Renato Teixeira fala sobre a turnê Tocando em Frente

Cantor e compositor vem a Juiz de Fora com os amigos (e vizinhos) Sérgio Reis e Almir Sater para show neste sábado (30), no Terrazzo


Por Júlio Black

29/09/2017 às 07h00- Atualizada 29/09/2017 às 08h01

Sérgio Reis, Almir Sater e Renato Teixeira iniciaram em maio a turnê ‘Tocando em frente’. (Foto: Eduardo Galeno/divulgação)

Nestes tempos em que o sertanejo se aproxima cada vez mais do asfalto e dos temas urbanos, os clássicos do gênero mantêm seu espaço no imaginário popular graças a três dos principais nomes ainda em atividade no país. Amigos há muitas décadas, e também vizinhos, Renato Teixeira, Sérgio Reis e Almir Sater reuniram os sucessos de seus repertórios na turnê “Tocando em frente”, que neste sábado (30) chega a Juiz de Fora com a apresentação marcada para as 21h no Terrazzo.

A turnê, que vem rodando o país desde maio, é vista como uma celebração da genuína música sertaneja e a carreira dos artistas e tem em seu repertório músicas marcantes como “Romaria”, “Panela velha”, “O Rei do Gado”, “Trem do Pantanal”, “Chalana”, “Frete” e “Tocando em frente”. Eleito o “porta-voz” do trio segundo Almir Satter, Renato Teixeira foi entrevistado por e-mail pela Tribuna esta semana e falou sobre o espetáculo, a amizade entre os três, a longevidade dos clássicos sertanejos, o panorama atual da música, entre outros temas.

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Tribuna – Você e o Almir Sater fizeram uma turnê juntos; depois, topou gravar o “Amizade sincera” com o Sérgio Reis. Como surgiu a ideia de fazer esse “O grande encontro do sertanejo” entre os três amigos?
Renato Teixeira – A ideia veio de forma natural. Nessa última década, eu, Sérgio e Almir tivemos uma aproximação profissional ainda maior. Eu fiz as duas edições do “Amizade sincera” com o Sérgio e trabalhei no primeiro disco com o Almir, os dois projetos renderam Grammy. Quando eu e o Almir fizemos o primeiro CD juntos, pensamos em como seria um show dos três, e desse pensamento surgiu a grande ideia que deu origem ao “Tocando em frente”.

Os três são grandes amigos há anos, inclusive vizinhos. Como é levar essa amizade para o palco?
É muito especial. A intimidade faz com que o trabalho fique ainda mais prazeroso, porque eu sei o que o Almir e o Sérgio gostam, e eles sabem o que eu gosto e o que eu quero. Dividir o palco com eles também deixou nossas amizades ainda maiores, nessas décadas dividimos todos os tipos de experiência, mas essa de estarmos os três no mesmo show foi nova para nós. A amizade não é só entre nós que somos os artistas, mas também com nossa equipe, que é supercompetente e faz tudo com o carinho que tratamos o “Tocando em frente”.

Como se deu a escolha do repertório?
Nós queríamos fazer uma espécie de curadoria da música caipira, colocamos então os clássicos que marcaram as três carreiras e alcançaram o público nas suas respectivas épocas. O repertório foi desenhado com a intenção de que as pessoas escutem músicas que tiveram e ainda têm certa relevância, para que percebam que a música caipira também é atemporal e tem sua contribuição para a música brasileira. Quisemos também resgatar um aspecto emocional, que é algo que não vemos muito hoje em dia na música atual.

Parte das canções do show são clássicos do sertanejo que permanecem na memória do público há décadas. Ao mesmo tempo, acredito que há uma nova geração que comparece aos espetáculos e sabe as músicas de cor. A que você credita essa longevidade? E qual a sensação de saber que essas músicas conseguem ultrapassar a barreira das gerações?
A longevidade se deve pelo fato de que tudo o que fizemos e fazemos até hoje vem do coração, tem a nossa verdade e tem sentimento. Esses aspectos independem de época para terem vida eterna. Também teve o fator sorte, quando Elis gravou “Romaria”, a minha carreira começou a ter um alcance muito maior, e isso foi um incentivo para eu continuar cantando a minha verdade. A sensação de saber que essas músicas conseguem ultrapassar a barreira das gerações é de satisfação, porque conseguimos atingir o nosso objetivo como artistas, o show do “Tocando em frente” é uma das formas que encontramos para celebrar isso.

Ao mesmo tempo, você concedeu uma entrevista em abril em que falava da banalização da música, que ela perdeu força política, que temos um mercado culturalmente pobre. A que se deve esse panorama que você observa? Falta de criatividade? Um mercado fonográfico que dá as costas aos talentos? Ou o público, em sua maioria, tornou-se menos exigente?
O mercado fonográfico passou por muitas transformações, o lucro que um artista pode trazer fala mais alto do que a capacidade que ele tem para fazer um trabalho que seja de grande contribuição artística. Grande parte do público é moldada com aquilo que é passado pela mídia, que tem o poder de ditar tendências. Porém, esse cenário está mudando. Com a internet, as pessoas estão começando a procurar por aquilo que querem escutar e acabam incorporando em si novas referências. Tem muito artista criativo esperando para ser descoberto.

Como você observa o cenário musical sertanejo em particular? Sabemos que não há espaço, hoje, para a tradição de um Tonico e Tinoco, Pena Branca & Xavantinho. O sertanejo piorou ou é apenas uma mudança no estilo em relação aos novos tempos, mais urbanos que rurais?
Não posso dizer se está melhor ou pior, isso é uma questão de gosto pessoal. É um fato, porém, que o aspecto rural do sertanejo foi substituído por temáticas e visuais mais urbanas. O sertanejo que está em evidência agora, que conhecemos como sertanejo universitário, é mais pop e mais moderno.

O que você ouve de novo que desperta seu interesse? Há algum compositor que gostaria de gravar?
Há alguns meses eu revisitei uma faixa que compus há muito tempo com a Mustache e os Apaches, o som deles é muito legal.

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Nós já tivemos artistas engajados, com letras políticas fortes, principalmente na época da ditadura. Hoje vivemos um momento político terrível, de corrupção desenfreada, falta de confiança e até mesmo ojeriza à classe política. Por que não vemos uma nova geração musical decidida a ser a porta-voz do século XXI?
Porque a música não é apenas manifestação artística, o momento em que vivemos também influencia muito na cultura. Muito do que está em alta atualmente, do que está sendo consumido e a forma como está sendo consumido é manifestação do que estamos passando. São os padrões sociais retratados na música.

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