Desafios na formação médica


Por Paulo K. de Sá, médico e coordenador da Faculdade de Medicina de Petrópolis

15/12/2017 às 07h00- Atualizada 15/12/2017 às 08h25

A formação médica no Brasil passa por momentos de grande desafio em face às inúmeras questões próprias da saúde e à influência de todo o contexto sociopolítico e econômico mundial e, principalmente, nacional. Nas últimas décadas, houve uma desvalorização progressiva do profissional da medicina. Embora na população geral a imagem do médico como status social ainda tenha importante valor, no ponto de vista do mercado, o médico virou uma mercadoria e é vendido em qualquer esquina com a abertura de inúmeras faculdades de medicina no país.

Na atual conjuntura, onde a falta de confiança nos governantes chega aos limites do absurdo, assistimos ao desmonte do sistema de saúde de forma acintosa e retrocedendo os grandes avanços obtidos na Reforma Sanitária. A ênfase dada ao tipo de médicos que queremos na sociedade envolve diferentes habilidades e não apenas o domínio do conhecimento médico, como foi descrito pelo guia Tomorrow’s Doctors, do Conselho Geral de Medicina britânico.

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Para muito além do conhecimento, o médico deve saber estabelecer uma relação de confiança com seus pacientes, tomando decisões baseadas em evidências científicas, considerando a escolha do paciente e garantindo a sua segurança, não solicitando intervenções desnecessárias. Além disso, deve estabelecer uma atitude profissional diante do paciente, da família e das necessidades de saúde da população, garantindo o seu compromisso tanto com a saúde pública como com a privada.

No entanto, aumentar o número de instituições formadoras em um mercado desregulado quanto ao trabalho na saúde provoca uma grande instabilidade nos estudantes. Eles ainda ingressam nos cursos com uma visão romântica da medicina e, quando se deparam com a realidade da prática profissional nos diferentes cenários de aprendizagem, principalmente do Sistema Único de Saúde, eles reduzem o brilho nos olhos e constroem erradamente uma visão defeituosa sobre o grau de compromisso do profissional com o sistema de saúde.

O século XXI apresenta o desafio de reformularmos os currículos dos cursos de medicina de modo a estabelecer nesse futuro profissional a capacidade de reflexão crítica sobre todo o contexto da saúde, para além do conhecimento biológico tradicional e em direção ao resgate do cuidado voltado para os humanos e o restante do planeta.

O desafio é de grandes proporções, mas algumas instituições de ensino estão firmes no propósito de construir uma graduação que contemple verdadeiramente o que Tomorrow’s Doctors anunciou.

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