M. Dias Branco garante investimento em JF
Em nota, empresa afirma que “não há plano de desistência” do negócio na cidade
Depois de um longo silêncio sobre os projetos de construir uma fábrica de biscoitos, massas e farinha de trigo, um centro de distribuição e um moinho de trigo em Juiz de Fora, a M. Dias Branco se posicionou oficialmente nesta quinta-feira (19). Por meio de nota encaminhada por sua assessoria, informou que “não há plano de desistência relacionado ao investimento na cidade”. A empresa não informou se o projeto inicial foi revisto.
Informações de bastidores, no entanto, dão conta de que, após a aquisição da Indústria de Produtos Alimentícios Piraquê, em uma operação avaliada em R$ 1,550 bilhão, a M. Dias Branco mantém a intenção de erguer uma unidade fabril e um centro de distribuição, mas teria desistido de construir um moinho na cidade. Caso essa possibilidade se concretize, o investimento, inicialmente estimado em R$ 350 milhões, deve ser reduzido, assim como deve ser revista a perspectiva de criação de 800 a mil empregos diretos.
Como a Tribuna tem noticiado desde novembro do ano passado, há o receio de que a demora na concretização do acesso entre a via pública e o terreno localizado na BR-040 (adquirido pela empresa) poderia comprometer os planos de a M. Dias Branco efetivar o investimento milionário no município. Líder nacional na fabricação e venda de biscoitos e massas, a proprietária das marcas Adria, Estrela e Isabela pretendia iniciar a construção do parque fabril ainda em 2017, mas continua aguardando a obra, que seria de responsabilidade do Poder Público e é considerada imprescindível para o início dos trabalhos propriamente ditos. A M. Dias Branco trabalhava com a expectativa de conclusão da unidade em 2019 e início das operações no começo de 2020.
Em entrevista concedida à Tribuna em agosto do ano passado, o vice-presidente de Investimentos e Controladoria do grupo, Geraldo Luciano Mattos Júnior, afirmou que a Prefeitura se comprometeu a fazer o acesso e, tão logo existisse a sua disponibilização, a empresa daria início às obras.
Novamente procurada nesta quinta-feira, a empresa, por meio de nota, ressaltou que “nunca teve qualquer problema com a Prefeitura de Juiz de Fora”. Há informações extraoficiais, inclusive, de que o vice-presidente estaria com uma viagem marcada a Juiz de Fora para tratar do assunto com o prefeito Antônio Almas (PSDB).
A Prefeitura de Juiz de Fora informa que mantém contato permanente com a M.Dias Branco e que as etapas previstas no protocolo de intenções, firmado entre o município e a empresa, estão sendo cumpridas, “não existindo pendências por parte do Poder Público Municipal”. A informação é que o projeto de instalação da empresa é prioritário nas diretrizes da Administração, “e a cidade é estratégica nos planos apresentados pela empresa”.
Espera pelo acesso continua
O acesso pendente fará a ligação da BR-040 até o Porto Seco, em Dias Tavares. A primeira etapa, orçada em R$ 7 milhões, está prevista até a entrada de onde será instalada a indústria. Os recursos seriam da Companhia de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais (Codemig). Em posicionamentos anteriores, a Prefeitura afirmou que, em reunião realizada em junho do ano passado, o governador Fernando Pimentel (PT) autorizou o Estado a viabilizar a obra. Em agosto daquele ano, a Codemig encaminhou a documentação à Secretaria de Estado de Transportes e Obras públicas (Setop). A documentação consiste nos projetos viários entregues pela Prefeitura com vistas à elaboração de convênio.
Posteriormente, os projetos foram encaminhados ao Departamento de Edificações e Estradas de Rodagem de Minas Gerais (DEER/MG). No mês passado, o órgão afirmou que o material foi devolvido para a Prefeitura de Juiz de Fora “para as correções solicitadas e posterior retorno para análise”. Novamente procurado nesta quinta, o DEER/MG, por meio de sua assessoria, afirma que “continua o processo de análise do projeto de engenharia elaborado pela Prefeitura, após mais uma etapa das correções encaminhadas pelo município.” O posicionamento da PJF é que “estão em fase de análise por parte dos órgãos estaduais competentes, seguindo o curso normal exigido por este tipo de empreendimento”.
O empreendimento e a empresa
A assinatura de protocolo de intenções com o município aconteceu em março de 2015. Em dezembro de 2014, a empresa lançou comunicado ao mercado, anunciando o protocolo firmado com o Estado. Em dezembro de 2015, a Câmara aprovou a incorporação do empreendimento à lei de incentivo fiscal, que permite o reembolso de até R$ 50 milhões para a indústria alimentícia, caso ela cumpra a previsão de gerar, para o município, mais de R$ 100 milhões em dez anos, referentes à quota-parte do ICMS repassadas pelo Estado. O faturamento inicialmente previsto chegava a R$ 650 milhões, podendo atingir a marca de R$ 1 bilhão em uma década. O empreendimento inicialmente divulgado previa a possibilidade de expansões futuras.
No relatório de resultados financeiros e operacionais da M. Dias Branco, publicado no final do ano passado, na análise sobre a perspectiva de mercado para os próximos anos, há manifesta intenção da empresa de dar continuidade ao plano de crescimento global, aumentado a presença nas regiões em que a participação ainda é menor, e intensificando os estudos em busca de oportunidades de atuação em novos produtos alimentícios.