Promotor diz que Juiz de Fora tem 18 casos confirmados de coronavírus

“Nós temos um boletim epidemiológico que está deficiente. Ele não informa o número real de casos de Juiz de Fora. Hoje, nós já contamos com 18 casos confirmados – digo, a última informação, de ontem À noite -, são 18 casos confirmados e 153 casos suspeitos”, disse o Promotor de Saúde Rodrigo Barros, em entrevista à rádio CBN na manhã desta quinta-feira (26). O representante do Ministério Público alertou, em sua fala, sobre a subnotificação da doença e, desta forma, maior propagação do vírus no município.

Conforme Barros, o Ministério Público tem acompanhado o trabalho de combate à Covid-19 pelas gestões municipal e estadual, avaliando diferentes perspectivas, bem como o impacto da curva de crescimento da doença na macrorregião, que engloba Juiz de Fora e outros municípios da Zona da Mata. Para o promotor, há uma deficiência nos boletins epidemiológicos, tanto que os novos casos confirmados e suspeitos demonstram um acréscimo significativo. “Tanto o poder público quanto os serviços privados estão realizando muito poucos testes ainda, ou seja, a expectativa é que exista um número 15 vezes maior do que esse que está sendo oficialmente avaliado através dos testes realizados.”

A apreensão está voltada para o número de leitos de atendimento à população, tanto no serviço público de saúde quanto no privado, com uma expectativa de que os mesmos sejam totalmente preenchidos. “Como vai se dar atendimento aos demais pacientes?”, questiona. Além da questão relacionada à saúde, o MP se atenta, também, ao viés econômico. “Essa questão econômica tem que estar na pauta, porque senão a gente cria um outro problema. O grande desafio é, justamente, essa dosagem entre as medidas de cunho do isolamento social, visando impactar o mínimo possível o SUS e o sistema privado em um espaço de tempo pequeno, e, concomitantemente, possibilitar o funcionamento das atividades e não prejudicar a economia de forma tão forte.”

Após a entrevista à rádio CBN, o promotor de saúde foi procurado pela Tribuna e orientou a reportagem a contactar a Vigilância Epidemiológica. A Tribuna aguarda retorno da Secretaria de Saúde da Prefeitura de Juiz de Fora.

Boletim diário
Também durante a entrevista à CBN, Rodrigo Barros informou que o MP tem sugerido aos representantes da Vigilância Sanitária a possibilidade de um boletim epidemiológico diário. “Existe um processo de comunicação dos dados eletrônicos, dos sistemas do Ministério da Saúde e da Secretaria de Estado de Saúde, que acaba criando um lapso entre a informação do dia e a informação que é publicada pelo boletim do Estado e do Ministério. Isso acaba criando também na população uma falsa sensação de que as coisas estão controladas, mas não estão. Muito pelo contrário, o número de casos confirmados está crescendo, o número de casos suspeitos também está com crescimento significativo, e isso sem contabilizar a falta de testes, porque se nós tivéssemos testando grande parte da população, nós veríamos que esse número é muito maior.”

Números oficiais apontam maior salto de casos suspeitos em Juiz de Fora desde início da pandemia

O município de Juiz de Fora teve o maior aumento de casos suspeitos em um dia desde o início da pandemia de coronavírus, conforme divulgação da Secretaria de Estado de Saúde (SES/MG) desta quinta-feira (26). Desde o boletim anterior, divulgado na quarta-feira (25), a cidade teve 46 novos pacientes com suspeita, chegando ao total de 184 casos suspeitos. Os números de casos confirmados e descartados permaneceram os mesmos, oito e seis, respectivamente. Os números totais são diferentes, portanto, dos divulgados à CBN pelo promotor Rodrigo Barros.

Anteriormente, o maior salto registrado pela pasta estadual havia sido o divulgado na terça-feira (24), quando Juiz de Fora teve 42 novos casos suspeitos em um dia. No informe da última sexta-feira (20), a cidade tinha 57 pacientes em suspeita de contaminação pelo coronavírus. Ou seja, os dados oficiais triplicaram em menos de uma semana no município, mesmo com a estagnação no número de confirmações e suspeitas. Neste momento, Juiz de Fora está entre as oito cidades mineiras com maior quantidade de casos suspeitos.

Números no estado
O novo boletim epidemiológico da SES/MG revelou salto no quantitativo de pacientes em investigação para o novo coronavírus. Conforme informativo da pasta estadual, os números totais saltaram de 14.227 para 17.409 entre quarta e esta quinta-feira. O estado teve, ainda, 20 casos confirmados, alcançando o total de 153 pessoas que testaram positivo para a Covid-19.

A cidade de São João Del-Rei, na Zona da Mata, voltou a constar entre os municípios com confirmações da doença. A cidade havia sido retirada da lista pela SES na última segunda-feira (23), sob justificativa de uma “inconsistência no sistema oficial de informação”. 

Com a alteração, são 19 municípios no mapa mineiro com casos confirmados: Belo Horizonte (96), Betim (3), Boa Esperança (1), Bom Despacho (1), Campos Altos (1), Contagem (2), Coronel Fabriciano (1), Divinópolis (2), Governador Valadares (1), Ipatinga (1), Juiz de Fora (8), Lagoa da Prata (2), Mariana (2), Nova Lima (11), Patrocínio (1), Poços de Caldas (1), São João Del-Rei (1), Sete Lagoas (2),Timóteo (1), Uberaba (3) e Uberlândia (7). Cinco óbitos estão em fase de investigação do município de origem dos pacientes.

Lento ritmo de testagem
Durante esta semana, Minas Gerais apresentou um aumento moderado de casos confirmados. No boletim de segunda-feira, o estado contabilizava 83 confirmações e, desde então, houve 70 novos casos confirmados até a divulgação oficial desta quinta-feira. Entretanto, comparativo entre o número de casos suspeitos e os descartados e confirmados indicam um lento ritmo de testagem – ou da divulgação dos resultados dos testes.

Entre segunda e quarta-feira, houve 50 confirmações e 144 casos descartados para Covid-19, ou seja, 194 resultados divulgados pela pasta estadual. Por outro lado, o aumento de casos suspeitos, no mesmo período, foi de 6.461 pacientes, número mais de 30 vezes superior ao volume de testagens divulgadas.

O baixo volume real de diagnósticos gera alta subnotificação em Minas Gerais, o que, conforme especialistas, dificulta a visualização do quadro real da disseminação da doença no estado. Consequentemente, também fica mais difícil traçar estratégias para conter a proliferação. “Com a escassez de testes, há uma orientação para que apenas os casos graves tenham coleta. Quando a gente faz dessa forma, só vemos a ponta do iceberg”, analisou o infectologista Guilherme Côrtes em entrevista à Rádio CBN na última terça-feira, quando afirmou ser possível que os números reais de infectados seja mais de dez vezes o oficialmente divulgado pela SES.