Dois anos da tragédia de Mariana


Por Wilson Acácio, Membro da diretoria colegiada do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Doce

08/11/2017 às 07h00

No último domingo, dia 5, exatamente há dois anos, aconteceu o maior desastre ambiental do Brasil, com o maior vazamento de rejeitos minerais do mundo, quando se rompeu a Barragem de Fundão, em Mariana (MG). Foram mais de 40 bilhões de litros de lama despejados em cima do subdistrito de Bento Rodrigues, nos afluentes e também nos 650km percorridos pelo tsunami de lama pela calha do Rio Doce, até desaguar no mar, na localidade de Regência (ES).

Essa foi uma tragédia anunciada, porque a diretoria da Samarco não levou em consideração o que havia recomendado o projetista da barragem, engenheiro Joaquim Pimenta de Ávila. Perante à Polícia Federal, ele afirmou que, desde 2014, alertava à empresa que a situação da barragem de Fundão se encontrava em estado crítico e necessitava de providências urgentes em termos de segurança. O pedido e as orientações do engenheiro não foram levados em consideração. Desgraçadamente, essa empresa capitalista colocou o lucro acima de quaisquer outras questões!

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Como consequência dessa irresponsabilidade, 19 pessoas mortas, 39 cidades localizadas nas calhas dos rios afetadas e, até hoje, 352 famílias, com mais de 1.300 desabrigadas, residindo em hotéis na cidade de Mariana. Salienta-se que houve mudanças significativas no modo de vida dessas pessoas, porque elas tinham suas atividades socioeconômicas-culturais inteiramente ligadas à Zona Rural. Um fato sério e triste que está acontecendo em Mariana é que os estudantes das comunidades atingidas, agora obrigados a frequentar as escolas da cidade, estão sofrendo bullying, chamados de “pé de barro” pelos estudantes cidadinos!

Na qualidade de membro da diretoria do CBH-Doce, recentemente, visitei Mariana para verificar as ações que estão sendo desenvolvidas pela Fundação Renova, criada para realizar ações e atividades visando a recuperar os inúmeros impactos socioambientais-econômicos provocados pela lama. Mesmo com o que já foi realizado, muito ainda tem que ser feito! Há desconfiança da população sobre a qualidade das águas dos rios atingidos; não existem estudos conclusivos sobre os problemas de saúde provocados pela lama. No mar, nas proximidades da foz e no próprio Rio Doce, a pesca continua proibida, provocando uma série de problemas sociais. A reconstrução das comunidades diretamente atingidas, Bento Rodrigues, Paracatu de Baixo e Gesteira, ainda continua no papel. Os moradores cobram seus direitos à renda, à moradia e às indenizações prometidas e que ainda não foram realizadas.

Infelizmente, dois anos após essa tragédia provocada pelos dirigentes da Samarco, eles ainda continuam soltos, e, para piorar ainda mais essa situação, um juiz federal de Ponte Nova acolheu um pedido de anulação de todo o processo contra os gerentes da empresa, argumentando que a denúncia do Ministério Público Federal teve provas ilícitas!

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