Alianças partidárias levam à reestruturação do primeiro escalão da PJF
Após composição majoritária do Progressistas e do MDB, prefeito Antônio Almas promove mudanças a três meses do fim do mandato
As alianças político-partidárias para a corrida eleitoral pela sucessão do prefeito Antônio Almas (PSDB) já repercutiram no primeiro escalão da Prefeitura de Juiz de Fora (PJF). As composições majoritárias firmadas com a deputada Sheila Oliveira (PSL) por partidos da base do Governo Almas tornaram o clima no primeiro escalão do Executivo insustentável. Diante do alinhamento de partidos como o Movimento Democrático Brasileiro (MDB) e o Progressistas (PP) à candidatura de Sheila, Almas deflagra, ainda nesta semana, uma reestruturação no primeiro escalão da PJF a apenas três meses do fim do mandato. Em reunião nesta terça-feira (22), inclusive, o secretário de Segurança Urbana e Cidadania, José Sóter de Figueirôa, e o subsecretário de
Governo, Paulo Gutierrez, ambos do MDB, colocaram o cargo à disposição de Almas para eventuais mudanças. Além de acusações sobre supostas irregularidades em contratos firmados pelo Município, o voto contrário de Sheila na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) – o único no plenário – ao decreto de estado de calamidade pública em razão da pandemia de Covid-19 de Juiz de Fora incomodou o prefeito.
Na última sexta-feira (18), Antônio Almas, o secretário de Governo, Ricardo Miranda, e o secretário de Desenvolvimento Econômico, Turismo e Agropecuária, Lucio Sá Fortes, reuniram-se para discutir a situação das lideranças partidárias que ocupam postos tanto no primeiro quanto no segundo escalão. Até aquele momento, o prefeito não tinha sido oficialmente comunicado por MDB e Progressistas sobre a aliança com o PSL de Sheila. O chefe do Executivo, inclusive, soube das composições por meio da imprensa, o que lhe desagradou. Na ocasião, o gabinete convocou uma reunião com as lideranças partidárias do Progressistas e do MDB para as últimas segunda e terça-feira (22), respectivamente, a fim de manifestar a insatisfação para com as alianças partidárias firmadas com o PSL. A tendência é que as mudanças sejam publicadas no Diário Oficial Eletrônico do Município nos até o próximo sábado, uma vez que o prazo para o início da campanha eleitoral é o próximo domingo (27).
À Tribuna, o secretário Ricardo Miranda confirmou a reestruturação em curso. “A campanha eleitoral começa dia 27 de setembro. Então, do dia 16 ao 26 é o prazo para que o Governo municipal faça a reestruturação. Este é um período de transição. O Governo tem que se ajeitar para pensar nesse processo. Há funcionários da Prefeitura em cargos de direção do MDB e do PP, e, como são dirigentes partidários, pressupõem-se que eles referendaram a decisão de que os respectivos partidos caminhem com a candidata do PSL.” Conforme Ricardo, os secretários remanescentes devem acumular pastas até o fim de mandato, embora não esteja descartada a ascensão de membros do segundo escalão para as secretarias vagas.
Questionado sobre o porquê da reestruturação a apenas três meses do fim do mandato, Ricardo, que também acumula a Secretaria de Comunicação, ressaltou que os membros do Governo precisam “falar a mesma língua”. “O Governo precisa ter unicidade, coerência, independentemente se reste um dia ou quatro anos para acabar. Hoje, o prefeito de Juiz de Fora é o Antônio Almas. O Governo que vai até o dia 31 de dezembro é o do prefeito Antônio Almas. As mudanças podem acontecer até dezembro. O Governo precisa guardar uma identidade única.”
O secretário acrescenta que todos os substitutos serão opções caseiras da PJF, ou seja, já desempenham alguma função na Administração municipal. “Serão soluções pontuais e caseiras. Não virá ninguém de fora do Governo. Vamos estudar ainda se algum secretário vai acumular duas pastas, se um funcionário de segundo escalão vai assumir o primeiro escalão etc.”
Acusação
A resistência de Almas em admitir a aliança entre os antigos correligionários e a deputada Sheila Oliveira está relacionada à acusação realizada pela candidata ao prefeito, ainda em abril, quando apontou, mesmo sem provas, em um vídeo, possíveis irregularidades em termos de contratação firmados pelo Município de Juiz de Fora para a aquisição de insumos de enfermagem em caráter emergencial. Os três contratos estavam avaliados em, aproximadamente, R$ 2 milhões. De acordo com Ricardo, o prefeito já deixara claro, ainda em agosto, às lideranças partidárias de sua base, que não caminharia com a candidatura da ex-vereadora. “O prefeito, frente aos ataques que sofreu no início da pandemia de deputados do PSL, inclusive com acusações graves envolvendo compras de insumos para a área de saúde, entendeu que essas pessoas estavam em um caminho distinto do Governo. Foi a única candidata que, no momento mais grave da história da saúde pública do Município, não prestou nenhum tipo de solidariedade. Pelo contrário, aliás.”
Emedebistas entregam os cargos
Em reunião nesta terça, os secretário de Segurança Urbana e Cidadania, José Sóter Figueirôa, e o subsecretário de Governo, Paulo Gutierrez, colocaram os respectivos cargos à disposição do prefeito Antônio Almas para quaisquer eventuais mudanças que o chefe do Executivo possa vir a fazer. Ao passo que Figueirôa é vice-presidente do MDB em Minas e secretário-geral do partido em Juiz de Fora, Gutierrez é presidente do diretório municipal do MDB. Responsável pelas alianças do MDB a nível estadual, Figueirôa é, inclusive, considerado um dos principais articuladores da aliança entre os emedebistas e o PSL para as eleições majoritárias juiz-foranas.
Conforme interlocutores de Almas, a reunião com o MDB, ocorrida nesta terça, foi “extremamente amistosa”. O prefeito teria deixado claro a Figueirôa, Gutierrez e ao coordenador-regional do MDB, Orlandsmidt Riani, as dificuldades ao ver membros do governo apoiando a candidatura de Sheila à própria sucessão no Executivo. Os emedebistas, por sua vez, teriam entendido as ponderações de Almas, sem apresentar quaisquer contestações à insatisfação do prefeito. Diante do que foi explanado por Almas, tanto Figueirôa quanto Gutierrez colocaram os cargos à disposição.
Contactado pela Tribuna, o presidente do diretório municipal do MDB confirmou que, de fato, entregou o cargo na secretaria de Governo para o prefeito. “Tomamos esta decisão para que o prefeito possa ter a liberdade de fazer o que quer que seja. Foi uma conversa de alto nível, como sempre aconteceu entre o MDB e o PSDB. Ele é o prefeito, temos que respeitá-lo. Devemos ter uma nova conversa, em que o Almas deve nos apresentar a sua decisão sobre o nosso futuro.”
‘Decisão natural’
Já o presidente do diretório municipal do Progressistas, Aldimar Grunewald, que ocupa a gerência de Departamento de Execução Instrumental do Museu Mariano Procópio, foi comunicado sobre o desligamento na última segunda-feira. Em rápido contato com a Tribuna, Grunewald apontou o desligamento da Administração municipal como uma decisão natural de Almas. “Infelizmente, ele teve esse entrevero com a delegada Sheila, que não diz respeito nem a mim nem ao Progressistas. O Almas é mandatário da cidade e escolhe com quem administrar. Foi uma decisão natural. Não é justo que qualquer um fique numa Administração após não apoiar a candidata que o prefeito está apoiando”, afirma. “Agora, não chegou a mim e ao partido, em hora alguma, que não poderíamos nos aliar a A, B, ou C. O que nos foi passado era que a base do Governo estaria liberada para definir as alianças.”
Rômulo e Zezinho saem para campanha de Margarida
Ao contrário de Figueirôa, Gutierrez e Grunewald, o secretário de Planejamento e Gestão, Rômulo Veiga, e o superintendente da Fundação Alfredo Ferreira Lage (Funalfa), Zezinho Mancini, comunicaram a Almas que deixariam o Governo, uma vez que ambos participarão da campanha da deputada Margarida Salomão (PT). Conforme o calendário do Tribunal Superior Eleitoral, as campanhas, com propagandas eleitorais nos veículos de comunicação e mídias sociais, bem como nas ruas – distribuição de materiais gráficos, carros de som e comícios -, começam, oficialmente, no próximo domingo (27). Ao passo que Rômulo ainda conduz uma transição na Secretaria de Planejamento e Gestão (Seplag), Zezinho encerrou, nesta terça, o seu expediente à frente da Funalfa.
Conforme Rômulo, as conversas com Margarida começaram apenas após a decisão de Almas em renunciar à candidatura à reeleição. “Estou fazendo uma transição. A Seplag é uma secretaria complexa, então há uma transição para quem for assumir. Não foi um abandono. (…) Tínhamos planejado inicialmente que deixaria a Prefeitura nesta semana. Evidentemente que, dada a complexidade de alguns assuntos, como a Lei de Diretrizes Orçamentárias (aprovada pela Câmara Municipal na última segunda), havia um compasso de espera. Não há da minha parte nem da parte de Almas açodamento algum sobre isso. Por não haver nenhum tipo de ruptura, mantemos a relação extremamente estreita. Tanto eu quanto o prefeito estamos priorizando a estruturação de ações orçamentárias neste momento, dada a complexidade dos desafios orçamentários que qualquer gestão que venha a assumir terá.” De acordo com Rômulo, a Lei Orçamentária Anual deve ser consolidada pelo Executivo apenas após o período eleitoral.
Em contato com a Tribuna, por sua vez, Zezinho apenas confirmou o pedidode desligamento feito a Almas em 8 de setembro. “De fato, solicitei ao prefeito que me afastasse para que pudesse trabalhar na campanha (da Margarida) nestes próximos dois meses.” Desde maio de 2018, Zezinho é superintendente da Funalfa, ocasião em que, inclusive, substituiu Rômulo Veiga na autarquia. À época, Rômulo a deixou para assumir a Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Turismo e Agropecuária antes de ser deslocado para a Seplag em maio último.
Tópicos: eleições 2020