Postos do Governo

A ocupação de cargos por indicação dos partidos produz situações constrangedoras, como as de um ministro sendo afastado por ordem judicial e seu gabinete, vistoriado pela Polícia Federal


Por Tribuna

06/07/2018 às 07h00

O aparelhamento dos postos do Governo em todas as instâncias, mas com destaque para a área federal, não chega a ser novidade, pois tornou-se rotineiro a partir do instante em que as relações entre o Executivo e o Legislativo se tornaram interdependentes. O Governo não trabalha se não tiver aval do Congresso, e esse só funciona se tiver respaldo do Planalto para atender aos seus pleitos. E é nesse balcão que se desenvolvem conversas pouco republicanas e outras tantas de mero interesse de grupos.

O afastamento do ministro interino do Trabalho, Helton Yomura, por ordem do ministro relator da Lava Jato, Edson Fachin, é mais uma etapa desse processo que começou com o impedimento de posse da deputada Cristiane Brasil, nomeada pelo presidente Michel Temer a pedido de seu pai, Roberto Jefferson, a principal liderança do Partido Trabalhista Brasileiro. Yomura, que ao final do dia pediu demissão, seria apenas uma espécie de laranja, já que recebia ordens diretas da cúpula trabalhista atendendo aos seus pleitos, como uma política especial de formalização de novos sindicatos, como está nos autos do inquérito instaurado pela Polícia Federal.

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O ministro Fachin colocou também o Solidariedade de Paulo Pereira da Silva (o Paulinho da Força), que, apesar de ser deputado, mantém total controle sobre o SD, fruto de seus anos de militância no mundo sindical. Mas tal fato é apenas uma das pontas da ocupação de postos nas instâncias de poder que ocorre há anos. O resultado tem sido a ineficiência de gestão e o uso indevido da máquina pública, gerando um quadro de descontrole com penalização direta da população, que precisa dos serviços do Estado.

O presidencialismo de coalizão, considerado a única saída para garantir a governabilidade, tornou-se um problema, e não há sinais de que haverá mudanças no curto prazo, principalmente após a reforma política de segunda linha aprovada pelo Congresso. Por esse modelo, as relações de poder continuarão comprometidas mesmo diante de tantas operações da Polícia Federal e do Ministério Público.

O eleitor seria o primeiro a atuar por essa mudança, mas as urnas, ao curso dos anos, têm mostrado que boa parte dos eleitos consegue chegar ao Parlamento com um discurso de facilidades, cujo pano de fundo, no entanto, se fixa no mero interesse pessoal ou de grupos que representam.

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