A Igreja diante dos ateus


Por Luís Eugênio Sanábio e Souza/ Escritor

28/02/2018 às 07h37- Atualizada 28/02/2018 às 12h09

Convém destacar primeiramente que não se deve confundir o ateísmo com o ateu. O ateu tem dignidade de pessoa e, enquanto tal, sempre merece estima. Ademais, nunca se extingue no ser humano a capacidade natural de abandonar a descrença e abrir-se ao conhecimento de Deus, causa e fim de tudo. Quanto ao ateísmo, trata-se de um grave erro e “sem dúvida não estão imunes de culpa todos aqueles que procuram voluntariamente expulsar Deus do seu coração” (Concílio Vaticano II: GS n° 19). Sem dúvida, sem o Criador, a criatura se esvai. Mas a Igreja Católica considera que Deus pode, por caminhos dele conhecidos, levar à fé todos os homens que sem culpa ignoram o Evangelho. Pois “sem a fé, é impossível agradar-lhe” (Hebreus 11, 6). Mesmo assim, cabe à Igreja o dever e também o direito sagrado de evangelizar todos os homens em conformidade com a ordem claríssima de Jesus Cristo (Mateus 28,19-20). Dentro de um clima de diálogo sincero, a Igreja convida cortesmente os ateus a considerarem com espírito aberto o Evangelho de Cristo.

O desejo de Deus está inscrito no coração do homem, e “a razão mais sublime da dignidade humana está na vocação do homem à união com Deus” (Concílio Vaticano II: GS n° 19). Contudo, sabemos que muitas pessoas não percebem de modo algum essa união íntima e vital com Deus, ou explicitamente a rejeitam, a ponto de o ateísmo figurar entre os mais graves problemas de nosso tempo. O ateísmo pode aparecer como consequência do materialismo, da ignorância religiosa, do mau exemplo dos próprios crentes, da revolta contra o mal no mundo, e, enfim, dessa atitude do homem pecador que, por medo, se esconde diante de Deus e foge diante de seu chamado.

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O memorável Papa São João XXIII assim escreveu: “A ordem moral não pode existir sem Deus: separada dele, desintegra-se. O homem, pois, não é formado só de matéria, mas é também um ser espiritual, dotado de inteligência e liberdade. Exige, portanto, uma ordem moral e religiosa, que, mais do que todos e quaisquer valores materiais, influi na direção e nas soluções que deve dar aos problemas da vida individual e comunitária, dentro das comunidades nacionais e nas relações entre estas. Foi dito que, na era dos triunfos da ciência e da técnica, os homens podem construir a sua civilização sem Deus. A verdade é que mesmo os progressos científicos e técnicos apresentam problemas humanos de dimensões mundiais, apenas solúveis à luz de uma sincera e ativa fé em Deus, princípio e fim do homem e do mundo” (São João XXIII. Encíclica “Mater et magistra”, n° 207 e 208).

A Igreja jamais negou que um ateu possa realizar ações honestas e nobres. Sobre isso, certa vez, o Papa São João Paulo II explicou que, se uma vida é realmente correta, é porque o Evangelho, embora não conhecido ou rejeitado a nível consciente, na realidade, já desenvolve sua ação no íntimo da pessoa que procura com empenho honesto a verdade e está disposta a aceitá-la, logo que chegue a conhecê-la. Esta disponibilidade é manifestação da graça divina. Cristo certamente deseja a fé e, por sua vez, declarou firmemente assim: “O que crer e for batizado será salvo; mas quem não crer será condenado” (Marcos 16, 16).

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