Presos mandaram matar da cadeia, diz polícia

Os dois homicídios tiveram participação de jovens envolvidos nos casos do supermercado e do motorista de aplicativo


Por Sandra Zanella

20/11/2019 às 19h33

Dois supostos mandantes foram ouvidos, nesta quarta-feira, na 1ª Delegacia Regional, em Santa Terezinha (Foto: Sandra Zanella)

Investigações da Polícia Civil revelam que dois homicídios, praticados nos dias 19 e 20 de setembro, tiveram como mandantes detentos do sistema prisional de Juiz de Fora. Além de as ordens para matar terem partido da cadeia, os dois casos tiveram participação de adolescentes envolvidos em duas ocorrências de repercussão recentes: o assassinato de um funcionário dentro de um supermercado de Benfica, Zona Norte, e a tentativa de latrocínio contra um motorista de aplicativo no Santos Anjos, Zona Sudeste. Outro ponto em comum entre os dois crimes, ocorridos há dois meses e elucidados pela Delegacia Especializada de Homicídios, é o fato de um mesmo jovem, de 22 anos, ser suspeito de ter dado fuga ao atirador em uma das mortes e ter servido como isca para atrair a outra vítima.

Apesar das coincidências, os dois assassinatos não têm relação entre si. Nesta quarta-feira (20), os dois supostos mandantes foram levados das unidades prisionais onde estão detidos por outros crimes para serem ouvidos na 1ª Delegacia Regional, em Santa Terezinha. Um deles, 22, é apontado pela polícia como mentor da execução de Paulo Ricardo Rodrigues da Silva, 20, morto no dia 19 de setembro em um bar na Rua Jorge Raimundo, no Santa Cândida. “Por volta das 17h, dentro do estabelecimento comercial, a vítima recebeu 19 disparos de arma de fogo, devidamente comprovados pelo laudo de necropsia. A arma era de alta lesividade, uma pistola 9mm, com poder de destruição muito grande”, detalhou o delegado Rodrigo Rolli.

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Segundo ele, a equipe de investigadores conseguiu identificar um adolescente de 16 anos como sendo o executor. “Inclusive esse menor teria participado desse último crime do motorista de aplicativo”, disse Rolli, se referindo à morte de Edson Fernandes Carvalho, 21, no último dia 8. Ele foi morto com um tiro na cabeça enquanto transportava dois passageiros, pai e filho, de 29 e 7 anos. Conforme o delegado, o jovem suspeito de assassinar Paulo Ricardo seria o mesmo que atuou como comparsa do adolescente de 15 anos que apertou o gatilho contra Edson. Antes do segundo crime, a polícia já havia solicitado à Vara da Infância e Juventude o acautelamento do rapaz de 16 anos no Centro Socioeducativo. “Hoje esse menor se encontra apreendido pelo crime no Santa Cândida”, acrescentou.

Além dos possíveis mandante e executor de Paulo Ricardo, a polícia chegou a um terceiro envolvido, 22, que teria dado fuga em um carro ao atirador. “A motivação está ligada a um derrame de drogas, ou seja, a vítima teria pego uma determinada quantidade de entorpecentes e não repassado o dinheiro.” Ainda de acordo com a autoridade policial, o adolescente confessou o delito, alegando que a vítima devia R$ 11 mil à boca de fumo. “Entretanto, o menor não explica a origem da pistola utilizada, que é uma arma cara no mercado paralelo, em torno de R$ 15 mil. Além disso, não fala quem seria o traficante que teria mandado executá-lo. Mas as investigações, por meio de dispositivos eletrônicos e redes sociais, demonstram a ligação do executor com o mandante.” Conforme o delegado, o jovem de 22 anos que teria dado a ordem para matar está preso desde 1º de agosto no Ceresp após ser detido em flagrante por tentativa de homicídio. Nesta quarta foi cumprido o mandado de prisão preventiva contra ele relacionado ao inquérito do assassinato no Santa Cândida.

Sete suspeitos envolvidos em morte no Centro

No dia 20 de setembro, menos de 24 horas depois do episódio violento na Zona Leste, José Francisco Gonçalves dos Santos, 29 anos, foi morto a tiros pela manhã no Centro, logo após deixar a Casa do Albergado José de Alencar Rogêdo, onde cumpria pena em regime aberto. Depois de entrar no carro que o esperava, José Francisco foi surpreendido por ocupantes de outro veículo que, com apoio de uma moto, o abordaram. Após o homem ser alvejado por dois tiros na cabeça e um no braço direito, o motorista que teria ido buscá-lo desembarcou do carro e jogou o corpo ao solo, deixando o local em seguida. Segundo a Polícia Civil, esse suspeito teria servido como isca para atrair a vítima e é o mesmo homem procurado por ter dado fuga ao atirador no Santa Cândida.

Ao todo, a Delegacia de Homicídios investiga sete envolvidos no caso do Centro. Imagens da câmera de segurança da própria unidade prisional auxiliaram as apurações. “A vítima sai do albergue, é atraída até o carro de cor escura, executada, e o corpo retirado e jogado na rua. As cenas mostram a população correndo com medo dos vários disparos”, contou o delegado Rodrigo Rolli. Segundo ele, o atirador teria saído de um veículo branco, mas teria fugido pilotando a moto, com comparsa na garupa. A motivação seria vingança relacionada a assassinato ocorrido há quatro anos, quando um amigo do suposto mandante do crime em questão foi morto. “As investigações demonstram, através de testemunhas veladas, que a vítima teria sido autora de homicídio em 2015.”

No inquérito da Casa do Albergado foram pedidas as prisões de cinco pessoas e o acautelamento de dois adolescentes, inclusive do rapaz de 17 anos identificado como autor do homicídio de Carlos Bento dos Santos Filho, 44, morto com pelo menos três tiros, dois na cabeça e um no peito, enquanto trabalhava no corredor de um supermercado em Benfica no dia 14.

Quatro dos envolvidos na morte de José Francisco, incluindo o adolescente, estariam no interior do carro branco, de onde desembarcou o atirador, um na moto e outro no veículo escuro. O sétimo investigado é outro apenado da Casa do Albergado, que teria repassado as informações da rotina da vítima, inclusive a hora de saída. A Justiça decretou a detenção de três dos envolvidos: do suposto mandante, 26, que cumpre pena na Penitenciária Ariosvaldo Campos Pires devido a outro homicídio, do possível executor, 28, e do jovem, 22, que teria atraído a vítima. “Diligências estão sendo feitas porque os dois últimos estão foragidos”, finalizou Rolli.

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Tópicos: polícia

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