É guerra ou não é? Eis a questão


Por Arthur Raposo Gomes/Estudante de Comunicação Social

22/10/2017 às 07h00

No dia 16 de agosto, a capa do jornal “Extra” tinha como imagem uma grande faixa com os escritos “É guerra”, junto com a manchete “Rio já perdeu 843 áreas para o crime”. Naquele dia, o diário carioca anunciava a estreia da “Guerra”: editoria criada com a justificativa da atual situação do combate ao tráfico na cidade e todas as suas consequências. Em vídeo encontrado no site do jornal, o diretor de redação do “Extra”, Octavio Guedes, ainda destaca que, “pela primeira vez, o Estado admite que não tem controle do seu território” e “o Extra deve ser o único jornal no planeta que tem uma editoria de guerra num país que não reconhece a guerra”.

No mesmo dia, jornalistas, sociólogos, especialistas e cidadãos se dividiram e formaram os times: o “contrário à editoria de Guerra” e o “a favor da editoria de Guerra”.
Entre os “contrários”, existem uns mais emocionais e outros mais racionais. Os mais emocionais justificam seu posicionamento no estado de alerta provocado por uma editoria com esse nome. Podemos imaginar a sensação dos cariocas ao ler, na edição da segunda-feira, sobre os resultados dos jogos do Flamengo, do Fluminense e do Vasco, sobre as aulas na UERJ e, nas páginas seguintes, sobre guerra. Sim. Desesperador.

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Os contrários mais racionais acreditam que a criação da editoria “Guerra” cria uma divisão, os mocinhos e os bandidos. Esse famoso “nós contra eles” permite que os mocinhos – no caso, o Exército, a Polícia e o Estado – tenham total liberdade para agir. Se for necessário que mortes e ações mais “truculentas” aconteçam, elas acontecerão – sempre em nome da paz da cidade. Faz sentido a opinião deles? Faz.

Já o time “a favor da editoria de Guerra” crê na necessidade de uma editoria de tal nome para dar visibilidade aos acontecimentos do Rio – concordando com a opinião do diretor de redação, que, no mesmo vídeo do site do “Extra”, sugere: “Pergunte para as viúvas dos cem policiais se nós estamos numa guerra. Pergunte para a mãe daquela criança assassinada quando assistia à aula no pátio lá… na hora do recreio, com um tiro, um tiro de fuzil, se nós estamos em guerra”. Ainda segundo Guedes, não se pode chamar essas ocorrências de “casos de polícia”, daí a necessidade de diferenciar a editoria de polícia da editoria de guerra. Eles estão insanos? É mentira que o Rio precisa de ajuda? Não. Não é mentira.

Mas qual lado está certo? Quem está com a razão? Com certeza, essas perguntas não serão respondidas agora. Muitos debates, trabalhos e pesquisas na área de Comunicação e Segurança Pública ainda serão realizados.
Aguardemos o desenrolar dessa história.

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