEBC) mostra que, somente em 2015, os investimentos chineses no Brasil já chegam a US$ 53 bilhões por aqui. Se antes esses investimentos eram concentrados em commodities brasileiras e na pequena participação de empresas chinesas na exploração de petróleo do pré-sal, agora, têm natureza bem distinta. A maior parte do capital investido em empresas brasileiras não visa fazer do país uma grande plataforma de exportações, mas também fortalecer o mercado interno brasileiro. Nos últimos 12 meses, empresas chinesas fecharam 37% mais acordos aqui do que no ano anterior, segundo dados compilados pela empresa Bloomberg, nas mais diversas áreas.

Mas o que será que a China quer de nós em troca do voto de confiança? Em primeiro lugar, o país almeja expandir sua área de influência e tornar o yuan uma moeda de referência global, a exemplo do iene japonês até a década de 90. E o Brasil é um grande mercado – produtor e consumidor.Em segundo, com um volume de reservas internacionais da ordem de US$ 4 trilhões, a China também precisa diversificar suas aplicações. Apesar de já ser uma parceira comercial relevante, os crescentes investimentos por aqui elevam o relacionamento entre os dois países a um novo estágio, em que o Brasil amplia sua filiação internacional à economia chinesa e afasta-se proporcionalmente dos tradicionais centros provedores de liquidez e IEDs (investimentos estrangeiros diretos). Além disso, em troca do apoio, vê seu papel geopolítico na América Latina se reduzir diante do avanço da influência chinesa. Para o bem ou para o mal, a China chegou para ficar, também por aqui.

Colaboraram Beatriz Machado, Josiele Nunes, Renan Guimaral, Jailson Pires e Karina Belarmino – email para: cmcjr.ufjf@gmail.com

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Luciane Faquini

Luciane Faquini

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