Estudo aponta quase 900 pessoas vivendo nas ruas da cidade
Diagnóstico apresentado pela Secretaria de Desenvolvimento Social (SDS) aponta que 879 pessoas vivem hoje em situação de rua em Juiz de Fora. A contagem foi realizada em pontos já conhecidos na região central, zonas Sul e Nordeste, sempre à noite. Os entrevistados foram divididos em três grupos, totalizando 242 os que dormem nas ruas, 141 que pernoitam no acolhimento e 496 que sobrevivem na rua, mas retornam para casa, como é o caso de pedintes, vendedores de balas no semáforo e de prostituição.
O estudo foi desenvolvido ao longo de sete meses, realizado pelo Comitê Pop Rua, envolvendo os serviços de abordagem e acolhimento prestados pelo Município, contando ainda com o apoio do pesquisador da UFJF Igor Rodrigues. No último levantamento realizado pelo IBGE, 608 pessoas foram contabilizadas. Este índice, no entanto, não é passível de comparação com o novo estudo, uma vez que os critérios adotados para a pesquisa não são equivalentes.
Um dos dados que mais chama a atenção no levantamento sobre as pessoas que dormem na rua, o segmento mais vulnerável, diz respeito à questão da cidadania: 70% não possuem certidão de nascimento, enquanto 40% não possuem documento de identidade. Além disso, apenas 22% possuem a carteira de trabalho, instrumento necessário para se formalizar no mercado, um dos grandes problemas apontados para a causa da permanência dessas pessoas nessas condições. Outra informação que o diagnóstico elucida é referente ao alto percentual de pessoas negras, correspondendo a 78% no agrupamento de pessoas que pernoitam em praças e logradouros.
A violência sofrida pela população de rua também foi arguida pelos pesquisadores. De acordo com o diagnóstico, 70% dos que dormem na rua são vítimas de preconceitos, agressões verbais ou impedidos de entrar em algum recinto. Já em relação à violência física, o índice é de 38%. Em relação ao vínculo familiar, 38% dos entrevistados afirmaram ter relações rompidas. Já 18% afirmam ter vínculo de forte intensidade. A saúde foi também um dos pontos levantados, mostrando que 30% entre os que pernoitam possuem algum problema, sendo os mais mencionados a hipertensão (8%) e HIV (6%). Os dados podem ser conferidos no documento completo.
Documento pode ser norteador
Durante a apresentação à imprensa, realizada na tarde de ontem, os criadores do diagnóstico destacaram o seu papel na condução de políticas públicas. “É a voz das pessoas da rua que está aqui. Não tem maquiagem, propaganda, procuramos aproximar ao máximo da verdade que vem das ruas. É o nosso norte, para que de fato a cidade tenha uma política de estado, intersecretarial”, afirmou o subsecretário de gestão do SUAS, Rogério de Souza Rodrigues. “As pessoas, no afã de fazer caridade, pensam que estão ajudando, mas na verdade estão tirando a dignidade daquela pessoa. É dever do Poder Público oferecer serviços de qualidade a essa população”, afirma.
Já o sociólogo Igor Rodrigues destacou a necessidade de o Município adotar diretrizes para uma reforma social urbana, com democratização dos espaços públicos, inclusive com a desapropriação de imóveis e lotes ociosos para a criação de uma política habitacional. Além disso, propôs a capacitação para os três segmentos analisados, com disponibilidade de vagas de trabalho em instituições conveniadas. “É preciso acreditar neste trabalho e levar adiante uma proposta de reforma social. Juiz de Fora pode encampar em um pioneirismo nacional”, disse.
Outro ponto é o aprimoramento dos serviços de acolhimento, como a possibilidade de criação de casa/containers com a contrapartida positiva dos beneficiados, além da ampliação do acesso à saúde. Uma nova versão do documento está prevista para ser realizada em 2019, avaliando os avanços a partir da atual pesquisa.