E agora, rapaz?


Por Guilherme Arêas

17/06/2017 às 07h00

Na mesma semana em que o PSDB, em nome da governabilidade, resolveu permanecer no Governo, numa decisão que dividiu os antigos cardeais e a juventude tucana, conhecida como cabeças pretas, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, principal nome da legenda, vem a público e diz que o Governo Temer perdeu legitimidade. Em nota, defendeu que seria um “gesto de grandeza” do presidente pedir a antecipação das eleições gerais, constitucionalmente marcadas para outubro de 2018. FHC diz ter mudado de opinião de que seria um golpe a convocação de eleições antes do término da atual gestão. Ele adverte que, em não havendo aceitação generalizada de sua validade, “ou há um gesto de grandeza por parte de quem legalmente detém o poder, pedindo antecipação de eleições gerais, ou o poder, se erode de tal forma que as ruas pedirão a ruptura da regra vigente, exigindo antecipação do voto”. Como diria Milton Nascimento, em uma de suas músicas, “e agora, rapaz?

A nota de FHC tem viés pessoal, mas é emblemática, pois aponta para o lado contrário decidido pelo partido. Ele, talvez, saiba mais do que os demais tucanos o que virá pela frente, pois está claro que o Ministério Público não vai se contentar com a rejeição do pedido de cassação formulado no TSE e, muito menos, com a eventual rejeição pelo plenário da Câmara ao pedido para processar o presidente. O procurador-geral, Rodrigo Janot, teria novas peças para acrescentar ao xadrez político. Seriam elas a base para o discurso de Fernando Henrique?

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O deputado Marcus Pestana, em nota à Tribuna (veja na coluna Painel), ao ser indagado sobre a candidatura tucana ao Governo de Minas, diz que o futuro é incerto, pois as coisas em Brasília mudam de semana a semana. A resposta, porém, serve também para apontar o cenário do Congresso. O clima de incertezas, por enquanto, não comprometeu os primeiros sinais de recuperação da economia, mas os investidores costumam colocar o pé no freio quando percebem cenários estranhos. A insistência de Michel Temer em permanecer no cargo, a despeito de tantos desgastes, e a nota do ex-presidente da República e principal líder do PSDB, contrapondo-se a esse projeto, são ingredientes suficientes para fazer do futuro um ponto de insegurança. Daí, a semana que começa será emblemática, pois, se havia lenha na fogueira, FHC levou a gasolina para perto do fogo.

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