O papo sério de Paulo Gustavo, que traz “Filho da mãe” a JF

Um dos maiores nomes do humor brasileiro contemporâneo, Paulo Gustavo apresenta-se em Juiz de Fora ao lado da mãe, Déa Lúcia, no novo espetáculo “Filho da mãe”


Por Mauro Morais

26/04/2019 às 21h20- Atualizada 26/04/2019 às 21h35

Um dos maiores nomes do humor brasileiro contemporâneo, Paulo Gustavo apresenta-se em Juiz de Fora ao lado da mãe, Déa Lúcia, no novo espetáculo “Filho da mãe” (Foto Divulgação)

Antes uma caricatura, a mãe ganhou formas reais. Se em “Minha mãe é uma peça” Paulo Gustavo era a própria mãe, passados mais de 12 anos da estreia do espetáculo que o tornou conhecido do grande público, ele agora é o filho. Em “Filho da mãe”, show que o ator e comediante traz a Juiz de Fora neste sábado (27), às 21h, no Terrazzo – Centro de Eventos, a protagonista é Déa Lúcia, a inspiração para sua célebre dona Hermínia. No palco, Déa expande a personagem e expõe as raízes do filho. Juntos, eles conversam, fazem graça e revelam a convivência que fez brotar a criação de mulheres tão fortes quanto hilariantes. Também cantam, de “O barquinho”, de Roberto Menescal e Ronaldo Boscoli, a “Bang”, lançada por Anitta, acompanhados pela banda formada por André Siqueira (percussão) Claudio Costa (guitarra), Marcelo Linhares (baixo), Mauricio Piassarollo (teclado) e Wallace Santos (bateria).

Sucesso na telinha, em programas como “220 volts” e “Vai que cola”, e também na telona, em filmes como “Minha vida em Marte” e a sequência “Minha mãe é uma peça”, que ganha seu terceiro filme este ano, Paulo Gustavo começou sua carreira artística nos palcos – com a peça “Surto”, de 2004 – e dele não se distancia. “Filho da mãe”, antes de uma reverência à figura materna, é um reencontro com o passado, quando via a mãe fazer dinheiro cantando nos palcos de Niterói, onde o novo espetáculo fez sua estreia no último dia 6, com a casa lotada. Déa Lúcia, nas lembranças do filho, se virava como podia e estava sempre às voltas com algum trabalho. Isso o filho também aprendeu. Por áudio de Whatsapp, nas brechas da gravação da sétima temporada de “Vai que cola”, o ator responde às perguntas da Tribuna, numa simpatia que transborda de suas criações. “A função do artista é conscientizar, é sensibilizar, fazer refletir, incomodar”, pontua o artista, que faz rir e também emociona no espetáculo em que reúne criadora e criatura.

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Tribuna – Sua mãe é uma referência muito grande na sua vida e no seu humor. Quando percebeu que ela era uma pessoa engraçada?
Paulo Gustavo – Minha mãe, com certeza, é uma referência para mim e sempre foi. Minha mãe é muito divertida. As mulheres da minha família são muito engraçadas, caricatas, para fora, extrovertidas. Na verdade, em ‘Minha mãe é uma peça’ eu me inspirei na minha mãe, mas é um misto de coisas que vivi dentro daquela família cheia de mulheres. Minha mãe sempre foi batalhadora e é uma inspiração para mim não só na comédia, mas também como mulher, guerreira, que se virava nos 30, fazendo mil coisas para sustentar eu e minha irmã. Ela sempre foi muito divertida. Um dia resolvi escrever uma peça, brincando com os trejeitos dela, o jeito dela de falar, lidar com as coisas, o olhar para a vida.

Como sua mãe te influenciou musicalmente? Quais músicas se recorda de ouvir com ela?
Ela cantou na noite e sempre músicas de qualidade: Noel Rosa, Ary Barroso, Vinicius de Moraes, Chico Buarque, Toquinho, tanta coisa legal. Escutei ela cantando tudo isso e fiquei com ouvido bom para música. Daí nasceu essa ideia de fazer esse show para eu cantar com ela. Não sou cantor, mas sou afinado. O show está muito divertido, engraçado, musicalmente bem rico, está chique. O cenário é do Ze Carratu e a direção musical é do Zé Ricardo, um cara megainteressante, inteligente, amigo meu e parceiro, já fez trilha sonora para filme meu e cuida do palco Sunset do Rock In Rio. Só tem gente top: a luz é do Marcos Olívio, e a direção vocal é da Fátima Regina, uma grande cantora de Niterói, que já fez uma carreira bem sólida pelo país. Estamos cercados de gente legal nesse espetáculo e de histórias divertidas, vividas por mim e por ela. É um espetáculo cheio de memórias. Estamos amando fazer, e o público está se divertindo muito. Estamos muito felizes, emocionados e orgulhosos.

Dona Déa Lúcia cantou por um tempo. Guardava um fascínio por aquela vida de artista?
Minha mãe cantou para sustentar a gente, durante uns 20 anos. Eu achava o máximo. Ela é muito talentosa, mas a música para ela sempre teve uma urgência. Ela sempre cantava na urgência de levar dinheiro para casa, então não teve a calma que um artista tem para escolher os projetos, as músicas, as parcerias. Ela acabou não seguindo a carreira, e é por isso que estamos no palco juntos, agora. Eu quis realizar esse sonho dela. Ela ama cantar, estar no palco. Para mim, é muito importante homenageá-la.

Vocês falam de feminismo e homofobia em cena. Como humorista e como artista sente-se com a responsabilidade de conscientizar as plateias?
A função do artista é conscientizar, é sensibilizar, fazer refletir, incomodar. A arte tem essa função. Para muitos aquilo ali é um momento de reflexão, para outros, um momento de incômodo. Se a gente fizer alguém se emocionar, está lindo, está valendo. Se fizer alguém se incomodar, também está valendo. Levo isso para todos os meus personagens. Minhas experiências com a arte está nesse lugar de querer criticar algo e refletir. A Dona Hermínia toca nesse assunto, os personagens do ‘220 volts’ tocam nesse assunto e eu toco nesse assunto na minha vida. Não sou militante, ativista, mas sou um ser político. Sou casado, gay assumido e faço programas para todas as idades e acho que a gente acaba transformando as pessoas através das nossas atitudes. Sempre persigo isso. E nesse espetáculo, mais uma vez, a gente fala sobre assuntos sérios com o coração, usando o viés do humor. O espetáculo tem uma pegada divertida, musical, emocionante e política, nesse sentido.

Enxerga limites para o humor? O que te inspira, hoje, a fazer humor?
Acho que o limite do humor está muito no bom senso de cada um. Ainda mais hoje, que vivemos essa patrulha, que acho superimportante para a gente dar uma freada, porque a coisa estava indo muito aberta, desvairada. Sempre nos meus textos tento pensar se estou ofendendo alguém, se posso ofender alguém, até que ponto posso ir numa piada e se vou estar pegando muito pesado. Existe uma linha muito tênue entre brincar, criticar e debochar e ferir. Não estou dizendo que nunca vá fazer isso. Pode ser que algum dia eu me perca e, sem querer, ofenda alguém. Mas aí a gente pede desculpas e volta. A gente está vivendo um momento como ser em constrição, estamos ganhando consciência e aprendendo a cada dia que passa. Sempre tento usar minha sensibilidade para escrever meus textos e fazer meus personagens. Não gosto de fazer humor que fica difamando imagem, sacaneando. Gosto de combinar o que vou falar com meus amigos em cena. Fico com o olhar mais atento e crítico para dar tudo certo. Existe uma patrulha grande, mas que acho importante. É difícil criticar ela, porque é relevante ter já que tem gente que perde a mão. Muita gente perde a mão.

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