Quando a chance aparece
A sensibilidade de um policial militar e o interesse de um jovem em mudar de vida marcam uma interação que deve servir de exemplo para as instâncias públicas e privadas
No glossário popular mineiro, é comum a expressão “se a mula passa arreada, pule em cima”, numa forma bem antiga de apontar para as oportunidades. Na edição dessa sexta-feira (29), a Tribuna mostrou experiências de pessoas que viram uma chance a aproveitaram, fruto não apenas do moto próprio, mas também do olhar de terceiros, que viram potencial em seus “afilhados”. O caso em questão é de um jovem em situação de risco que, depois de tantas abordagens, pediu ao policial a chance de treinar artes marciais, pois sabia que ele tinha uma academia de kickboxing. O Galpão da Luta, dirigido pelo sargento da PM Luiz Bento, atende jovens nessas mesmas condições e tem obtido sucesso. Roque Sérgio, o garoto, é hoje um campeão, já tendo obtido vitórias importantes nesse início de carreira.
Mas sua principal vitória foi aproveitar a mão que lhe foi estendida. O sargento Bento, como relata a matéria, tem uma experiência com esse trabalho que começou há mais de dez anos. Abnegado e conhecedor do ofício, sabe que muitos dos jovens e adolescentes, hoje em situação de risco ou até mesmo já formalizados no crime, vivem determinadas situações pela absoluta falta de oportunidade. O esporte é uma saída, tendo redimido um expressivo número de pessoas pelo país afora. São muitas as experiências mostradas em programas esportivos. A de Juiz de Fora é o destaque da edição de sexta-feira da Tribuna. E vale a pena destacá-la.
No momento em que as discussões sobre a violência não avançam, pois as políticas públicas ainda são insuficientes para a crescente demanda, mostrar projetos de iniciativa pessoal ou de entidades privadas é fundamental, pois apontam que a causa é coletiva. Não basta esperar os projetos de Governo – a quem cabe a responsabilidade primária -, pois os recursos são precários. O Plano Nacional de Segurança anunciado no início do ano ainda não saiu do papel, e as consequências estão nas estatísticas: o maior número de vítimas e de autores de crimes contra a vida envolve jovens de 15 a 29 anos.
Dessa forma, quando há espaços para recuperação, eles devem ser ocupados. O jovem Roque é mais um, mas o ideal seria se fossem muitos. As políticas públicas, por conta disso, devem se voltar necessariamente para a educação, por ser a forma adequada de salvaguardar os jovens atuais e proteger as próximas gerações. O trabalho do sargento Bento merece aplauso e deve ser copiado por outras instâncias. Seu exemplo deve servir, principalmente, para os órgãos oficiais, que, muitas vezes, procuram saídas sofisticadas quando o passo inicial é bem mais simples e eficiente.