Um olhar para as pessoas idosas na cidade
Um dos principais objetivos deste espaço, através deste coluna, toda sexta-feira, é contribuir para que haja uma sensibilização e envolvimento cada vez maior da cidade em relação às necessidades, interesses e expectativas das pessoas idosas. Estamos legislando em causa própria. É bem conhecido pelo leitor e leitora, que nossa cidade apresenta um altíssimo percentual de idosos no contexto geral da população, com números próximos aos das grandes capitais brasileiras.O que é muito bom para todos nós. E pode ser considerado um grande motivo de orgulho, saber que, como em todo mundo, no país e em nossa cidade, estamos e vamos viver mais.
Essa nova realidade espera por ações sociais, públicas e comunitárias dos quatros cantos da cidade, de vários pontos e instituições. Um novo passo precisa ser dado na direção do chamamento feito pelas pessoas idosas. O universo humano da população idosa de Juiz de Fora/MG é muito extenso e muito complexo. Essa coluna, semanalmente, tem apresentado, livremente, alguns lados e aspectos de situações que envolvem o envelhecimento das pessoas em Juiz de Fora. Sem nenhuma pretensão de fechar questão sobre o que ela traz e tendo como motivação a minha própria vivência de uma pessoa que tem e cuida de uma familiar idoso. Naturalmente que, publicamente, falo do lugar de onde estou. Do trabalho social desenvolvido com pessoas idosas beneficiárias do INSS, com pensões e aposentadorias básicas.
Minhas linhas estão muito mais centradas no que vivencio do que sobre o que sei sobre essa fase da vida. Se da vida, nada sei; da velhice, sei menos ainda. Esta coluna é de número 16. Graças à Deus, o retorno tem sido muito bom. Espontaneamente, recebo comentários elogiosos e bem animadores sobre o que é editado, todas sextas-feiras, na Tribuna. A resposta dos leitores tem sido maravilhosa. O que me estimula a continuar nessa tarefa: a de ser um veículo para despertar atenção da cidade para a realidade do seu envelhecimento.
De todos os meses do ano, o mês de maio é o mês nobre para o calendário das pessoas idosas. Dia 9 de maio é o Dia Municipal da Pessoa Idosa. A pauta ganha visibilidade e o assunto é levado aos meios de comunicação social da cidade. É o que estamos realizando nessa semana, entre os dias 6 á 10 de maio, com uma vasta programação de atividades e eventos com o propósito de afirmar que, em nossa cidade, as pessoas idosas merecem um tratamento diferenciado de mais respeito e de mais atenção de toda sociedade. Somos uma cidade que tem muita gente idosa e que precisa ter um pouco mais de cumplicidade e de amor com os seus moradores mais velhos.
Afirmo que, ao longo dos meus mais de 30 anos na execução dessas atividades públicas de sensibilização para com a pessoa idosa, muitas conquistas foram realizadas. E tantas outras estão a caminho. Se muito já foi feito, mais vale o que será. Não podemos retroceder. Apesar das sombras, a luz vai mais longe. O tempo passa rápido. Pode ser um lugar comum afirmar isso. Mas, é a realidade. Tenho feito diariamente reflexões sobre o meu tempo social na contribuição de uma cidade mais amiga da pessoa idosa.São nítidos e visíveis os avanços conquistados. Nosso exército aumentou. Hoje temos mais gente, mais pessoas, instituições e espaços para e sobre a denominada “Terceira Idade”.
Com a passagem do tempo, já é possível reinventar o meu lugar. O mercado de trabalho vem exigindo profissionais qualificados em todas as áreas. A do envelhecimento está no topo das profissões emergentes e necessárias. O que faz com as empresas de educação miram-se para esse nicho mercadológico na oferta de especializações na área da Gerontologia. Quem está efetivamente preparado e qualificado para intervir profissionalmente com as pessoas idosas? E com as pessoas idosas dependentes? Desde cuidadores até profissionais de nível superior, a oferta de cursos e mais cursos na área do envelhecimento é uma grande exigência dos tempos modernos. Um novo paradigma no mundo do trabalho de uma nova sociedade. E de uma cidade com demandas de uma população numérica mais idosa, que já é prevalente e que será ainda mais no futuro.
Eu reconheço que com a simples realização de uma semana de eventos não mudaremos nossa velha cultura de indiferença e de desprezo aos domínios das pessoas idosas, mas, por outro lado, eu acredito que é somente com a criação de espaços de diálogo, como o dessa coluna, e de outros instrumentos de interação públicos, é que vamos nos transformar como pessoas e como cidade que se deseja fraterna e solidária no pagamento de uma grande dívida social com a população idosa brasileira e juiz-forana.
Um olhar para as pessoas idosas na cidade se faz necessário, porque outras sociabilidades e outras maneiras de nos relacionarmos precisam ser conectadas para a nossa salvação como pessoas que necessitam do cuidado de um e de outro para o processo de humanização tão desejado por todos nós. E as pessoas idosas(algumas) não podem ter somente elas mesmas na companhia solitária para seus dias. Na visita que nunca chega. No endereço que nenhum familiar visita.
Uma rede solidária de convivência começando pelos vizinhos, é uma boa alternativa para nossas relações sociais/familiares tão frágeis e enfraquecidas. Já que muitas das vezes, os familiares faltam com a presença devido à rotina estabelecida e à existência de conflitos de outras ordens. Uma sociedade que se deseja humanamente emancipada não pode deixar ninguém para trás.