Cia. Santa Corja aborda feminismo e racismo na estreia de “Sobre Capitu”

Segundo espetáculo do grupo é uma adaptação livre do clássico “Dom Casmurro”, de Machado de Assis


Por Julia Campos, estagiária sob supervisão da editora Isabel Pequeno

28/04/2018 às 07h00

Tainá Neves dá vida a uma Capitu negra para falar sobre racismo e feminismo (Foto: Kaio Lara/Divulgação)

“Capitu, apesar daqueles olhos que o diabo lhe deu… Você já reparou nos olhos dela? São assim de cigana oblíqua e dissimulada”. Assim Machado de Assis concedeu a mais conhecida descrição de uma de suas mais famosas personagens, Capitu, da consagrada obra “Dom Casmurro”. A questão central do romance do século XIX, que gera debates até os dias atuais, é se Capitu traiu ou não Bentinho, e Machado não deixou respostas. A sentença fica por conta de cada cabeça. Mas essa discussão não é, nem de perto, o ponto central da adaptação livre “Sobre Capitu”, feita pela Cia. Santa Corja para o teatro, que estreia sábado (28), às 19h30, no Museu Ferroviário.

O diretor da peça, e também ator da Santa Corja, Gabriel Bittencourt, conta que o projeto era um desejo antigo dele, motivado pela falta de espaço para Capitu “defender sua verdade”. “A Capitu nunca teve voz na história, e as pessoas nunca se importaram com isso. Liam a história e aceitavam aquilo como uma verdade absoluta”, conta. Além de resgatar o contexto histórico e o papel da mulher na sociedade daquela época, o espetáculo debate questões presentes em nossos dias, como machismo, cor da pele, classe social e sexualidade.

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A atriz Tainá Neves interpreta a personagem central. “A Capitu do Machado era escrita na visão do Bentinho, do Dom Casmurro. A nossa Capitu é o que ela pensa, o que ela vê sobre as situações que passou. A função da peça é lutar contra o machismo, o racismo, é um grito de denúncia. Uma voz de alguém que foi o tempo inteiro julgada e agora tem seu direito de fala. O espetáculo mostra claramente toda a opressão que muitas mulheres sofreram e ainda sofrem até hoje, por conta de um patriarcado, por causa da violência, tanto física quanto psicológica, abuso… mostra um Bentinho que era opressor”, conta Tainá, que dá vida a uma Capitu negra.

Trabalho autoral

“A gente quer que o nome da companhia seja vinculado a um trabalho autoral, estamos sempre trabalhando com coisas que a gente escreve. ‘Sobre Capitu’, apesar de se tratar de um clássico, tem a nossa visão. Nós escrevemos uma boa parte da história”, destaca Gabriel Bittencourt.

A Companhia Santa Corja está comemorando um ano em abril. A estreia foi com a comédia “#trintei”. “Emendamos no segundo projeto “Sobre Capitu”, que é uma outra vertente e envolve tudo, um pouco de comédia, um pouco de drama e romance”, conta o diretor da peça. Para comandar o espetáculo, Gabriel recebe o apoio do assistente de direção Rafael Coutinho. O grupo é formado pelos atores Tainá Neves, Kaio Lara, Gabriel Bittencourt, Lucas Nunes, Rafael Coutinho e Izabela Fidelis.

“Sobre Capitu”
Estreia neste sábado (28), às 19h30. Em cartaz dias 29/4, 4/5, 5/5 e 6/5, às 19h30 e 20h30 (exceto dia 4), no Museu Ferroviário (Avenida Brasil 2.001 – Centro). 3690-7055. Classificação: 12 anos

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