Inflação: análise e expectativas futuras
No último semestre, a inflação brasileira interrompeu a trajetória de sucessivas acelerações, de modo que a taxa de variação acumulada em doze meses, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) e divulgada pelo IBGE, recuou de 11,9%, em junho, para 5,9%, em novembro. Já no acumulado do ano, a variação apontada pelo IPCA é de 5,1%.
Esse resultado, reflete, em grande parte, os preços administrados que constituíram o maior ponto de descompressão inflacionária (4,1%), repercutindo não só a desoneração dos combustíveis (-25%) e da energia elétrica (-19,2), mas também a queda das cotações das commodities energéticas no mercado internacional e o aumento no nível dos reservatórios.
No caso dos preços livres, o bom desempenho deste grupo deve-se ao comportamento dos bens industriais, acompanhado por uma trajetória mais favorável das commodities metálicas no mercado internacional, da apreciação cambial e do processo de normalização das cadeias produtivas, que vêm reduzindo os custos de produção, de modo que a performance dos bens industriais acumulada em doze meses recuasse de 12,6% para 9,8%, em novembro de 2022. Em relação aos alimentos no domicílio, os dados mostram que a inflação acumulada em doze meses deste grupo chegou a 13,3%, em novembro.
Mesmo diante de um cenário mais benevolente para as commodities agrícolas, a forte alta dos produtos in natura, dos panificados e dos leites e derivados explicam a alta dos preços dos alimentos em 2022. Embora a trajetória de pressão inflacionária dos serviços livres tenha se iniciado em 2021, nota-se que esse movimento se intensificou ao longo deste ano, cuja taxa de variação de preços avançou de 5,1%, em janeiro, para 7,9%, em novembro.
Para 2023, as estimativas estão baseadas na continuidade deste processo de desinflação pelo qual a economia brasileira vem passando. A taxa prevista é de 4,9%. Para os preços administrados a expectativa é de um comportamento híbrido. Os principais aumentos devem repercutir os reajustes contratuais da energia elétrica, dos planos de saúde e das tarifas de transporte público. A taxa de variação desses preços projetada é de 5,6%.
Em relação aos preços livres, a expectativa é de desaceleração da inflação em todos os segmentos deste grupo de bens e serviços (5,2%). Mesmo diante da piora do cenário externo e do aumento do risco sobre a taxa de câmbio, espera-se que a queda dos preços das commodities no mercado internacional, associado à normalização das cadeias produtivas, deve conter as pressões sobre os bens e serviços de preços livres.
Cabe ressaltar que esse processo de desinflação em 2023 depende tanto de fatores internos como externos. Pelo lado externo, o prolongamento do conflito entre Rússia e Ucrânia pode reverter a trajetória favorável das commodities, sobretudo do petróleo e dos cereais. Enquanto o lado interno pode elevar os riscos inflacionários através das incertezas relacionadas à política fiscal e afetar negativamente a taxa de câmbio.