Homenagem a meu Pai!
Nesse tempo de distanciamento social, que é necessário – diga-se, de passagem – e de guardar o afeto para quando o carnaval chegar, desejo, por aqui, caros leitores e leitoras, abraçar, em memória, o meu pai. José Adalberto da Silva. Peço licença ao meu irmão, Jeter Fernando da Silva, mais novo do que eu quatro anos, para ao escrever sobre o nosso pai, buscar homenageá-lo pela vida que nos deu. Pode parecer estranho esse começo de conversa, mas é que na família, as percepções, as relações afetivas se dão de formas distintas e diferenciadas. Com o mesmo pai e com a mesma mãe.
E falando nisso, buscando ajuda na literatura romântica, posso dizer que em relação aos meus pais, há muitas diversidades de comportamentos e de visões de mundo. Minha mãe, representou o feijão, a visão prática, imediata da vida, do ter o que comer, de ter dinheiro, de estudar, de trabalhar. A importância da disciplina, da pontualidade nos compromissos assumidos, de não ser “pamonha” na vida. Quanto a meu pai. Ele foi para o lado do sonho. Do artista. Foi aquela pessoa que teve os sentimentos reprimidos pela mãe, quando criança, e que ficaram travados na vida adulta. Viu no trabalho com a madeira, no artesanato a sua liberdade. É claro que essa relação com sua mulher foi muito complicada. De gostos e tempos de vida muito diferentes.
Meu pai teve uma profissão regular. Representante comercial. Que viajava para outras cidades para oferecer o que vendia: material de construção, de um modo geral. Ganhava por comissão. Em cada pedido tirado pelo comprador. Guardar dinheiro nunca foi o seu forte. Não tinha vaidades pessoais presentes no seu modo de ser. Na fábula da cartilha infantil que nos orienta para a vida, ele tinha a visão mais para ser a cigarra do que formiga. Do que tinha nas mãos em dinheiro, gastava de imediato. Projetar o futuro – ter metas para daqui a cinco ou dez anos – não fazia parte do seu horizonte, embora, em si, guardasse muitos sonhos, que em nossas conversas familiares, na varanda de casa, dividia com os ouvintes. Como o de ser marinheiro, viajar, ganhar os mares. Ou o de ter uma grande propriedade rural na região do centro-oeste brasileiro.
Sempre lidando com madeira. Que é de onde veio. Seu pai, vô Jão, foi um grande entendedor na arte da carpintaria e referência para a vida do meu pai. Um herói. Assim como ele foi para a gente… E meu pai pegou essa herança no seu DNA para a grande habilidade, até artística, que teve, para desenhos diferenciados no cedro e no ipê. Na madeira, meu pai fez obras extraordinárias. Várias peças para uso doméstico. Gaiolas de grande apelo artístico para apreciadores de ornamentação e de estética.
Nem eu e nem meu irmão visivelmente demos sequência ao que o nosso pai fazia, no sentido de trabalhar com madeira ou ser vendedor de algum produto. O que não quer dizer que ele não está em nós. Mais do que nunca, ele está presente para sempre em nosso espírito. De vários modos. No futebol. Sou flamenguista por causa dele. Adoro futebol. Jogamos bola juntos na Rua General Gomes Carneiro, no Bairro Fábrica, na Rua do Quartel. E no campo (terraço) da Rua Bernardo Mascarenhas. Para enriquecer ainda mais essa parte, o Pedro, neto dele, jogava bola também. Meu irmão não liga para futebol. Mas é um craque com as canetas e lápis nas mãos. Herança do pai! E hoje trabalha com gastronomia.
Ainda para trazer meu pai nessa homenagem, falo do prazer que tenho pela pescaria. Pescaria primitiva. De vara e náilon. De lambaris e piaus, no Rio Carangola, de água fria e de um verde escuro, numa manhã ensolarada, um céu aberto, onde entre pedras maiores e menores, eu acompanhava meu pai, que, de vez em quando, olhava para trás, para conferir como eu experimentava a liberdade, na busca de um melhor lugar, debaixo de uma árvore, para tentar uma pescaria de sucesso. E saber fazer escolhas na vida. Com muita capacidade de observação e com desejo de descobrir o mundo, meu pai fez de nós pessoas honestas e de bem com a vida. Valeu, Daú!