Visitas a Ibitipoca serão suspensas por 30 dias

Instituto Estadual de Florestas publica portaria nesta quarta; prazo é prorrogável


Por Gabriel Ferreira Borges

17/03/2020 às 22h02- Atualizada 18/03/2020 às 00h41

Preocupação da comunidade é com a reduzida estrutura pública de saúde na vila (Foto: Leonardo Costa)

As visitações ao Parque Estadual do Ibitipoca, em Conceição de Ibitipoca, estarão fechadas por 30 dias, a partir desta quarta-feira (18), em medida de prevenção à pandemia de coronavírus (Covid-19). Confirmada à Tribuna pelo Instituto Estadual de Florestas (IEF), a determinação é válida a todas as unidades de conservação estaduais sob a administração do órgão. A medida está alinhada à decisão do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), vinculado ao Ministério do Meio Ambiente, em suspender a visitação pública aos parques nacionais e às demais unidades de conservação federais. O ato será oficializado no Diário Oficial do Estado de Minas Gerais, nesta quarta, por meio de portaria. Ao fim do prazo, o fechamento das unidades poderá ser prorrogado pelo IEF. Nos últimos dias, bares, pousadas e restaurantes de Ibitipoca anunciaram a suspensão de atividades por tempo indeterminado como prevenção à comunidade local, embora, até o momento, não haja casos confirmados, suspeitos ou descartados em Lima Duarte.

O fechamento do Parque Estadual do Ibitipoca era iminente aos olhos da comunidade local. De acordo com o vice-presidente da Associação de Moradores e Amigos de Conceição de Ibitipoca (Amai), Fred Fonseca, a estrutura pública de saúde na vila é modesta, uma vez que há apenas um pronto-socorro no distrito, com limitações de pessoal e equipamento, e o hospital mais próximo está a 23 quilômetros, em Lima Duarte. “Recebemos em Ibitipoca, no último fim de semana, pessoas de oito nacionalidades diferentes, além de quatro ônibus do Rio de Janeiro. Isso já gera uma expectativa de riscos. Então, temos que ficar muito em alerta. Começamos a trabalhar na questão preventiva. Elaboramos um cartaz com informações como evitar aglomerações, lavar sempre as mãos, não compartilhar utensílios domésticos etc.. A Amai compõe o Conselho Consultivo do Parque Estadual do Ibitipoca e a nossa recomendação era pelo fechamento da unidade, pois achamos prudente.”

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Em julho passado, a capacidade máxima do Parque Estadual do Ibitipoca foi elevada de 600 para mil visitações diárias. Conforme Fred, estes turistas mantêm contato frequente com pessoas idosas no distrito – principal grupo de risco para o Covid-19 – que vendem artesanato e pão de canela, por exemplo. “O que está acontecendo é que justamente as pessoas com mais condições estão entrando em quarentena como se fosse férias. As pessoas estão vendo como momento de lazer. Temos que conscientizar quem tem condição de que não é o momento de viajar. (…) Os moradores de Ibitipoca sempre tiveram muito carinho com os turistas. Só que, neste momento, infelizmente, temos que tomar muito cuidado, porque ninguém sabe a procedência de fato de quem está chegando aqui. Temos que dar um tempo, esperar atingir o pico e a curva dos casos confirmados começar a descer.”

Pousadas e restaurantes fechados

Algumas pousadas e restaurantes de Conceição de Ibitipoca anunciaram a suspensão por tempo indeterminado das atividades comerciais desde essa terça. Adriana Novelino David, cuja única fonte de renda são as hospedagens no Sítio das Hortências, diz que, ao menos desde a última sexta-feira (13), o empresariado local está apreensivo diante da iminência de abaixar as portas. “Até sábado, o parque não seria fechado, porque não havia determinação dos órgãos responsáveis. Porém, todos nós saímos da reunião com 99% de certeza de que teríamos que suspender as hospedagens. É uma questão de consciência. (…) No meu caso, por exemplo, estava apenas esperando a ligação dos clientes para comunicar que não viessem para Ibitipoca. Como o parque agora está fechado, perdemos totalmente o poder. Não tem o porquê receber hóspedes se o principal motivo de visitação ao distrito é o parque. Por que ficaremos abertos?”

Desde terça, o Restaurante Serra Fina, de Márcia Macambira, está fechado por tempo indeterminado. De acordo com Márcia, na última semana, em determinado dia, coincidentemente, recebeu no estabelecimento três casais franceses, dois alemães e pessoas do Estado de São Paulo. “Mexemos com comida. É um restaurante. Recebemos gente do mundo inteiro. Então, não posso colocar clientes, funcionários ou quem quer que seja em risco. Todos estão suscetíveis a isso. Não tem classe social nem nada. A única medida razoável que poderia ter tomado é a suspensão das atividades. Vamos manter as portas fechadas até as coisas se normalizarem e a gente ter segurança de que todos estarão seguros. Clientes e funcionários. (…) Moro em Ibitipoca há 30 anos, já passamos por várias situações, mas não tão longas quanto essa deve ser. Quem trabalha em um lugar turístico, sazonal, aprende com o tempo a manejar as coisas para quando surgirem situações inusitadas. Essa, no caso, não é nem uma coisa pontual. É mundial.”

Paula Gavioli Cunha, proprietária da pousada Canela de Ema, além de suspender as hospedagens, cancelou reservas agendadas até para o feriado de Tiradentes, em 21 de abril. “Tinha cinco reservas para o fim de semana entre os dias 26 e 29 de março, seis reservas – a metade da minha capacidade – para a Semana Santa, e outras do mês de abril, inclusive do feriado de Tiradentes.” Paula está desde o último sábado (14) em casa como forma de prevenção ao Covid-19. “Eu sou radical. Tenho um pátio enorme e um quintal delicioso na roça. Acho que, quem tem a oportunidade e o privilégio de se dar isso, é o mínimo. Não temos que ‘pular da janela’, mas é para ter um pânico no sentido de ficar em casa. Não é para botar fogo no parquinho e mandar as crianças para o play. Claro que as notícias devem ser amorosas também, mas deve haver o alerta. É apenas a ponta do iceberg. Não sabemos o grau do coronavírus, quantas pessoas estão infectadas etc.. Então, se paralisarmos agora e cada um ficar na sua casa, (a situação) vai amenizar dentro de um mês, veremos o quanto aconteceu de contágio e tomaremos as medidas necessárias.”

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Tópicos: coronavírus

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