Dois casos de coronavírus estão em investigação em Minas Gerais

Primeiro caso confirmado da doença está relacionado a brasileiro que esteve na Itália; editor-geral da Tribuna relata preocupação na Europa


Por Carolina Leonel

26/02/2020 às 19h30- Atualizada 27/02/2020 às 10h04

Segundo a Secretaria Estadual de Saúde (SES), até esta quarta-feira (26), foram notificados quatro casos suspeitos de coronavírus (Covid-19) em Minas Gerais; dois foram descartados após realização de exames e outros dois estão em investigação. Segundo a SES, as suspeitas em Minas são relacionadas a duas mulheres, 25 e 57 anos, moradoras de Belo Horizonte. Apesar de o boletim epidemiológico divulgado nesta quarta pela SES não informar sobre outros casos, a Secretaria de Saúde informou, na noite desta quarta, que há uma mulher com possíveis sintomas de coronavírus internada em Juiz de Fora. Três pessoas de uma mesma família também estão internadas em Pouso Alegre, no Sul de Minas, com suspeita da doença. Em todos os casos, há histórico de viagem para a Itália.

Dos dois casos suspeitos notificados pela pasta, a paciente mais velha, residente em Belo Horizonte, apresentou sintomas respiratórios no último sábado (22). A paciente realizou viagem para Dubai, saindo de Belo Horizonte no dia 25 de janeiro, e durante a viagem esteve na Tailândia, Vietnã e Camboja, chegando no último dia 17 ao Brasil.

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Nesta terça, ela apresentou sintomas de síndrome gripal e procurou atendimento médico em hospital privado da capital. Por se enquadrar nos critérios de caso, o hospital realizou a notificação de suspeita de Covid-19. A paciente está internada em isolamento hospitalar da rede suplementar em Belo Horizonte, e o quadro de saúde é estável. As amostras laboratoriais foram coletadas e enviadas para análise.

A paciente de 25 anos também é residente de Belo Horizonte e apresentou sintomas no último sábado. De acordo com a SES, ela tem histórico de viagem recente para a Tailândia, passando no Vietnã, Singapura e fazendo conexão em aeroportos de Abu Dhabi e de Madrid durante seu deslocamento. A paciente está internada em isolamento no hospital Júlia Kubitschek, que faz parte da Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig), em Belo Horizonte, e o seu quadro é estável. A paciente será transferida para o Hospital Eduardo de Menezes (HEM), que também faz parte da rede Fhemig e é a referência para casos suspeitos de coronavírus. As amostras laboratoriais foram coletadas e enviadas para análise.

A pasta pontuou que, apesar dos dois casos suspeitos terem história de viagem à Tailândia e Vietnã, não há vínculo epidemiológico entre eles. Em nota, a SES informou também que todas as pessoas que estiveram em contato com as duas pacientes estão sendo acompanhadas, conforme recomendações técnicas.

20 casos suspeitos no país

De acordo com o Ministério da Saúde, até esta quarta, 20 casos suspeitos de infecção pelo coronavírus estavam sendo monitorados pelo órgão em sete estados do país: Paraíba, Pernambuco, Espírito Santo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo e Santa Catarina. Ao todo, outros 59 casos suspeitos já haviam sido descartados após exames laboratoriais apresentarem resultados negativos para o coronavírus.

Segundo o Ministério da Saúde, os dados estaduais são repassados ao órgão diariamente e atualizados até o meio-dia. Após esse horário, os dados são consolidados, confirmados com os estados e municípios. A previsão é de que concluída a etapa, o Ministério da Saúde continue realizando diariamente, coletiva de imprensa para a divulgação das informações oficiais às 16h.

Homem que esteve na Itália é o primeiro paciente com coronavírus no Brasil

Ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, afirmou que paciente está “bem e com sinais brandos” (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)

O Ministério da Saúde confirmou, nesta quarta-feira (26), o primeiro caso do novo coronavírus (Covid-19) no país e na América Latina. O caso, registrado em São Paulo, é relacionado a um homem de 61 anos. O paciente deu entrada no Hospital Israelita Albert Einstein, na terça (25), com histórico de viagem para a Itália, na região da Lombardia. Um exame preliminar já havia dado positivo para o vírus e, portanto, uma segunda amostra foi enviada para o laboratório Instituto Adolfo Lutz, em São Paulo, para ser realizada a contraprova, que também deu resultado positivo. O Ministério da Saúde, em conjunto com as secretarias de Saúde estadual (SES) e municipal (SMS) de São Paulo, investiga o caso desde então.

De acordo com o órgão, as autoridades de Saúde de São Paulo estão realizando a identificação dos contactantes do paciente no domicílio, hospital e voo, com apoio da Anvisa, junto à companhia aérea. O paciente será mantido em isolamento domiciliar. Em coletiva de imprensa realizada no início da tarde desta quarta, o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, afirmou que o paciente esteve em contato com cerca de 30 familiares após seu retorno da Itália, e que ele não teria feito uso de transporte público no período.

Conforme a pasta, o homem esteve na região da Lombardia, Norte da Itália, país que já registrou centenas de casos, entre os dias 9 e 21 de fevereiro. Ele viajava a trabalho e sozinho. Ao voltar ao Brasil, apresentou sinais e sintomas da doença como febre, tosse seca, dor de garganta e coriza. Apesar disso, o órgão afirma que o paciente está “bem e com sinais brandos”.

Ao confirmar o primeiro caso no país, o Ministro da Saúde reforçou que já era esperada a circulação do vírus, mas que, diferente dos demais países com transmissão, o Brasil ainda não está no inverno – período em que o risco de contágio é maior. “É mais um tipo de gripe que a humanidade vai ter que atravessar. Das gripes históricas com maior letalidade, o coronavírus se comporta à menor e tem transmissibilidade similar a determinada gripes que a humanidade já superou”, explicou. “Nosso sistema já passou por epidemias respiratórias graves. Iremos atravessar mais esta, analisando com os pesquisadores e epidemiologistas brasileiros qual é o comportamento desse vírus em um país tropical”, ressaltou. Na avaliação de Mandetta, o caso do Brasil poderá ditar a dinâmica do vírus no Hemisfério Sul.

O ministro explicou que não há quarentena para as pessoas que vieram no mesmo voo ou que tiveram contato com o paciente com caso confirmado. Segundo ele, será feito monitoramento dos familiares e contato com as pessoas que estavam até duas fileiras à frente e atrás do paciente no avião, informando que houve um caso confirmado do novo coronavírus. Dessa forma, se uma delas apresentar sintomas, deverá buscar uma unidade de saúde.

Editor-geral da Tribuna relata preocupação na Itália

Na Itália, italianos e turistas buscam se proteger com máscaras, que se esgotaram nas farmácias (Foto: Paulo César Magella)

Em entrevista à Rádio CBN Juiz de Fora, o editor-geral da Tribuna, Paulo Cesar Magella, que está na Itália, falou sobre as precauções adotadas no país europeu. O jornalista, inclusive, voltaria ao Brasil na próxima terça-feira (3 de março), no entanto, diante do aumento do número de casos de coronavírus na Europa, ele antecipou o retorno ao Brasil para esta sexta (28). “Estamos em dois casais, agora em Roma, no centro do país. A preocupação maior está no Norte da Itália, mas resolvemos antecipar nossa volta ao Brasil. Nós fomos a Milão e depois iríamos para Veneza, mas quando recebemos essas informações, ficamos apenas um dia em Milão e decidimos não ir a Veneza, além de antecipar a volta.”

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De acordo com Magella, há muita preocupação, principalmente após o país publicar, no último domingo, medidas para o conter o avanço do novo coronavírus. “Isso, de fato, alarmou muita gente. Para se ter uma ideia, nós percorremos farmácias em Milão, Bolonha e aqui em Roma, e em nenhuma delas achamos máscaras para proteção, haviam se esgotado”. Por outro lado, o jornalista observa que ainda há grande circulação de pessoas pelas ruas de Roma, e que ainda existe a ponderação de que os óbitos registrados no país foram ao Norte e em idosos.

“Nas cidades, o movimento é tranquilo; há, claro, muitas pessoas de máscaras, mas a maioria está sem, até porque não há máscaras para vender aqui. Nesta Quarta-feira de Cinzas, inclusive, o Papa Francisco celebrou a Missa de Cinzas, e sabemos que há grande aglomeração de pessoas no Vaticano. Como medida de precaução, no entanto, decidimos evitar ir ao local nesta quarta. De qualquer forma, (a circulação do vírus) depende muito do tempo, aqui na Europa é inverno, mas no Norte do país está muito mais frio”. Segundo Paulo Cesar, em Roma, a temperatura tem variado entre os 13 e 15 graus.

Até a edição desta reportagem, a Defesa Civil da Itália tinha contabilizado 400 pessoas infectadas pelo coronavírus no país, um aumento de 26 em relação à última atualização, divulgada na manhã desta quarta-feira. Segundo o órgão, 12 pessoas já morreram pela doença no país. Entre os pacientes diagnosticados, 114 estão internados, dos quais 35 estão sob cuidados intensivos. Outros 162 estão em quarentena domiciliar em casa. Em Veneza, o carnaval foi cancelado devido à manifestação do vírus.

Rotina e aeroportos

Mesmo com a confirmação do resultado positivo, integrantes do Governo adiantaram nesta quarta que nada mudará na estratégia que já vem sendo conduzida para conter o avanço da doença, uma vez que o país já antecipou a decretação do estado de emergência em saúde pública. Na coletiva de imprensa, o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, afirmou que a rotina dos aeroportos não será alterada e que nenhum voo será cancelado. Ainda nesta quarta, o Ministério da Saúde teria um reunião com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para avaliar novos procedimentos a serem tomados. A Anvisa é o órgão responsável pela fiscalização sanitária nos portos e aeroportos. Apesar disso, o Ministério da Saúde não soube informar se haverá aumento do número de funcionários nos portos aeroportos brasileiros.

“Existem muitas intersecções entre voos, pessoas que saem de um local A, vão para B, para poderem chegar a C. Não há uma previsibilidade (…), a gente está trabalhando com cenários, pensando em como proceder à medida que teremos mais ou menos casos e estamos nos adaptando a essa realidade”. Na avaliação do ministro, cancelar voos ou a testagem de temperatura nos pontos de entrada no país, como os aeroportos, é uma medida ineficaz, uma vez que a pessoa pode estar com vírus, mas ainda não apresentar sinais, como a febre – os sintomas podem surgir até duas semanas após o contágio.

A orientação do Governo, portanto, é para que brasileiros que retornarem da Europa observem por cerca de duas semanas se irão apresentar manifestações respiratórias ou febre e que tomem medidas preventivas (ver quadro). No caso da presença de qualquer sintoma, a pessoa deverá buscar uma unidade de saúde, que deverá assistir o paciente e adotar o protocolo adequado, além de comunicar autoridades em saúde.

Para aqueles que estão com viagens agendadas para fora do país, o ministro disse que é preciso usar o “bom senso”. “Antes as pessoas viajavam mais à negócio, hoje em dia tem muito o turismo também, e a Europa é um grande destino turístico. As pessoas estão inseguras, então, eu acho que o que vale é a regra do bom-senso; a pessoa tem que avaliar se a viagem é realmente necessária”, recomenda Mandetta.

Tópicos: coronavírus

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