‘Família Bonsuça’


Por BRUNO KAEHLER

06/11/2016 às 07h00

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Em seus 22 anos de tradição e mais de 40 conquistas no futebol de base juiz-forano, o Bonsucesso Futebol Clube, representante do Bairro Industrial, na Zona Norte, vive um dos momentos mais frágeis de sua história. A agremiação atende hoje a cerca de cem crianças e jovens de 6 a 18 anos, mas pode ser obrigada a encerrar suas atividades se o panorama não melhorar. Há mais de duas décadas no projeto, o técnico Walmir Lima, 50 anos, ex-jogador profissional e um dos principais responsáveis por manter o clube em atividade, explica que o atual cenário é alarmante para uma instituição que anualmente afasta jovens das ruas e por onde passaram atletas como o atacante Kim, ídolo do Atlético-MG, o zagueiro Marcelo, ex-Flamengo, e o meia Sávio, do Tupi.

“Nosso principal objetivo é tirar as crianças de caminhos ruins, mas, quando temos oportunidade, levamos os garotos para fora. Perdemos recentemente um patrocínio que sempre esteve com a gente e estamos procurando um apoio para nos auxiliar a dar melhores condições para os alunos. A criança, podendo, paga, mas, se não tiver como, joga da mesma forma. Alguns amigos meus me ajudam com uma lavagem de roupa, ou levando os garotos para o campo. Não podemos desanimar, e sim trabalhar mais por essas crianças”, conta o comandante, que tem como braço direito há 14 anos o professor Bruno Motta, pós-graduado em futebol pela UFV, que conta como funciona a escolinha.

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“O trabalho geralmente é feito por nós dois e tem uma secretária. Entro mais com a parte científica, e o Walmir, a do campo. Procurei me dedicar aos estudos, parte física, fisiológica e desenvolvimento das crianças. Acho que esse é o nosso segredo, saber balancear isso e um aceitar a opinião do outro, além da amizade que criamos com os garotos. Estamos sempre abertos ao diálogo. Não podemos oferecer tanta estrutura como um Tupi, por exemplo, mas os meninos gostam de ficar com a gente. Nossa equipe campeã da Liga no sub-17 tem garotos que todos daqui querem, mas seguem conosco, tendo sido campeões desde o dente de leite (sub-11). Chamamos aqui de ‘família Bonsuça’.”

Nesta temporada, mesmo com as dificuldades, o clube formou cinco times em quatro categorias para a Copa Prefeitura Bahamas de Futebol Amador, já levando a equipe juvenil para a decisão e garantindo vaga nas fases finais na dente de leite e infantil.

Ajuda de pais

O motorista Gilberto Nascimento, pai de Felipe e Thiago, alunos do Bonsucesso há seis anos, se disponibiliza, sempre que possível, a levar os jovens aos jogos em sua van. “Cobro metade da passagem deles quando levo para ajudar. Tenho uma van escolar e uma outra que faz transporte na cidade. Acho lá muito bom, o Walmir e o Bruno são muito atenciosos, trabalhadores, correm atrás e sempre estão disputando títulos, sempre marcam reunião com os pais também para pegar opinião. Tudo isso envolve os meninos”, contou Nascimento.

 

‘Fundamental para que eu tivesse minha carreira’

Hoje empresário, o ex-atacante Kim, com passagens marcantes pelo Atlético Mineiro e Nancy, da França, além de ter defendido grandes equipes brasileiras como o Vasco da Gama, Náutico e Joinville, teve seu começo diretamente ligado ao time do Bairro Industrial. “Desde os 6 anos, brinquei no campo do Bonsucesso, mas treinava sem ser jogador do Walmir. Cheguei a ser federado no Uberabinha e não saía do campo do Bonsucesso por ser perto da minha casa. O Walmir e os mais experientes sempre nos davam conselhos, e acredito que é importante, mas entra a parte psicológica do jovem também. Estou empresariando alguns garotos e sempre falo para eles que temos que nos dedicar nos treinamentos, mas não adianta fazer baderna à noite”, conta Kim.

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Mesmo sem ser aluno do clube, o espaço sempre foi oferecido, não deixando de atuar no campo da equipe juiz-forana até hoje. “Eu e o Walmir jogamos juntos na época que tinha amador. Ele chegou a me levar também para outros times e, quando estava no Atlético, vinha no fim de semana, e ele me chamava para treinar, mas nunca tive a chance de ser federado, porque minha idade também excedia a das categorias que havia na escolinha. Tenho que destacar e reconhecer o que o Walmir fez por nós, mesmo comigo sendo federado pelo Uberabinha. Até hoje vou ao campo, no fim do ano, e jogo uma bola, então foi fundamental para que eu tivesse a minha carreira”, encerrou.

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