Com a alma lavada e enxaguada


Por Regina Campos

25/02/2017 às 13h49- Atualizada 25/02/2017 às 16h42

Não há chuva que possa acabar com uma tradição. Apesar do aguaceiro que atrasou o início do desfile, a Banda Daki comemorou seus 45 anos de carnaval neste sábado, levando milhares de foliões para as ruas de Juiz de Fora. Como acontece todos os anos, a festa foi comandada pelo general da banda, Zé Kodak, que foi acompanhado por foliões já tradicionais do evento e outros tantos que estavam ali para se divertir no carnaval.

Ainda pela manhã, o povo foi chegando aos poucos na concentração, no Largo de São Roque, com o sol aos poucos sendo escondido pelas nuvens. Ainda sem música, não faltava animação e expectativa entre os foliões, alguns deles já conhecidos por marcarem presença todos os anos. Era o caso da Musa da Banda Daki, Elizabeth Ank. “É muita emoção participar da banda, o pessoal precisa de alegria, se descontrair”, disse. Novamente vestido como o personagem Kiko, da série de televisão Chaves, Gilberto Mateus atendia a todos que pediam para fazer uma foto com ele. “Vamos até o final da festa, o tempo está gostoso, com muita segurança, hoje é dia de festa”, sentenciou, recebendo o apoio de Roberto Matos, que há 25 anos desfila fantasiado como o personagem Mr. Bean. “Vamos participar dos desfiles até quando der.” Outra figura conhecida, a Ana da Banda Daki, se divertia com sua fantasia que misturava adereços de palhaço de circo e Carmen Miranda.

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E não faltou criatividade entre os fantasiados do sábado. Márcio Cândido, 64 anos de vida e 44 de Banda Daki, estava vestido de carrasco e carregava um tucano em uma gaiola. “Todo ano faço uma sátira política com minhas fantasias, e este ano vim de carrasco para tucano já que ele nunca é preso no Brasil”, critica. “Mas daqui a pouco o Ibama manda soltar”, brinca. Por sua vez, Wagner Dose, 57 anos, fez sua homenagem ao Rei do Rock fantasiado de Elvis Presley em sua fase Las Vegas. “É para lembrar os 40 anos de morte dele, que serão completados este ano.”

Não poderiam faltar, claro, os super-heróis – e alguns deles cercados por vilões. Foi o caso da família Oliveira, que há 15 anos marca presença na Banda Daki. Cirlei Oliveira, 40 anos, estava fantasiada como a maliciosa Mulher-Gato ao lado do namorado Davi Teixeira, 30 anos, que vestia o uniforme do Batman. No colo de Cirlei vinha a pequena Maya, de 2 anos, de Mulher-Gatinha, enquanto os “Coringas” Santiago, Maria Antônia e Ana Maria completavam a “equipe”. “É uma reunião de família para se divertir no carnaval, nós só desfilamos na Banda Daki”, diz Cirlei. Outros “heróis” que marcaram presença são o casal Adriene Orsay, 45 anos, e Alexandre Menigatti, 47, que há 14 anos renovam os votos de casamento participando da banda, sempre fantasiados de super-heróis – neste ano, de Mulher-Maravilha e Superman. “Toda mulher quer ser uma Mulher-Maravilha, todo homem quer ser um Super-Homem. É preciso ser um herói para enfrentar o dia a dia, e nada melhor que se inspirar nos heróis de nossa época”, comenta Adriene.
General da banda desde 1979, Zé Kodak andava de um lado para outro vendo os ajustes finais, sendo cumprimentado por inúmeras pessoas e ansioso pelo início de mais um desfile, principalmente em uma ocasião tão especial. “É muito bom comemorar 45 anos de algo que começou como uma festinha de quatro ou cinco amigos estudantes em 1972, jamais imaginava que chegaria a algo tão grande assim. É uma festa do povo, cada hora você vê alguém fantasiado, e a imprensa também foi essencial para esse sucesso. Só peço a Deus para continuar aqui, para mim 45 anos é pouco”, sentencia Zé Kodak, lembrando que vai aproveitar o carnaval até o fim em outras cidades da região.

Chuva atrasa a folia
A festa, porém, teve um imprevisto. A chuva forte que caiu durante meia hora a partir do meio-dia atrasou o cronograma do desfile e dispersou o público, que correu para as poucas marquises na área e por lá se espremeu, se bem que havia alguns poucos corajosos dispostos a se ensopar no toró só para garantir a cerveja.

Com isso, a cerimônia da entrega das chave da chave da cidade ocorreu apenas um pouco antes das 13h – desta vez, porém, o prefeito Bruno Siqueira (PMDB) fez a entrega para o Rei Momo Eduardo Rodrigues dos Santos. O público, aos poucos, foi se reunindo ao redor do trio elétrico, que iniciou as atividades às 13h com o “Parabéns pra você”. O “esquenta” durou cerca de meia hora, e aos poucos a Banda Daki foi descendo a Avenida dos Andradas até a Rio Branco, com os foliões dançando e cantando sambas enredo clássicos e marchinhas como “Jardineira”, “O teu cabelo não nega”, “Mulata Bossa Nova”, “Me dá um dinheiro aí”, “Aurora” e muitas outras.

O prefeito Bruno Siqueira e o superintendente da Funalfa, Rômulo Veiga, fizeram um balanço positivo do Corredor da Folia em 2017. “Nós antecipamos há alguns anos o carnaval a pedido da Liga Independente das Escolas de Samba, e o resultado tem sido positivo. Os blocos foram um sucesso, os desfiles das escolas de samba também. Agora, vamos ver com a Polícia Militar para não termos no ano que vem os problemas observados com os blocos irregulares”, disse Bruno. “Ficamos felizes com o resultado. Tivemos mais de cem eventos na cidade, mais de 60 blocos, a volta dos desfiles das escolas de samba foi aprovada em seu novo formato (o desfile este ano aconteceu pela primeira vez no Parque de Exposições). Esperamos fazer ainda mais nos próximos anos, e que tenhamos o povo sempre brincando com alegria e responsabilidade, que é o mais importante”, destaca Rômulo Veiga, em seu primeiro carnaval à frente da Funalfa.

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