Alerta ao centro
Eleições no Chile apontam para a desorganização das forças de centro, que pode se repetir no Brasil
As eleições chilenas serão decididas em segundo turno, no dia 19 de dezembro, entre os candidatos Gabriel Boric, de esquerda, e José Antonio Kast, da extrema direita, num pleito marcado pela ausência dos ex-presidentes Michele Bachelet, de centro-esquerda, e o conservador Sebastián Piñera – ambos comandaram alternadamente o país nos últimos 16 anos. Os observadores internacionais chamaram a atenção para o terceiro lugar, ocupado pelo economista e engenheiro Franco Parisi, visto como um populista antissistema, que obteve 12,8% dos votos.
Seja qual for o resultado final das eleições, chama a atenção a ausência de um nome de centro, capaz de capitalizar os insatisfeitos com os extremos. Os finalistas têm um discurso definido e totalmente antagônico, numa clara demonstração do desejo de mudança da população.
A lição a ser tirada do pleito chileno é a incapacidade de organização das forças de centro num cenário que se mostra polarizado em várias partes do mundo. A democracia liberal está sendo colocada em xeque, e não há percepção de avanços no cenário internacional. No Brasil, a polarização entre o presidente Jair Bolsonaro e o ex-presidente Lula ganha um novo componente que não altera em nada essa tendência. O ex-ministro Sérgio Moro, que já começa a sair do traço nas pesquisas, não é um candidato de terceira via. Ele é de direita e tem deixado isso muito claro nos pronunciamentos na tentativa de ocupar o espaço do presidente da República.
Chama também a atenção a incapacidade de os partidos que poderiam encaminhar a terceira via se organizarem. O PDT de Ciro Gomes ainda faz o rescaldo do voto de sua bancada a favor do Governo, que levou o candidato a suspender sua campanha, mas o cenário mais grave está no universo tucano. A prévia do partido, no último domingo, que visava definir o candidato à Presidência da República e a conciliação dos pretendentes, esbarrou num impasse tecnológico com repercussões políticas.
O aplicativo emperrou já pela manhã, e não houve técnico que desse jeito, levando à suspensão da votação a ser realizada em nova data – possivelmente no próximo domingo -, mas cuja discussão mostrou a cisão que perigosamente se acentua. O governador João Doria e o ex-senador Arthur Virgílio apresentaram um discurso em contraposição ao do governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite. Embora o cachimbo da paz tenha sido fumado há uma semana, em Porto Alegre, fica difícil prever o que virá pela frente.
Como aconteceu no Chile, a ausência de um nome consistente ao centro pode levar a eleição para a polarização, sob o risco de o país, de novo, enfrentar um cenário de duros embates – o que é do jogo -, mas com sérios problemas nas redes sociais, por onde passam os discursos apartados do viés democrático e as fake news