Crise assusta possíveis candidatos à Prefeitura
A crise generalizada nas três esferas de poder tem mantido possíveis candidaturas à Prefeitura de Juiz de Fora nas eleições do ano que vem em banho-maria. Até aqui, ninguém colocou efetivamente seu bloco na rua. Candidatos cotados para a disputa, que figuram inclusive em algumas pesquisas internas feita por partidos da cidade, como os deputados federais Júlio Delgado (PSB) e Margarida Salomão (PT) e o deputado estadual Noraldino Júnior (PSC), pisam em ovos e têm evitado o assunto nos primeiros meses do ano. Oficialmente, nenhum deles confirma ou descarta uma possível empreitada. Até mesmo o prefeito Bruno Siqueira (PMDB), que poderia ser considerado um nome natural na disputa por um segundo mandato, tem mantido discurso afinado de que, no momento, sua preocupação é apenas gerir a cidade.
Diante de um cenário de dificuldades de arrecadação e de um pacto federativo que concentra recursos nas mãos do Estado e da União, dispor-se a comandar a Prefeitura não é uma opção fácil. Parece contraditório, mas o espólio eleitoral que a disputa representa pode ficar comprometido em caso de triunfo. Há quem manifeste desejo em ingressar na corrida com a vontade íntima de não sair vitorioso. Quem ocupa a cadeira fica na berlinda, exposto a constantes cobranças. Algumas extrapolam a alçada do Município. Bruno, por exemplo, recorre constantemente à Brasília e à Belo Horizonte em busca de recursos, mas, com as torneiras externas fechadas, sofre desgaste político pelo atraso de obras, como as do Hospital Regional, que foram iniciadas na gestão passada, e são umbilicalmente dependentes da boa vontade política e financeira do Governo do estado.
Como desde 2013 o que se observa nas ruas é uma revolta dita palaciana, com os protestos mais acintosos direcionados a ocupantes de cargos executivos – a presidente Dilma Rousseff (PT) que o diga -, a Prefeitura é a primeira porta onde a população insatisfeita bate, seja por melhorias na saúde ou na educação. Isso sem contar os desgastes da administração da máquina, como a greve de mais de dois meses dos professores municipais. O temor diante do momento de dificuldade enfrentado em quase todas as prefeituras do país pode retardar o processo sucessório juiz-forano e a oficialização de pré-candidaturas. Contudo, isso não quer dizer que algumas movimentações de bastidores não indiquem alguns posicionamentos que possam ser lidos como esboços de candidaturas.
Tucanos admitem fazer dobradinha
A convenção municipal do PSDB realizada no último dia 10 deu indicativas de que os tucanos podem partir para uma composição na disputa pela Prefeitura. Uma das leituras mais fáceis do discurso do presidente estadual da sigla, o deputado federal Marcus Pestana, que defendeu “candidatura própria ou uma composição inteligente”, é a de que a agremiação pode abrir mão da cabeça de chapa, algo inédito nos últimos 20 anos. O encontro elegeu o vereador Rodrigo Mattos (PSDB) como presidente municipal da legenda, mas segue sub judice após movimentação do deputado estadual Lafayette Andrada (PSDB), que busca a anulação do processo. Lafayette defende o lançamento de um nome próprio, embora não considere este o momento de se colocar ou não como postulante.
Entre as composições cogitadas nos bastidores, há uma possível candidatura de Rodrigo a vice-prefeito em chapa encabeçada por Júlio Delgado. Nos anos que antecederam as eleições de 2012, o deputado federal era visto como uma alternativa pelo tucanato na disputa. À época, o parlamentar já era próximo do ex-governador Aécio Neves (PSDB). Mas isso acabou se tornando inviável pela decisão do então prefeito Custódio Mattos (PSDB) correr pela reeleição. A relação entre Júlio e Aécio se alinhou ainda mais nas eleições presidenciais do ano passado, quando o PSB apoiou o tucano no segundo turno. Apesar disso, Júlio é outro que evita falar em candidatura.
Outro cenário em que o PSDB poderia ficar com a candidatura a vice-prefeito seria em uma dobradinha com Antônio Jorge (PPS). Atual deputado estadual, ele foi secretário de Saúde no Governo Anastasia (PSDB), o que facilitaria uma construção com o partido de Aécio na disputa. Tal cenário poderia ser facilitado caso a fusão entre PPS e PSB, que parece caminhar a passos largos, seja concretizada. Isso, caso Júlio, atual presidente estadual do PSB, opte por ficar de fora da corrida. Entretanto, independente das conjecturas, Antônio Jorge é mais um que não admite publicamente uma pré-candidatura.
PT e PMDB: campos opostos
As dúvidas não pairam apenas nos grupos políticos que fazem oposição aos governos federal e estadual. Em encontro regional recente, o PT deliberou pelo lançamento de candidatura própria à PJF. Até aí, nada de novo, visto que, nos últimos cinco pleitos, a legenda apresentou candidatos em quatro, chegando no segundo turno em 2008 e 2012. Principal nome da sigla nas últimas eleições, Margarida Salomão é outra que tem evitado falar em nova candidatura. Outros nomes, como os do sociólogo Martvs das Chagas e do vereador Wanderson Castelar (PT), chegaram a ser comentados nos bastidores, mas, até aqui, nenhum manifestou anseio público em se aventurar em uma empreitada real.
Algumas lideranças do PT temem que possam ocorrer pressões dos diretórios estadual e nacional por uma reedição no âmbito municipal da dobradinha entre PT e PMDB, composição vitoriosa em 2014 com os triunfos do governador Fernando Pimentel (PT) e da presidente Dilma Rousseff (PT). Neste cenário hipotético, o partido – que decidiu por manter oposição a Bruno e que tem os dois únicos vereadores oposicionistas na Câmara, Castelar e Roberto Cupolillo (Betão, PT) – poderia se ver forçado a marchar ao lado de um adversário político. Tal intervenção não seria novidade. Basta lembrar que, em 2004, a sigla declarou apoio a Alberto Bejani (então no PTB) no segundo turno da disputa pela Prefeitura por questões partidárias.
Correndo por fora
Siglas de menor densidade eleitoral também têm nomes colocados como candidatáveis. Talvez o principal deles seja o do deputado estadual Noraldino Júnior (PSC). Parlamentar mais votado na cidade no ano passado na corrida por uma cadeira na ALMG, Noraldino é outro que ainda não admite candidatura. Todavia é visto como certo na disputa, apostando no desgaste das figuras e dos partidos mais tradicionais. Para isto, pode ter um apoio importante na Câmara, com seu sucessor na atual legislatura, o vereador José Emanuel (PSC), focando sua artilharia contra a Governo Bruno e fazendo uma cruzada pela instalação de uma CPI para apurar possíveis irregularidades na saúde municipal.
Outro que, invariavelmente, aparece como candidato latente é o ex-reitor Henrique Duque. Cotado para ingressar na vida pública além dos portões da UFJF, Duque adiou a possibilidade até o fim de seu segundo mandado à frente da instituição de ensino. Em entrevista à Tribuna em setembro do ano passado, o ex-reitor não escondeu o anseio em seguir na vida pública e revelou preferência por cargos executivos. Perguntado se não seria surpresa se fosse candidato à Prefeitura nas eleições de 2016, brincou dizendo que, além de Juiz de Fora, poderia tentar ser prefeito em Governador Valadares, onde inaugurou um campus da UFJF, ou em Rio Casca, sua terra natal. Caso queira mesmo colocar seu nome para a apreciação do eleitor, terá que se filiar a um partido até outubro deste ano.