‘Jamais vou deixar de defender que Lula foi condenado sem provas’, diz Haddad

Em contrapartida, aliados aumentam a pressão para que candidato do PT se desvencilhe da imagem do ex-presidente


Por Mateus Fagundes para Agência Estado

09/10/2018 às 16h01

Haddad sob a sombra de Lula (Foto: Ricardo Stuckert)

O candidato do PT à Presidência, Fernando Haddad, afirmou nesta terça-feira (9) que não vai se descolar da imagem do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, preso em Curitiba desde 7 de abril. Em entrevista à Rádio Guaíba, do Rio Grande do Sul (RS), Haddad disse que jamais vai “deixar de defender que Lula foi condenado sem provas” e reconheceu que só chegou ao segundo turno “em função do projeto que Lula representa”.

Sobre o papel que Lula teria em seu eventual governo, Haddad disse que ele foi o melhor presidente da história do país. “Nesta condição, acho que ele tem muito a contribuir pelo Brasil e pelo mundo”, afirmou. “O Brasil nunca foi tão feliz, nós queremos retomar um Brasil que deu certo.”

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Haddad também negou que Lula tenha dito para ele ser mais “Haddad” nesta segunda etapa da campanha. “O que Lula me disse ontem (segunda-feira, 8) era para eu ir para a rua e ganhar esta eleição”, afirmou.

Debates

O candidato do PT cobrou a presença do concorrente dele, Jair Bolsonaro (PSL), em debates no segundo turno. “Como ele tem dado entrevistas, creio que ele tem condições de ir a debates”, afirmou, e cutucou o adversário. “Nunca fugi a um debate. Nem com gripe. Espero que ele compareça.”

A campanha de Bolsonaro informou que o candidato vai passar por consulta médica nesta quarta-feira (10) para avaliar se há condições para participar dos programas. As emissoras de TV planejam ao menos seis encontros, com o início da maratona prevista para esta quinta-feira (11), na Band.

Haddad voltou a criticar o economista Paulo Guedes, da campanha de Bolsonaro, e afirmou que não vai nomear “banqueiro” para o Ministério da Fazenda. “Como posso nomear banqueiro se eu vou fazer a reforma bancária?”, afirmou o candidato. No campo da economia, Haddad defendeu ainda a reforma tributária e as mudanças nos regimes próprios de Previdência de Estados envidados, como Rio Grande do Sul e Minas Gerais.

FHC

Fernando Haddad afirmou também que interpretou as declarações recentes do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) como um repúdio ao adversário dele no segundo turno. “Pelo que entendi das falas do FHC, ele disse ‘Bolsonaro, não'”, afirmou. Ontem, FHC negou que iria declarar apoio a Haddad, como havia sido ventilado desde a noite de domingo. José Serra, tucano histórico e ex-ministro, foi na mesma linha.

‘Não precisa mais vir aqui’

A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, afirmou que o ex-presidente Lula fez chegar ao partido que espera que Haddad se concentre nas agendas de rua da campanha neste segundo turno e deixe de visitá-lo na prisão semanalmente, como tem feito até o momento.

“Foi um recado para mim: manda o Haddad fazer campanha, não precisa mais vir aqui”, disse Gleisi, que participa de reunião organizada pela direção petista na capital paulista nesta terça.

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Gleisi voltou a defender ajustes no programa de Haddad no segundo turno para atrair novos aliados, mas reforçou que a proposta do PT para a Previdência está “fechada”. Haddad, no entanto, já sinalizou que pode discutir questões como a idade mínima para aposentadoria.

“Na Previdência, é um tema que temos mais posição fechada”, declarou a dirigente. Ela enfatizou que a proposta do PT é uma medida que ataque privilégios, mas que não mexa no regime geral do INSS.

Gleisi disse que o partido ainda não discutiu ajustes no plano para agregar propostas como a de Ciro Gomes (PDT) sobre capitalização do sistema de Previdência. A discussão seria feita com Ciro se ele declarar apoio a Haddad.

Não pode mais ser ‘Haddad é Lula’

Reeleito com quase 60% dos votos no primeiro turno, o governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), vocalizou o que está sendo cada vez mais constante entre aliados de Haddad: o candidato petista precisa se desvencilhar da imagem de substituto do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e assumir mais a própria imagem no segundo turno da eleição.

“Acho que o ‘Haddad é Lula’ cumpriu esse papel por um período. Lula é um programa de governo, mas isso tem um limite. Deu certo no primeiro turno, o povo entendeu, votou, mas no segundo turno é o que o Haddad pode fazer, e não mais o Lula, para melhorar a vida da Dona Maria”, disse o governador. “Essa é a chave da eleição.”

Dino e outros governadores aliados se reunirão com Haddad nesta terça-feira (9) para discutir estratégias da campanha para o segundo turno. A defesa de Dino também foi expressada nos mesmos moldes ontem pelo senador eleito Jaques Wagner (PT-BA), que foi nomeado como articulador político da campanha de Haddad.

Tópicos: eleições 2018

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