Debutantes do barulho


Por Júlio Black

31/03/2017 às 07h00

Foto: Fernando Priamo
Foto: Fernando Priamo

Não vai ter bolo de aniversário (acho), valsa, decoração cafona ou vestido rodado. A festa de 15 anos de bons serviços prestados ao rock por parte do Martiataka vai ter rock, muito rock, verdadeiras pedradas sonoras nesta sexta-feira, quando a banda apresenta no Bar da Fábrica, a partir das 19h, o show de lançamento do seu primeiro DVD, “Tá alto pra c@#$%&*!!! – Martiataka ao vivo”. O sexteto formado por W. Del Guiducci (voz, remanescente da formação original), Thiago “Jim” Salomão (baixo), Ruy Alhadas (teclados), João Paulo Ferreira (guitarra), Bruce Ramos (guitarra) e Victor Fonseca (bateria) subirá ao palco para reproduzir com todo o som e a fúria possíveis desde os hits que o público conhece, como “Urgente”, “Pedra de gelo”, “Mundo bar”, “Armadilha”, “Diabo de mulher” e “Marginal”, além de outras que ficaram de fora do projeto que une som e vídeo.

A decisão de gravar o DVD, que teve o apoio da Lei Murilo Mendes, veio no momento em que os integrantes consideraram ideal para registrar o que é o Martiataka ao vivo, segundo as palavras de Del Guiducci. “Ainda somos jovens senhores do rock e acreditamos que seria importante registrar a energia, a pegada, o barulho de um show ao vivo da banda”, diz, acrescentando que o DVD terá mais de 20 canções, ultrapassando a média que o Martiataka costuma interpretar em suas apresentações. Com isso, foi possível passear por todas as fases da carreira, do primeiro álbum (de 2005) até o acústico legado à posteridade em 2014, sem esquecer os compactos. Foi a oportunidade de colocar no palco músicas que não entravam no setlist há tempos.

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“‘Quem faz a América’, por exemplo, não tocávamos há anos. Achamos importante resgatar isso, era um momento também de presentear quem conhece a banda mais profundamente, tirar do baú algumas raridades empoeiradas”, acredita Del Guiducci. Quem conhece a trajetória da banda e foi ao show de gravação do disco – ou que vá comprar o DVD – vai perceber que mesmo as velhas conhecidas estão lá com uma roupagem nova. “Sempre rearranjamos as músicas ao vivo, é um hábito que temos. Nos ensaios, costumamos fuçar nos arranjos originais, mexer aqui e ali, mudar um pouquinho. O pessoal que conhece a gente mais de perto vai perceber estas nuances.” Essas reinvenções, inclusive, podem ser conferidas nos aperitivos que a banda colocou em seu canal no Facebook, com algumas das músicas já liberadas para visualização.

“Tá alto pra c@#$%&*!!! – Martiataka ao vivo” foi gravado em maio de 2016 no Cultural. Porém, ao invés de realizar a apresentação no palco principal da casa de shows, o Martiataka preferiu fazer a gravação em um palco externo, aproveitando a transição entre o final da tarde e o início da noite para fazer o registro, que tem direção de Bruno dos Santos e produção de Nando Costa e Sandro Massafera. Tudo para manter o clima que marca a maioria dos shows do grupo. “Seria mais fácil, em termos técnicos, fazer no palco interno. Mas, por mais que já tenhamos tocado tantas e tantas vezes ali, com toda aquela estrutura maravilhosa de som e luz, não é a nossa realidade na cena independente. Nossa realidade são os bares pequenos, os palcos baixos, os tetos baixos, os inferninhos, os clubes, as cervejas se espatifando em nossos equipamentos. Fazer diferente disso, com uma superestrutura, não seria fiel a nossa realidade. Não quisemos fazer nada especial: quisemos registrar o que é um show do Martiataka o mais próximo do que ele é em qualquer lugar, apesar do ambiente controlado, mas sem perfumaria, sem maquiagem. Nosso único luxo foi fazer no crepúsculo: queríamos aquela aura dos grandes shows dos anos 70 que alimentaram nossa imaginação como fãs.”

Essa opção por manter o clima mais “pé no chão”, ainda que com uma estrutura melhor, terminou no clima “alguns feridos, mas salvaram-se todos”. Ou seja: pôde ser considerado um sucesso. “Acho que a grande surpresa foi não ter dado muito pau no equipamento! Porque pra tocar 23 músicas, com uma cacetada de gente envolvida, é tanto cabo que pode dar defeito… e só tivemos que refazer uma única música, ‘Diabo de mulher’, porque meu microfone deu pau e não gravou nada. E uma hora que uma potência lá queimou, não aguentou a pressão! Tivemos que esperar uns minutos para trocar. Mas foi melhor do que esperávamos”, relembra. “Ah, e o pessoal pedindo para tocar músicas que não tocamos no final foi muito legal. Voltamos ao palco e tivemos que tocar, mas as câmeras já não estavam registrando. Temos o áudio, talvez façamos algo com isso futuramente”, completa Del Guiducci.

Quinze anos passados a limpo

Capa do DVD 'Tá alto pra c@#$%&*!!! - Martiataka ao vivo'
Capa do DVD ‘Tá alto pra c@#$%&*!!! – Martiataka ao vivo’

W. Del Guiducci comenta, ainda, como o DVD serve para sintetizar os 15 anos do novo debutante do rock. “Sintetiza através do registro das músicas, das canções em si. Visualmente, o que se tem ali é uma das encarnações do Martiataka, banda que ficou junta por dois anos carregando um legado que é anterior a ela. E que seguirá em frente, sabe-se lá até quando e com que formações” diz o vocalista, que tem em mente, ainda, o simbolismo de gravar uma obra audiovisual que preza pelo esmero artístico.

“O DVD prova que não é necessário contrato com gravadora ou estar na grande mídia para consolidar uma carreira. Gravamos 23 músicas e deixamos mais que isso de fora. Gravamos nossa primeira demo há 15 anos. Agora são quatro álbuns, dois compactos, um DVD… mais de 50 músicas. O DVD mostra que já deixamos uma obra bastante consistente não como ‘banda independente’, mas como ‘banda’. Ponto. Tem muita banda ‘grande’ que afunda muito antes disso. E muita banda ‘pequena’ que se recusa a fazer música se não for para ser superstar, que quer fazer sucesso, e não fazer música”, critica. “É banda que não quer sujar a mão, tocar em lugar pequeno, não quer carregar caixa de som, dividir equipamento com outras bandas. Então, acabar é muito fácil. Mas as pessoas continuam a sair de suas casas para nos ver, então acho que conseguimos nos manter interessantes de alguma forma. Quando deixarmos de ser interessantes para as pessoas, passaremos a régua. E isso não será agora.”

Prova disso é que o Martiataka continua lida, e vai promover o trabalho no esquema “vá ao show, compre o DVD”. “Fazemos isso desde 2005 e já esgotamos uns quatro mil discos”, destaca. E ainda tem mais: segundo Guiducci, o Martiataka trabalha em novas músicas desde o final de 2016. “O pessoal não aguenta ficar muito tempo sem compor. Passando este lançamento, vamos começar a nos dedicar mais sistematicamente a um novo disco. Teremos novidades em breve”, promete.

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• MARTIATAKA

Lançamento do DVD “Tá alto pra c@#$%&*!!! – Martiataka ao vivo”
Sábado, às 19h, no Bar da Fábrica (Praça Antônio Carlos s/nº)

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