Mostra de Cinema de Tiradentes chega ao fim com a expectativa de um novo futuro para o audiovisual

26ª edição do evento terminou no último sábado, elegendo os melhores filmes eleitos pelos júris jovem, oficial e popular; conheça as produções premiadas


Por Cecília Itaborahy, sob supervisão de Carolina Leonel

30/01/2023 às 14h27

Durante pouco mais de uma semana, de maneira anual, Tiradentes se torna a capital brasileira do cinema. Existe, nesse tempo, uma urgência de viver e conhecer que exala para além das montanhas da cidade histórica: chega a outros lugares do mundo, ainda mais com a possibilidade de transmissão on-line de parte da programação. Neste 2023, especialmente, os mais de 700 convidados, além dos entusiastas do cinema que passaram por lá, vibravam pela volta do evento de maneira presencial: o que ficou visível nos abraços demorados e nas confraternizações que varavam a noite. Isso tudo sem deixar de lado o motivo desse grande encontro: o audiovisual, seus caminhos e suas novas perspectivas.

Os 134 filmes que foram exibidos, de todo o Brasil, apresentaram um panorama completo da contemporaneidade, com seus modos de fazer diversos, respaldados, quase sempre, no cinema mutirão: a palavra-chave desta edição. Foi uma ode ao cinema brasileiro, à coletividade e ao novo caminho que se instaura com o retorno do Ministério da Cultura (Minc). Cada parte do que é fazer cinema e viver disso ficou demarcada no Fórum de Tiradentes, que resultou em uma carta com diretrizes e possibilidades a ser encaminhada ao Minc ainda em fevereiro. “Tudo o que fazemos brota da alma”, declarou Raquel Hallak na cerimônia de abertura da mostra, no dia 20.

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Passaram por Tiradentes, do dia 20 ao dia 28, importantes nomes da arte brasileira como um todo. Ney Matogrosso apareceu ao lado de Helena Ignez no filme “A alegria é a prova dos novo”, o novo longa da atriz que retorna uma história dos anos 1960 de maneira política e feminista. Severino Dadá, um dos grandes montadores do Cinema Novo, se viu como personagem de um documentário, o “O cangaceiro da moviola”, de Luís Rocha Melo. Jesuíta Barbosa encenou um dos filmes mais poéticos e sensíveis da edição, o “A filha do palhaço”, de Pedro Diógenes. Gabriel Martins, o diretor de “Marte um”, mostrou-se um baterista aclamado quando subiu ao palco com sua banda, Diplomattas. Isso entre um tanto de gente que participou da mostra pela primeira vez e pode ver seu filme em uma sala grande, também pela primeira vez.

Filmes premiados

Para coroar o cinema, no sábado (28), aconteceu a premiação dos filmes que participaram das mostras competitivas. “As linhas da minha mão”, de João Dumans, que codirigiu o filme “Arábia”, foi o grande vencedor da Mostra Aurora, que se dedica a selecionar filmes de realizadores com até três longas na carreira, com trabalhos estéticos e narrativos representativos. Essa mostra contou, no total, com sete filmes. “As linhas da minha mão” é um documentário experimental, e a justificativa do júri oficial foi: “(é) um cinema que convida a desenquadrar o sujeito para além de uma categoria, de conceito ou signos fechados. O quadro se torna a abertura de uma pessoa que a todo momento desafia a noção de bordas, expande limites e se prova uma fabuladora maior que a vida”. Foi o segundo ano consecutivo que um filme realizado em Minas Gerais foi premiado na categoria.

O júri jovem deu o Troféu Carlos Reichenbach a “O canto das amapolas”, de Paula Gaitán, que fez parte da Mostra Olhos Livres. “(O filme) nasceu de uma necessidade bruta de se entregar ao mistério das imagens – não apenas uma fresta: abre todas as janelas que por tanto tempo sua mãe pedia para fechar”, defendeu os estudantes que foram esse júri na justificativa.

Helena Ignez é, também, o nome de um prêmio que destaca mulheres em qualquer função nos filmes das mostras Aurora e Foco. Nesta edição, Edna Maria, protagonista do filme “Cervejas no escuro”, de Tiago A. Neves, foi a escolhida. Júri oficial alegou: “espontaneidade como a marca de interpretação com precisão cinematográfica. Mais do que possibilitar o filme, a presença radiante de uma atriz muda uma comunidade”.

Na Mostra Foco, de curtas-metragens, o júri oficial elegeu o filme “Remendo”, de Roger Hill. O curta também teve sua estreia internacional, concomitante ao festival de Tiradentes, quando parte da equipe marcou presença no 52º Festival Internacional de Cinema de Rotterdam, na Holanda. Os jurados afirmaram: “esse filme desenrola-se de um modo criativo, em diálogo estreito com a forma como nos relacionamos e nos construímos enquanto povo e coletividade. Desenho de som inventivo, direção de arte apurada, diálogos inteligentes e estrutura bem arquitetada fornecem o alicerce para um senso de humor sem fronteiras que brinca com clichês e expressa uma arqueologia de mídias audiovisuais”. Esse mesmo curta ganhou o Prêmio Canal Brasil de Curtas.

Os espectadores do festival também votam em algumas categorias. O júri popular escolheu como vencedor dos longas “A filha do palhaço”, de Pedro Diógenes, e, nos curtas, “Nossa mãe era atriz”, dos mineiros André Novais Oliveira e Renato Novais de Oliveira

Um júri especial é formado para analisar os filmes da Conexão Brasil CineMundi, que premia longas em processo de corte, ainda não finalizados. “O estranho”, de Flora Dias e Juruna Mallon, venceu o Prêmio O2 Play. O prêmio foi entregue, de acordo com os jurados, “pela narrativa que apresenta uma personagem com um olhar fora do comum – alguém que ocupa constantemente o espaço da história – atrelada a uma fotografia de olhar simples mas que incita a reflexão do espectador”.

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“As muitas mortes de Antônio Parreiras” (RJ), com direção de Lucas Parente, levou o Prêmio DOT The End. Oferecido pelo Festival de Málaga na Conexão Brasil CineMundi, a categoria WIP Exibição foi para “Idade da Pedra” (SP), de Renan Rovida.

Confira os vencedores em cada categoria:

Melhor curta-metragem pelo Júri Oficial, Mostra Foco: “Remendo” (ES), direção de Roger Hill
Prêmio Canal Brasil de Curtas: “Remendo” (ES), direção de Roger Hill
Prêmio Helena Ignez para destaque feminino: Edna Maria, atriz, “Cervejas no escuro” (PB)
Melhor longa-metragem pelo Júri Jovem, da Mostra Olhos Livres, Prêmio Carlos Reichenbach: “O canto das amapolas” (RJ), de Paula Gaitán.
Melhor longa-metragem da Mostra Aurora, pelo Júri Oficial: “As linhas da minha mão” (MG), de João Dumans.
Melhor longa-metragem pelo Júri Popular: “A filha do palhaço” (CE), de Pedro Diógenes
Melhor curta-metragem pelo Júri Popular: “Nossa mãe era atriz” (MG), de André Novais Oliveira e Renato Novais Oliveira
Prêmio O2 Play: “O estranho” (SP), de Flora Dias e Juruna Mallon.
Prêmio DOT The End: “As muitas mortes de Antônio Parreiras” (RJ), de Lucas Parente
Prêmio Festival de Málaga: “Idade da pedra” (SP), de Renan Rovida.

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