Infectados relatam persistência de sequelas da Covid-19

Saiba de que maneira a doença pode impactar a saúde do indivíduo e em que casos é preciso consultar um especialista


Por Elisabetta Mazocoli, estagiária sob supervisão da editora Rafaela Carvalho

13/02/2022 às 07h00

A enfermeira Alvanir Andrade, de 54 anos, ainda sente dores nas costas e cansaço; tosse também persiste cerca de um mês após a infecção (Foto: Arquivo Pessoal)

Tosse, febre, dor de garganta e dor de cabeça devem sempre chamar a atenção em tempos de pandemia, pois são sintomas recorrentes de Covid-19. Mas para quem foi infectado, é preciso reforçar a cautela, pois o quadro pode ir além: por vezes, esses sintomas podem persistir mesmo após 14 dias da infecção e com realização de teste com resultado negativo. De acordo com especialistas, isso pode ocorrer, inclusive, nos casos em que a doença não foi grave, já que as sequelas do coronavírus variam bastante e ainda estão sendo descobertas. Nas infecções pela variante Ômicron, inclusive, a persistência dos sintomas mesmo após o término da infecção também já está sendo observada. Autoridades em saúde alertam ainda que as sequelas podem exigir cuidados médicos, principalmente em casos que o indivíduo já contava com alguma comorbidade.

O infectologista Marcos Moura explica que os sintomas da infecção pelas variantes do coronavírus são bem similares, inclusive nesse momento pós-covid, mas podem ser amplos. “Uma infinidade de sintomas podem ser associados à Covid-19. Mas, muitas vezes, as pessoas não sabem que isso pode ocorrer”. Entre as sequelas, ele cita que é possível observar doenças cardiovasculares, pneumopatias, doenças dermatológicas e neurocognitivas. Mas há sintomas mais comuns e que tendem a permanecer mesmo depois que a pessoa testa negativa, como a tosse, por exemplo. Além disso, ele revela que podem ocorrer “problemas neurocognitivos como depressão, ansiedade e falta de concentração associados ao momento pós-covid. Como o próprio cenário da pandemia como um todo também provocou esse tipo de problema, muitas pessoas não sabem que esse sintomas ainda podem estar relacionados à doença”.

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É o caso de Ana Carolina Monteiro, 22, estudante de biologia, que testou positivo para a Covid-19 no começo de 2021. Ela não teve febre ou dificuldade respiratória, mas o cansaço que sentiu durante a doença permaneceu mesmo meses após ter sido infectada. Ela passou a sentir, também, dificuldades de memória e confusão mental. Mas a situação chamou ainda mais a sua atenção quando ela passou a ver tufos de cabelo caindo enquanto tomava banho, e percebeu que seu organismo tinha sofrido uma mudança. “Um ano depois, alguns desses sintomas ainda permanecem. Eu sinto dificuldade de concentração de uma forma que não sentia antes. Tem coisas cujo cheiro nunca mais voltou a ser o mesmo. É difícil de explicar”, diz.

Em dezembro de 2020, quando Raphael Domingos, 23, estudante de jornalismo, foi infectado, a principal mudança em sua vida foi devido à perda do olfato e do paladar. “Nos primeiros meses, (a perda do cheiro) foi completa. Depois passei a sentir cheiros e gostos diferentes para certos alimentos, principalmente frituras, café e bebidas alcoólicas”, conta. Atualmente, ele explica que só às vezes sente o gosto diferente, mas não tem certeza se é por uma melhora ou por ter se acostumado com a situação.

Já Alvanir Andrade, enfermeira, 54 anos, foi infectada recentemente, em janeiro, com a variante Ômicron. Mesmo essa sendo considerada uma variante mais branda, e Alvanir já tendo voltado para a sua rotina, ela conta que ainda apresenta sintomas como dor nas costas, tosse e, às vezes, cansaço. Como faz parte do grupo de pessoas com comorbidade, por ter asma, ela acredita que essa permanência pode estar ainda mais pronunciada por isso.

Quando buscar ajuda médica

Estudante de Biologia, Ana Carolina Monteiro, de 22 anos, foi infectada há um ano, mas ainda tem dificuldade de se concentrar (Foto: Arquivo Pessoal)

De acordo com o infectologista Marcos Moura, toda pessoa que apresentar os sintomas descritos deve buscar orientação médica. Ele explica que “mesmo com o diagnóstico, o médico pode avaliar e fazer uma consulta focada no caráter terapêutico e no prognóstico daquele paciente. Isso leva a um melhor monitoramento e identificação, inclusive para saber se a pessoa precisa ficar em casa ou ter uma avaliação hospitalar”. Dentre os sintomas mais preocupantes, estão os que apresentam danos ao sistema respiratório, dor no corpo e falta de ar.

Moura também explica que, com a Ômicron, um dos sintomas mais comuns tem sido a dor de garganta – o que representa uma diferença em relação às variantes anteriores. Além disso, sintomas como o de Raphael e Ana Carolina, que ainda sofrem com a perda de olfato e paladar, não são mais comuns com a nova variante.

Cuidados importantes

Gosto diferente em alguns alimentos é a principal sequela percebida por Raphael Domingos, estudante de 23 anos que teve Covid no fim de 2020 (Foto: Arquivo Pessoal)

O infectologista também alerta que, além dos cuidados com os protocolos de saúde, pois há risco de reinfecção, após ter a doença é interessante tomar alguns cuidados com a saúde para que a recuperação possa ser completa. Ele alerta que “principalmente para as pessoas que sofreram mais, é preciso fazer uma boa hidratação e ter um momento de descanso para poder voltar às atividades de forma adequada”.

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Para aqueles que têm doenças de base e ainda estão demonstrando qualquer tipo de sintoma, o especialista indica que é preciso realizar uma reavaliação médica. Como a Covid-19 afeta a imunidade, há casos em que remédios e cuidados precisam ser alterados.

Tópicos: coronavírus

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