Alta do dólar deixa setores apreensivos

Escalada da moeda americana pode gerar aumento nos custos de gêneros alimentícios e pacotes de viagem


Por Bárbara Riolino

01/09/2018 às 07h00

alta do dólas
A indústria brasileira pode vir a se beneficiar com as exportações, pois boa parte dos insumos brasileiros é cotada em dólar (Foto: Fernando Priamo)

A chegada do dólar na casa dos R$ 4, quadro que vem se repetindo desde a segunda quinzena do mês, acendeu sinal de alerta na economia do país. E os reflexos podem chegar à Juiz de Fora a qualquer momento, tanto que setores ouvidos pela reportagem não descartam eventuais reajustes nos preços de seus produtos até o fim do ano. Para se ter ideia, há quase três anos, a moeda norte-americana não atingia valor tão elevado, e próximo ao ápice da série histórica, observado em 24 de setembro de 2015, quando cada dólar era vendido a R$ 4,24. Fatores externos, além das eleições no Brasil, em outubro, são apontados como os principais motivos para a desvalorização do real neste período. Em abril, por exemplo, o dólar era cotado a R$ 3,50, e os valores foram aumentando gradativamente desde então, até chegar a R$ 4,06, registrado nesta sexta-feira (31).

De acordo com a economista Fernanda Perobelli, os primeiros reflexos do aumento da moeda são observados nos custos dos produtos cotados pelo mercado internacional, como é o caso do petróleo e do trigo. “No caso do petróleo, o efeito é em cascata. Considerando que 60% das mercadorias no Brasil são escoadas em caminhões, a alta do dólar afeta o preço do petróleo, que reflete no custo do transporte e no preço dos produtos ao consumidor final”, pontuou. Ainda segundo ela, em momentos de crise, como o atual, há fuga de capitais para as maiores economia do mundo, pressionando o valor do dólar e levando à sua valorização frente às outras moedas.

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No entanto, a alta nos preços dos produtos, provocada pela escalada do dólar, ainda não chegou ao bolso do consumidor, pois segundo a economista, o país enfrenta um momento de recessão, com desemprego elevado e renda reprimida. “Com isso, não há espaço para grandes repasses de preços, sob pena de haver redução nas vendas. O repasse mais relevante ocorrido recentemente – o do petróleo – culminou com a greve dos caminhoneiros em maio. Por essa razão, ainda não estamos vendo reflexos dessa alta do dólar para os produtos. Mas se permanecer o cenário atual, as empresas terão que, em algum momento, dividir o prejuízo com o consumidor final”, alerta.

Repasse para o pão de sal

É o que tem acontecido no setor de panificação. O pão de sal e outros produtos derivados do trigo sofreram, nos últimos dois meses, aumento de aproximadamente 5%, conforme o Sindicato das Indústrias de Panificação e Confeitaria de Juiz de Fora (Sindipan-JF). O presidente do sindicato, Heveraldo Lima de Castro, explica que o reflexo da alta do dólar começou a ser sentido em abril, e inicialmente a decisão foi absorvê-la. “A gente fez reajuste ‘formiguinha’, pois essas altas aumentaram o nosso custo. Estamos com o preço congelado para evitar que o consumidor perca seu poder de compra. Se fôssemos repassar, o reajuste seria de, no mínimo, 13%”. Heveraldo adiantou, ainda, que em setembro haverá uma reunião para deliberar qual posição o setor vai tomar nos próximos meses.

Reflexos positivos e negativos em outros setores da economia

Em momentos de dólar valorizado, a indústria brasileira pode vir a se beneficiar com as exportações, pois boa parte dos insumos brasileiros é cotada em dólar. Desta forma, tornam-se mais baratos e competitivos no mercado internacional. Em Minas Gerais, a produção de minério de ferro e de café pode apresentar crescimento, assim como a indústria local que atua na cadeia metal-mecânica, com a produção de zinco e bauxita. Mas conforme o analista de negócios da Fiemg Regional Zona da Mata, Matheus Sant’Ana, sem expectativas de crescimento, por enquanto. “Por outro lado, deve-se observar que algumas empresas precisam importar alguns insumos para produzir, como o trigo, além de tecidos para o setor têxtil. Com isso, a produção fica mais cara e o produto também”, comenta.

A negociação com a indústria, aliás, tem sido a estratégia usada pelos supermercadistas para driblar o aumento dos preços dos produtos colocados nas prateleiras. De acordo com o vice-presidente regional da Associação Mineira de Supermercados (AMIS) em Juiz de Fora, Álvaro Pereira Lage Filho, uma das formas de fazer isso é a partir da negociação direta para comprar em maior volume com preço reduzido. Porém, ele alerta que o impacto, pontual, pode existir em determinados pedidos. No caso dos importados, Álvaro afirma que o reflexo tende a ser observado posteriormente, em um período de aproximadamente três meses.

Dolar já é vendido a R$ 4,36 nas casas de câmbio

Quem está com viagem marcada para o exterior, certamente já refez as contas para tentar driblar os custos com a alta da moeda americana. Com o dólar acima dos R$ 4, outras moedas, como o euro e a libra, também estão mais caras nas casas de câmbio de Juiz de Fora. Nesta quinta-feira (29), a cotação média das moedas na cidade eram: dólar R$ 4,36; euro R$ 5,09; e libra R$ 5,85. Nestes valores está incluída a taxa de 1,10% do IOF.

Conforme orientações da Associação de Consumidores – Proteste, com este momento de oscilação, a alternativa é comprar as moedas, sobretudo o dólar, aos poucos. Para o órgão, é uma forma de se proteger e não ficar no prejuízo, caso a cotação continue aumentando ou abaixe no futuro. Outra dica da Proteste é comparar preços de moeda estrangeira nas casas de câmbio, pois pode haver diferença considerável de preços entre elas. Além disso, orienta ter cautela ao usar o cartão de crédito.

Agências fazem adaptações nos pacotes

Nas agências de turismo locais, contudo, a alta ainda não impactou na procura por pacotes internacionais, conforme explica a supervisora da Beltur, Livia Vale. “Mesmo com o dólar subindo desde abril, nosso movimento não teve muita queda até julho, pois as tarifas aéreas, principalmente para os Estados Unidos e para a América do Sul, diminuíram bem, comparadas com os valores praticados no ano passado. Isso fez com que o consumidor não sentisse muito no bolso a diferença cambial. Mas os clientes que ainda não contrataram pacote para o exterior estão optando por destinos no Brasil ou na América do Sul. Já quem tem viagem marcada e ainda falta comprar alguns serviços está antecipando esta compra”, explicou. Ainda segundo Lívia, alguns fornecedores estão com promoções para congelar o valor do câmbio até o fim de agosto, pelo menos. ” O consumidor está muito apreensivo e sabe que, até passar as eleições, a tendência é que o dólar continuar subindo.”

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Na Passadena Turismo, a rotina tem sido a de readequar os roteiros para caber no orçamento do cliente. “O câmbio no Brasil é sempre afetado pelo humor dos investidores, que reagem a qualquer evento macro do país. Por isto, o mercado de viagens está sempre sendo impactado pelo câmbio. Neste momento, em que a nossa moeda perde valor frente ao dólar, nós fazemos adaptações, reduzindo o número de dias, trocando hotéis e trabalhando no planejamento da viagem de forma a torná-la otimizada, mas dentro dos objetivos iniciais”, comenta a sócia-proprietária da agência, Karina Costa.

Intercâmbio

Já na CI Intercâmbio, por enquanto, os clientes que buscam o turismo internacional estão adiando os planos. Mas no segmento de intercâmbios, segundo a diretora da CI, Juliana Viana, não houve queda. “É um investimento profissional. Por exemplo, nossos programas de High School (ensino médio no exterior), o estudante pode ingressar até os 18 anos e isso faz com que os pais, mesmo com a moeda mais alta, fechem a viagem agora”, destaca. Ainda de acordo com Juliana, além do estudo, a agência oferece programas de trabalho em países como Irlanda, Canadá, Austrália, Nova Zelândia. “Todos esses destinos tiveram uma valorização da moeda em relação ao real. A vantagem para o intercambista é que, viajando para esses lugares, ele vai trabalhar e ganhar na moeda do país, não afetando a situação econômica na qual o Brasil vem passando”.

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