Reinventar-se e buscar novos caminhos!

Por Jose Anisio Pitico

15/01/2021 às 07h00 - Atualizada 14/01/2021 às 22h48

Minha mãe queria ser professora primária. Era esse o seu sonho. Com a família morando no interior, na cidadezinha, e diante de uma arena familiar historicamente dominada pelo patriarcado, onde a lei era de que estudar não era coisa para mulher. A irmã mais velha foi cuidar das costuras. A outra irmã casou-se primeiro que as outras e foi morar na cidade grande. Casar era uma opção viável e possível que se apresentava às filhas para ganharem liberdade. Era um motivo socialmente aceito para sair de casa, sair dessa prisão. Nem sempre a união para o casamento vinha com a presença de amor de uma pessoa pela outra. Não chegava a ser um casamento encomendado, arrumado ou ajeitado, mas a motivação maior era ser livre. Como elas desejavam a liberdade. Oxalá, fosse possível! As filhas não teriam mais a presença do pai, mas agora passam a ter a voz do marido. Com muitas características parecidas com as do homem, de lá de trás. Como se fosse uma cópia. Com os mesmos caprichos e atos de subordinação impostos à mulher – mais por medo e fantasia (do que de prazer) de que, longe dali, não saberia o que fazer.

Nesse contexto familiar, as duas irmãs dela, mais novas, estudaram um pouquinho, naquilo que a cidade pequena oferecia de escola, e logo logo partiram com a cara e com a coragem para o Rio de Janeiro. Os homens, os irmãos, tinham liberdade para fazer o que quisessem – é preciso considerar que numa cidade pequena, as opções de vida são muito limitadas – e seguiram o pai. Foram cuidar do comércio de animais – boi, porco, cabritos, galinhas. Assim, minha mãe, suas irmãs e muitas tantas centenas e milhares de mulheres tiveram a marca da ignorância do mando masculino na falta de estímulo, respeito e apoio para a realização de seus sonhos. Elas não tiveram uma vida voltada para si. E sim para o pai e/ou para o marido. Até hoje? O sonho de minha mãe de ser Professora Primária que não foi possível, fez com que ela duplicasse em nós, seus dois filhos, dois profissionais com curso superior. Não existe amor maior do que esse. Para sempre mãe, muito obrigado!

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Como a nossa vida é dinâmica e somos capazes de alterar o curso dela, quem constrói nossa vida somos nós mesmos. Observo, para o nosso estímulo, que no envelhecimento de muitas pessoas, ocorre uma retomada, uma mudança na rotina da vida de muita gente. A viuvez representa para muitas mulheres uma carta de alforria. Livre do marido, elas passam a correr atrás do tempo perdido na reconstrução de suas vidas. Na direção de atender aos seus desejos, interesses, gostos e preferências no dia a dia de suas ocupações na vida. Nessa fase da nossa vida, do envelhecimento, muitos planos de vida são re/feitos. Para quem deseja e está atento às suas necessidades emocionais, no passar do tempo, é possível fazer uma nova gestão de sua vida. Principalmente em aspectos que precisam mudar, como, por exemplo, hábitos de vida. Situação financeira. Cuidar mais da saúde. Aumentar os laços sociais. Mudar de casa. A mudança de vida é possível e desejável. Inclusive para o nosso envelhecimento.

A reinvenção de nossa vida só é interessante se a gente chega a uma conclusão de que precisamos mudar de vida. Mudar por mudar, não. A mudança tem que ser consciente. Como ainda acontece no início de novos governos no mundo da política. Tudo que o outro governante fez, a partir do momento que há uma mudança no comando, agora tudo será diferente. Depende. Na gestão municipal, por exemplo, tem muita coisa boa (muitos servidores públicos vocacionados para a função), tem muita coisa que deu certo e que não precisam mudar. Mesmo na nossa vida pessoal, temos muita coisa que está muito bem em nós. Já avançamos bastante em determinada situação da nossa vida. Claro, que na minha opinião, há sempre o que mudar em nós. Ficar atento às nossas reações e relações com os fatos e pessoas com as quais a gente convive. Buscar novas perspectivas de si. Ampliar-se. Reinventar-se. Na linguagem. No olhar. Na sensibilidade. Novos caminhos devem ser percorridos rumo àquilo que nos dê liberdade, compromisso pessoal e bem-estar no respeito às pessoas.

Jose Anisio Pitico

Jose Anisio Pitico

Assistente social e gerontólogo. De Porciúncula (RJ) para o mundo. Gosta de ler, escrever e conversar com as pessoas. Tem no trabalho social com as pessoas idosas o seu lugar. Também é colaborador da Rádio CBN Juiz de Fora com a coluna Melhor Idade. Contato: (32) 98828-6941

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