É dando que se recebe

Demonizar a política não é a via adequada para mudar o país, sobretudo num momento em que os interesses tornaram-se moeda de troca nas instâncias de poder


Por Tribuna

05/08/2017 às 07h00

Quando foi eleito pela primeira vez, o deputado Tiririca (palhaço por profissão) foi ironizado pelas redes sociais, pois seria, no entendimento da época, apenas um visitante do Congresso, aproveitando o seu prestígio como artista. No entanto, o deputado Francisco Everardo Oliveira Silva (PR-SP), seu verdadeiro nome, se diz desiludido com a política. Em entrevista ao “Estado de S. Paulo”, observou que a comédia que faz não tem nada a ver com a que assiste frequentemente no Parlamento. “Não vai mudar. O sistema é esse. É toma lá, dá cá”, afirmou. O deputado é um dos mais assíduos do Legislativo, superando as expectativas de seus críticos.

A desilusão do comediante, porém, não é a única. Há um desapontamento generalizado com a política, resultado do jogo bruto que se desenvolve nas instâncias de poder. Para sobreviver a uma denúncia da Procuradoria-Geral da República, o presidente da República colocou todas as fichas no balcão, e boa parte da instância política topou o negócio. Houve, é fato, quem votasse contra a denúncia por mera convicção, por entender ser o momento inoportuno, mas uma expressiva parcela usou a velha máxima do “é dando que se recebe”.

PUBLICIDADE

Esse ceticismo coletivo, fruto desse processo de negociação que se tornou rotina na instância política – e não foi Temer que o inaugurou, sendo uma velha questão -, reflete na ligação das ruas com os partidos e com a própria política. A descrença geral é um grave problema, pois, ao soar como um protesto coletivo, dá ânimo para os que preferem o balcão, dando margem aos demagogos. A política, com todas as suas incoerências, ainda é a via mais adequada de transformação.

Por conta disso, a melhor alternativa é responder nas urnas, elegendo personagens sérios, dispostos a atuar em nome do coletivo, em vez de somar-se aos grupos que levam para o Parlamento políticos voltados apenas para o próprio umbigo, sem qualquer compromisso com a cidadania.

Os comentários nas postagens e os conteúdos dos colunistas não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é exclusiva dos autores das mensagens. A Tribuna reserva-se o direito de excluir comentários que contenham insultos e ameaças a seus jornalistas, bem como xingamentos, injúrias e agressões a terceiros. Mensagens de conteúdo homofóbico, racista, xenofóbico e que propaguem discursos de ódio e/ou informações falsas também não serão toleradas. A infração reiterada da política de comunicação da Tribuna levará à exclusão permanente do responsável pelos comentários.