Fins e meios
Partidos se articulam visando às eleições de 2018 e, para isso, não medem esforços em retomar alianças que ficaram para trás nos últimos tempos
Já pensando nas eleições gerais do ano que vem, partidos e lideranças políticas começam a se articular não apenas no âmbito interno, mas também na busca de alianças. E é nesse contexto que algumas questões acontecem, mas não surpreendem. Em recente discurso, o ex-presidente Lula admitiu perdoar “os golpistas”, especialmente do PMDB, para tê-los como aliados, de novo, no seu eventual palanque de candidato. O jogo político não segue a mesma lógica dos relacionamentos. Em nome dos fins, esquecem-se os meios. O ex-presidente não bateu o martelo, mas há conversas em curso, embora não se saiba em que nível. Outros adversários certamente serão convidados a rever seus conceitos e a fechar com o projeto petista, e, nesse “uma mão lava a outra”, muitos também esquecerão suas diferenças.
Essa estratégia não envolve necessariamente o viés partidário. Legendas de direita, de centro ou de esquerda, especialmente no Brasil, mantêm esse processo de sístole e diástole há tempos, sobretudo a partir da Constituição de 1988, que estabeleceu o presidencialismo de coalizão. Não há presidente que governe sozinho, sendo praticamente obrigado a ter contrários no seu ministério. Foi assim com Fernando Henrique Cardoso, nos oitos anos de gestão tucana, com Lula e Dilma, nos mandatos do Partido dos Trabalhadores, e se repete, mais ainda, na gestão Temer, que carece de apoio a cada projeto, numa negociação constante de postos na administração.
Mas se o PT conversa, o PSDB também se articula. Embora não saiba ainda quem será seu candidato à Presidência, o partido precisa, porém, resolver demandas internas para, só a partir daí, ir à busca de aliados. É bem provável que o impasse seja superado até meados do mês que vem, quando será eleita a nova Executiva Nacional. Se der Tasso Jereissatti, o primeiro passo será o desembarque do Governo Temer. Se vencer Marconi Perillo, a saída só vai ocorrer em fevereiro. De um jeito ou de outro, os tucanos tentam recuperar a identidade, hoje comprometida pelas relações com a gestão peemedebista e pelo envolvimento de lideranças em questões pouco republicanas.
Os demais partidos acompanham tais articulações, e o PMDB, como sempre, será o pivô das negociações. O partido, que só agora experimenta objetivamente o poder com um presidente filiado, nunca ficou fora do Planalto. Como irá se comportar desta vez é um mistério, mas quem conhece o viés profissional de seus dirigentes aposta que a legenda, a despeito de tudo, ainda vai continuar no centro do poder.