Comerciantes relatam mau cheiro e sujeira na Rua Espírito Santo

Situação, segundo eles, tem sido causada por moradores em situação de rua que circulam na via; problema teria se agravado após interrupção das atividades do Instituto Estadual de Educação, por causa da pandemia do novo coronavírus


Por Vívia Lima

14/04/2020 às 09h47

Fezes e urina estão espalhadas na calçada em frente ao Instituto Estadual de Educação (Foto: Fernando Priamo)

Um banheiro a céu aberto é o cenário que moradores, comerciantes e passantes da Rua Espírito Santo, no Centro de Juiz de Fora, têm percebido na altura do Instituto Estadual de Educação (Escola Normal). A Tribuna esteve no endereço na tarde desta segunda-feira (13) e constatou o problema.
A situação ocorre há pelo menos três meses, mas agravou desde o último dia 17 de março, quando a escola foi fechada em virtude das determinações estaduais no enfrentamento ao coronavírus, quando os moradores em situação de rua passaram a marcar presença mais forte no espaço. A questão expõe ainda as condições em que se encontra essa parcela da população. Enquanto especialistas e o Governo pedem o isolamento social e a lavagem das mãos para evitar o contágio pela Covid-19, eles dormem em locais improvisados, no chão, com pouca ou nenhuma higiene. A Prefeitura, por sua vez, garante serviços de acolhimento, mas encontra resistência destas pessoas.

“Há meses já havíamos percebido a presença deles, uma vez que utilizam o passeio da escola para fazer necessidades fisiológicas. Mas, todos os dias pela manhã, nossa equipe de limpeza jogava água e higienizava o local. Agora, sem estes profissionais, a situação tem se tornado cada vez mais caótica”, detalhou o diretor da Escola Normal, Leonardo Ferreira da Silva.

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Sem saber a quem recorrer, ele chegou a contatar a Polícia Militar, mas foi informado de que a responsabilidade seria da Associação Municipal de Apoio Comunitário (Amac). Nesta segunda-feira (13), Silva fez novamente contato com a instituição. “Falei que a situação está insustentável. Disseram que irão mandar uma equipe para abordá-los.”

Fezes e urina
A situação tem incomodado comerciantes do entorno, como o proprietário de uma padaria que fica em frente à Escola Normal, Sidney Ferreira Dias. “Os moradores se aglomeram na Rua Santos Dumont e vêm fazer suas necessidades em frente à escola. Cheguei, inclusive, a presenciar funcionários do colégio limpando o passeio. Sem aulas, a situação está ainda pior. Além disso, abandonam roupas, objetos, restos de comida. Todo esse lixo prejudica a gente, sem falar nos odores de urina e fezes que eles fazem na calçada da frente”, reclamou, acrescentando que a situação tem gerado incômodo para todos os proprietários de estabelecimentos da via, principalmente aqueles que atuam no ramo alimentício. A rua abriga ainda lanchonetes, outras padarias, bombonieres e restaurantes. “Isso nos traz um constrangimento enorme”, finalizou.

Outro comerciante, que preferiu não se identificar, atribui a queda do seu movimento também à sujeira no local. “Algumas pessoas entram aqui, mas percebo que elas ficam incomodadas com o odor. Se for um dia que tem sol, o problema fica ainda mais evidente. Claro que a movimentação menor de pessoas nas ruas mudou nosso público. Mas isso aqui também contribui para que menos pessoas comprem de mim e dos outros comércios. Eu também ficaria incomodado num local como este, mas sou proprietário e dependo daqui.”

Trabalho conjunto é desenvolvido pela PJF

Por meio de nota, a Prefeitura garantiu ter grande preocupação com esta situação e, por isso, desenvolve, por meio do Serviço de Abordagem Social da Secretaria de Desenvolvimento Social (SDS), um trabalho conjunto entre diversas entidades, como Demlurb, Semaur, Guarda Municipal e Polícia Militar a fim de realizar rondas periódicas para orientar os moradores em situação de rua sobre os serviços da PJF. A Prefeitura reforçou ainda que esses moradores são conhecidos pela equipe de abordagem, mas recusam ofertas para integrar os serviços e programas sociais disponíveis. A nota destaca ainda que, conforme a legislação brasileira, todos possuem direito de ir, vir e permanecer. “Estamos trabalhando em novas alternativas para auxiliar essa situação. Vale lembrar que eles só serão encaminhados caso aceitem”, diz o texto. Qualquer cidadão pode solicitar abordagem social por meio do telefone 3690-7770.

Locais de acolhimento
Como mostrado pela Tribuna, desde o final de março, vários espaços foram adaptados para receber a população de rua durante o isolamento social contra a Covid-19. O Centro de Educação de Jovens e Adultos Doutor Geraldo Moutinho e a Escola Municipal Prefeito Dilermando Cruz Filho estão abertos para acolhimento emergencial de pessoas em situação de rua. Os espaços, localizados, respectivamente, na Travessa Doutor Prisco 57, Centro, e na Rua Altivo Halfeld 44, Bairro Vila Ideal, funcionam 24 horas por dia. Além de acolhidas, as pessoas em situação de rua são informadas sobre o novo coronavírus (Covid-19), bem como os cuidados necessários para prevenção e acesso a higienização e alimentação.

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Tópicos: coronavírus

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