Preço da carne cai quase 40% em JF

Redução das exportações de alimento in natura e queda do consumo interno favorecem redução de preço


Por Juliana Netto

29/06/2017 às 07h00

A carne vai ficar mais barata em plena entressafra. A redução dos preços, que, aos poucos, começa a ser percebida pelo consumidor, tende a se manter nos próximos meses, exatamente no período de seca, quando o frio e as geadas secam as pastagens, e o produto costuma ficar mais escasso e caro. Além da retração no consumo, da queda nas exportações e dos impactos da Operação Carne Fraca, o anúncio, há uma semana, de que os Estados Unidos decidiram suspender a importação de carne bovina fresca vinda do Brasil, após obter resultados negativos em testes de qualidade do produto, serviu para corroborar esse quadro. Em Juiz de Fora, dos 21 tipos de carne (frango, suína e bovina) cujos preços são acompanhados pela Secretaria de Agropecuária e Abastecimento (SAA), 13 apresentam queda na comparação com o início do ano. A mais expressiva refere-se ao frango inteiro congelado, cujo custo caiu 38,73%, de R$ 7,10 para R$ 4,35. O pernil está em segundo lugar na lista, com redução de 37,65% no preço, seguido pela coxa de frango, em que a economia chega a 22,50% (ver quadro). Em relação ao mesmo período de 2016, a queda chega a 27,13% no caso da paleta.

Para o assessor da SAA, Dalton José Abud, a queda no preço da carne suína é mais acentuada e é atribuída à redução no consumo – em função do momento econômico – e à compra de ração com preço melhor, por conta da importação de cereais, como o milho. Sobre a carne bovina, os impactos da Operação Carne Fraca tanto no mercado nacional quanto internacional, com compradores deixando de adquirir o produto ou comprando em quantidades menores, levaram à queda no preço da arroba. Em maio, o custo da arroba de boi gordo recuou 4,63%, a queda mais significativa para esse mês desde 1998, considerando a série histórica do Indicador ESALQ/BM&FBovespa. As informações são do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (Esalq/USP). As restrições internacionais também foram destacadas por ele, especialmente o recente veto dos Estados Unidos. “Há uma tendência de queda no preço da carne que já está sendo sentida nos mercados e açougues.” A expectativa, avalia Abud, é que a oferta continue maior que a procura, pressionando os preços para baixo.

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O proprietário do Açougue Ki-Carne, Carlos Eduardo Mendes, identifica queda de 20% na procura, e a preferência pela carne suína ante a bovina, em função, principalmente, dos preços. Segundo ele, o quilo do pernil, por exemplo, está mais barato do que o da carne bovina de segunda, direcionando a escolha do consumidor. Em Juiz de Fora, o preço médio da primeira caiu 37,65% contra alta de 7,66% na segunda opção, em relação ao início do ano. Segundo Mendes, com a restrição do mercado externo, a tendência é aumentar a oferta no mercado interno, pressionando os preços para baixo. O gerente da Skina da Carne, Ocimar Gonçalves Moreira, estima que a queda na demanda chega a 30%. Segundo ele, a tendência de redução no preço médio deve estimular as compras, minimizando os prejuízos para o setor nesse período de entressafra.

Consumidor mantém hábito de pesquisa de preços e ofertas

variação-preço-da-carneA consumidora Renata Lima consome carne todos os dias, mas, antes da compra, lança mão da pesquisa de preços e prioriza as ofertas, sem perder de vista a qualidade do produto levado à mesa. A dona de casa Jaqueline de Souza Rodrigues, mãe de cinco filhos e à espera do sexto, afirma que, como a carne de porco está mais barata, é a preferida da família. Já Almira Gomes costuma priorizar o frango e o peixe que, na sua opinião, além de mais saudáveis, pesam menos no bolso. Todas esperam que, de fato, a proteína apresente queda nos preços, para que seja possível elevar o consumo.

A expectativa do presidente do Sindicato dos Produtores Rurais, Domingos Frederico Netto, é que exista uma baixa ainda maior do preço da carne em Juiz de Fora. Segundo ele, em função da polêmica provocada pela Operação Carne Fraca, o abate reduziu consideravelmente. Segundo ele, o produtor já sente a queda de preços, que ainda não é percebida na mesma proporção pelo consumidor final.

Arroba bovina sofre forte desvalorização

Segundo pesquisadores do Cepea, a forte desvalorização da arroba bovina verificada em maio está atrelada à maior oferta de animais, devido à retomada da produção após a seca observada em 2013/2014, e à diminuição no abate de matrizes. A equipe ressalta, no entanto, que a queda de preços ainda foi limitada pelas chuvas, que se estenderam ao longo de maio. Isso porque, com o clima favorecendo as pastagens, muitos pecuaristas podem “segurar” seus animais no pasto.
Quanto à demanda, a avaliação é que a economia não tem apresentado sinais de recuperação suficientes a ponto de elevar o consumo, enquanto as exportações vêm registrando fortes quedas mensais. O volume embarcado de janeiro a maio deste ano está 10% inferior ao do mesmo período de 2016, segundo a Secretaria de Comércio Exterior (Secex) do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior.

Empresário aposta no mercado chinês

Apesar da crise no mercado externo, o empresário Marcelo Detoni, gerente da Fripai Alimentos, que exporta há mais de um ano subprodutos como miúdos para Hong Kong, mantém confiança nos negócios e está de olho no consumidor chinês. Segundo ele, já foi formalizado o pedido para exportação de carne ao Ministério da Agricultura, mas, afirma, é necessário aguardar a chegada de uma missão ao país. “Não sabemos quando eles virão. O mercado ficou muito sem credibilidade.”
De acordo com Detoni, as exportações retraídas e a demanda tímida no mercado interno provocam uma retração fora de época que atinge, principalmente, o produtor, embora toda a cadeia seja impactada. “O preço da carne já caiu bastante. Tem uns 60 dias para cá que só cai.” Conforme o empresário, não há risco de escassez do alimento, ao contrário. Na sua avaliação, no mercado interno, os consumidores já perceberam que a carne produzida no país é de boa qualidade. O desafio, agora, é recuperar a confiança também fora do país.

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