Economia derrapando, poucos carros novos nas ruas

Por Conjuntura e Mercados Consultoria Jr

17/03/2015 às 07h00 - Atualizada 16/03/2015 às 17h46

O ano de 2014 foi desanimador para o setor automotivo. Segundo dados da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), entidade que reúne as empresas fabricantes de autoveículos com instalações industriais e produção no Brasil, na comparação 2014/2013, as montadoras tiveram queda de 15,3% na produção e de 7,1% nas vendas, o que levou à redução de quase 7% no número de pessoas empregadas no setor (foram demitidos 12.400 trabalhadores, 1.500 apenas em dezembro. Segundo a Força Sindical, essa é a maior dispensa em 16 anos, quando o setor cortou 22.200 postos de trabalho no Brasil). Na esteira do mau momento econômico, o financiamento de automóveis de passeio, motocicletas e veículos usados também caiu 5,4% em 2014 ante 2013, segundo a Unidade de Financiamentos da Cetip.

As manifestações populares ocorridas em junho, as eleições presidenciais e os dias úteis a menos destinados à Copa do Mundo podem justificar parte da piora no setor. Entretanto, o principal vilão é o aumento dos custos das famílias, decorrentes da inflação, do reajuste de tarifas ocorrido em 2015 e dos juros mais elevados. Com a queda do preço do petróleo em níveis mundiais, o preço da gasolina nas refinarias do Brasil, por exemplo, está quase 70% acima do preço da referência internacional do produto, segundo cálculos do Centro Brasileiro de Infraestrutura.

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Além da demanda enfraquecida, gargalos à oferta do setor ainda existem. A infraestrutura para escoamento da produção e a pesada carga tributária são alvos de frequentes reclamações pelas montadoras. O benefício da redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para incentivar o setor, que durou dois anos e meio, acabou em 1º de janeiro de 2015. O IPI para carros populares subiu de 3% para 7%, gerando um impacto médio de 4,5% nos preços dos automóveis. Em 2015, o reajuste do IPI, a alta nos juros do financiamento (a Selic, taxa de referência da economia brasileira, saiu de uma mínima de 7,25% em outubro de 2012 para 12,75% em março de 2015) e menos subsídios do BNDES são fatores a prejudicar ainda mais as vendas.

Para 2015, no último dia 5, a Anfavea divulgou os resultados do boletim referente à produção da indústria automobilística nos primeiros dois meses deste ano. O setor apresentou uma queda na produção de cerca de 29% no mês de fevereiro quando comparado ao mesmo mês do ano passado. Além disso, os resultados mostraram uma contração de 2,3% na produção de veículos e de 1,4% no número de pessoas empregadas no mês de fevereiro quando comparado a janeiro, que já é um mês tradicionalmente fraco. Mesmo considerando que fevereiro teve menos dias úteis, os números indicam que o cenário atual do setor passa por um momento delicado.

Em relação às importações, o número de licenciamentos de veículos novos importados apresentou queda de 33% em fevereiro quando comparado ao mesmo mês do ano passado. No mesmo período, os valores recebidos com exportações também decresceram 6%. Porém, na esteira da rápida desvalorização do real frente ao dólar e euro ocorrida em fevereiro, observa-se nesse mês crescimento de 46% frente a janeiro nos valores em exportações – indo de 484 milhões de dólares para 711 milhões de dólares.

De acordo com a Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave), a projeção para o setor é de um declínio de 7% nas vendas de automóveis e utilitários leves em 2015. Fevereiro já registra estoques de 329 mil unidades, ante 325,2 mil registradas em janeiro. Em tempos de economia derrapando, poucos carros novos devem deixar os pátios esse ano.

Por: Breno Mendonça, Julyara Costa, Guilherme Cardoso, Tamires Tosta, Maria Eduarda de Paula
email para: cmcjr.ufjf@gmail.com

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