O povo não é o inimigo


Por Mariana Carpinter, estudante de jornalismo

28/05/2017 às 07h00

Mais de 45 mil manifestantes, segundo a Secretaria de Segurança do Distrito Federal, participaram do ato contra o governo de Michel Temer em Brasília, na última quarta-feira, 24. Com um pensamento majoritário comum, pessoas se deslocaram de diversos estados do país para gritar por um Brasil menos corrupto. Mas quem se informou apenas pela televisão, pode ter imaginado que as pessoas que participaram do ato tenham levado apenas bolsas cheias de pedras para sucatear prédios e desfazer a ordem pública.

Depois de cerca de seis horas de protesto (e, sim, algumas brigas entre manifestantes e policiais), Michel Temer convocou o Exército para agir nas ruas. As “Garantias da Lei e da Ordem” (GLO), previstas pela Constituição Federal, permitem aos militares atuarem como policiais.
Atitudes como essa – relacionadas a manifestantes – não acontecem no Brasil desde a ditadura, época na qual o povo era considerado, explicitamente, inimigo do governo, como mostra a minissérie da Globo, “Os dias eram assim”. Eram, e parecem voltar a ser. Uma ação que resultou na apreensão de sete pessoas do total de manifestantes não necessitava da intervenção do Exército para ser contida.

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Acovardado, Michel Temer sabe o poder que a população tem e parte para atitudes antidemocráticas na tentativa de contê-la e reprimi-la. Com o poder desestabilizado, fraco e alvo de muitas críticas, a alternativa de Temer foi tentar usar a força contra a voz do povo.
Estamos em um momento político conturbado e crítico que não pede silêncio algum. Pede manifestações de todos os tipos: em rede, nas ruas, na mídia. Frente a momentos como esses, houve veículos de comunicação que focaram suas coberturas apenas nos núcleos de violência (“baderna”, eles dizem), desmerecendo todo o significado que envolve a ação – essa e outras. Mostram às massas que manifestar é um ato antipatriota, que indivíduos que vão às ruas para dar volume e forma à insatisfação nacional são os grandes inimigos. Mas o povo não é o inimigo.

Inimigo é quem rouba o pouco de quem não tem quase nada, é quem sonega milhões de reais em impostos e passa para o povo a responsabilidade de arcar com as consequências do rombo na economia. Não é inimigo quem luta todos os dias para conquistar privilégios que outros compram através de propina.
Aliás, em boa parte dos casos, não se debate sobre privilégios, e sim direitos. Direitos esses que estão sendo ameaçados pela atual gestão do governo. Alguns são apontados pelo STF como sendo garantidos pela Constituição. O povo não se revolta por menos. Há razões reais… Afinal, para todos os efeitos, não estamos em uma situação de amar ou deixar o Brasil, e sim de modificá-lo.

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